—Querido, eu vim saber o que achou do quarto...?
—Disse Dona Anastácia na porta, antes de se aproximar de Cláudio, que estava focado na frente da estante dos livros, ao lado de Maria e Alice.—Dona Anastácia, eu adorei! —Cláudio respondeu virando-se para ela com os olhos brilhando de felicidade.
—Principalmente os livros que tem aqui!Anastácia deu um sorriso, tocando-lhe no rosto delicadamente.
—Eu sabia que ia gostar! Por isso pedi a Maria que arrumasse esses aqui para que pudesse ler.
—Disse ela delicadamente, recebendo um abraço de agradecimento do menino.***
—Ahh, meu filho... como eu fico feliz em ver que já está a aposentar as moletas!
Falou Dr. Araújo com um largo sorriso, ao ver o filho se aproximar, sob o olhar atencioso de Dona Anastácia, que o ajudou a sentar-se ao lado do pai.
—Dói um pouco, pai! Mas eu estou conseguindo!
—Eu sei meu filho. Você ainda irá muito longe! Logo vamos poder jogar futebol juntos! —Falou o homem dando um beijo no filho.
—Estou tão ansioso por esse momento, pai!
Anastácia sorriu olhando os dois e resolveu deixá-los às sós, para que pudessem ficar mais à vontade.
***
Era quase meia noite, todos já deveriam estar dormindo na casa de Dona Anastácia, mas ela ainda não havia conseguido pregar os olhos durante aquela noite. Mais do que nunca, as lembranças de Sandra em seu quarto naquela noite horrível, insistiam em pertubá-la, e ela não podia negar que havia ficado um pouco traumatizada só de pensar que o Dr. Araújo quase fora assassinado dentro de sua casa. Ou pior, em seu próprio quarto pela sua sobrinha.
Pensar naquilo era atemorizante e ela precisava esquecer, ou acabaria enlouquecendo de uma vez.
—Pensou, respirando pesado e passando as mãos entre os cabelos ao sentar-se em sua cama.—Meu Deus, eu preciso apagar essas cenas horrível da minha cabeça ou eu vou acabar ficando louca igual a Sandra.
Passou a mão no peito, levantando-se e indo até suas janelas, em busca de um pouco de ar.
O vento que soprava naquela noite era agradável, e ao sentir a brisa em seu rosto, desejou ir lá fora. Quem sabe não conseguiria tirar aqueles pensamentos ruins da mente?Não imaginava ela, que não era a única que estava acordada naquele momento.
—É a Dona Anastácia —Disse Dr. Araújo ao vê-la de sua janela.
Ela estava em pé pensativa, com os braços cruzados, e olhava em direção ao céu, observando apenas um risco da lua, que se escondia entre as nuvens escuras daquela noite.
Mas o que ela fazia sozinha no jardim a essas horas da noite?
—Pensou ele, preocupado.—Acho que eu devo ir saber se está tudo bem com ela!
—Falou saindo da janela a passos lentos, e indo vestir o seu roupão para ir até ela. Ele sabia que levaria uma bronca por fazer aquilo, mas precisava saber o que se passava, e assim o fez.Ao chegar lá fora, se aproximou devagar e o mais calmo que pôde para não assustá-la, mas ela acabou ouvindo seus passos e virou-se rapidamente, sentindo um pulo no coração.
—Doutor Araújo, o que faz aqui?
—Dona Anastácia! —Falaram juntos.
—Perdoe-me se a assustei, mas eu quem pergunto, o que a senhora faz aqui sozinha a essa hora da noite?
—E-eu estava sem sono, e resolvi descer para tomar um pouco de ar fresco aqui fora. Mas e o senhor, o que faz aqui? Esqueceu que está operado, e não pode...
—Eu sabia que ia me dar uma bronca!
—Sorriu. —Mas é que eu também não estava conseguindo dormir, e ao ver a senhora aqui sozinha, não pude evitar a preocupação.Anastácia suspirou, tentando esconder a tensão em seu rosto. Não queria contar-lhe o real motivo pelo qual havia perdido o sono, para não deixá-lo preocupá-lo.
—Está tudo bem, Dr. Araújo —Respondeu.
—Bom, na verdade estava até o senhor desobedecer as ordens do médico...
—Falou séria, porém em um tom preocupado.Ele sorriu mais uma vez do seu jeito tão cuidadoso, e aproximou-se mais dela, segurando em seu braço com delicadeza.
—Eu prometo que não irei mais desobedecer, se me contar o que estar a se passar com a senhora —Insistiu.
—Ou eu vou começar a achar que tem haver comigo...—Claro que não, doutor Araújo... já disse que não me incomoda em nada, por favor não pense isso...
—Então me diga, porque está tão preocupada? —Pediu quase em um surriso.
—Está bem!
—O olhou. —A verdade é que estou me sentindo um pouco atormentada quando lembro da Sandra, daquela noite horrível...
—Suspirou fechando os olhos tensa.
—Só de pensar que o senhor quase morreu por minha causa, eu fico...—Calma, Dona Anastácia... —Falou, tentando tranquilizá-la com um abraço.
—Eu estou aqui... não aconteceu nada comigo nem com a senhora! É isso que importa.
—A olhou entre o abraço e viu os olhos dela marejarem. —Acabou, Sandra nunca mais nos fará nenhum mal!Ao falar isso, ele levou uma mão até o rosto dela e passou delicadamente o dedo polegar no mesmo, secando uma lágrima que acabou caindo, e deixando a mulher ainda mais nervosa com tamanha aproximação.