Arrependimento

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-Se eu disser a verdade, eu serei preso no momento crucial da vida do meu filho!

-Pare de se refugiar no seu filho! Você está sendo um covarde! -Anastácia gritou.

-Tudo que eu fiz e faço é por ele, nada mais me importa!

-Se eu conseguir provar que não assinei aqueles papéis, o senhor será preso de qualquer maneira!

-Eu sinto muito Dona Anastácia, mas eu vou afirmar que a senhora assinou aqueles papéis e a senhora não terá chances de vencer esse processo!

Anastácia engoliu em seco. Como  pôde dedicar tantos anos de confiança aquele homem? -Se perguntava decepcionada.

-Dr. Araújo! - Ela o olhou com a expressão forte. -Eu lhe digo que se algo de ruim lhe acontecer, se o senhor for para cadeira, eu não irei lhe tratar da mesma forma que o Senhor está me tratando! -Suspirou forte.
-Eu virei aqui! Virei buscar o seu filho e cuidarei dele, porque ele não tem culpa do pai que tem!

Em meio aqueles pensamentos, lágrimas escorriam pela face do advogado.
Enquanto ele se encontrava alí naquela cela, arrependido, pagando por todo mal que havia feito aquela pobre mulher, ela estava cuidando de seu filho.

-Como eu pude ter traído uma mulher tão boa como Dona Anastácia? -Se perguntava. -Eu nunca vou me perdoar por isso!

***

Cláudio estava em seu novo quarto, lendo um livro, quando Dona Anastácia abriu a porta devagar.

-Desculpa interromper a sua leitura Claudinho, mas eu acho que você também vai gostar disso aqui!

-Bolo de chocolate? É o meu favorito!
-Cláudio disse animado, e fechou o livro, colocando-o ao seu lado na cama.

-Por isso mesmo eu pedi a Quitéria que fizesse especialmente para você.
-Ela disse sorrindo.

-A senhora é tão boa comigo. -A voz soou leve. -Nem parece a bruxa da Hilde, que dizia que eu era um trambolho.

Anastácia sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Como aquela mulher pôde ser tão cruel com aquela criança que só merecia amor e proteção?

-Nada do que àquela mulher disse é verdade, Claudinho! -Ela disse, se sentando ao lado dele na cama.
-Você é um menino incrível! E se eu já o admirava, agora eu o admiro muito mais!

-Eu também a admiro, dona Anastácia. -Deu um leve Sorriso. -Mas eu nem sei como agradecer pelo que a senhora está fazendo por mim.

-Cláudio, eu que nunca vou ter como agradecer a você e a Alice pelo que fizeram por mim!
Se você não tivesse invadido aquele tribunal, nesse momento eu estaria em um hospício!
-Ela suspira só de pensar.

-Quando a fadinha me disse que o meu pai iria mentir no tribunal eu fiquei tão decepcionado com ele! Eu não poderia deixar o papai mentir, por isso eu gritei que não queria um pai covarde! E agora eu estou orgulhoso dele, porque ele falou a verdade mesmo sabendo que seria preso.

-Sim, querido -Ela respondeu. -Ele também deve estar muito orgulhoso de você por ter tido tanta coragem. Por ter visto você conseguir dar os primeiros passos, ao levantar daquela cadeira tão cheio de forças!

Cláudio sorriu, ao lembrar. Nem ele sabia de onde havia encontrado tanta força. 

-Será que um dia eu vou conseguir fazer aquilo de novo?
-Perguntou um pouco desanimado. Cláudio já havia tentado tantas vezes  depois daquele dia, que já estava quase perdendo as esperanças mais uma vez.

-Claro que vai! Mas você não pode jamais desistir de tentar! -A voz soou firme.
-Eu tenho certeza de que com muita fé e força de vontade logo você estará andando!

Ela o abraçou, e Cláudio deixou cair uma lágrima. Como queria ter tido uma Mãe como Dona Anastácia. -Pensou emocionado com aquele abraço, que lhe fizera tão bem.

Depois de algum tempo se afastaram, e ela o olhou secando os olhos dele com a ponta do dedo.

-Agora coma o seu bolo, querido. Deve estar uma delícia, Quitéria tem as mãos de fada!

-Hmmm... Está mesmo Dona Anastácia! Muito bom!

Ela sorriu, o olhando comer.

***

-Boa tarde, Dona Anastácia! É um prazer revê-la.
-Dr. Dantas cumprimenta, ao vê-la entrar em sua sala.

-O prazer é meu, doutor. -O olhou. -Eu vim aqui conversar com o senhor a respeito do Dr. Araújo.

-Infelizmente ele ainda está preso!  Não sabemos até quando ele ficará na cadeia.

-Dr. Dantas, eu preciso que esse homem fique livre o mais rápido possível!
- Ela disse em um tom firme.

O advogado a olhou, e assentiu com a cabeça.

-Conte comigo, Dona Anastácia! -Respondeu. -Farei o que estiver ao meu alcance, para que ele fiquei livre, o mais rápido possível.

***

Alguns dias depois...

Cláudio estava cada vez mais ansioso para voltar a andar. Naquela tarde estava no Jardim fazendo a fisioterapia, acompanhado de Anastácia e Alice, sua melhor amiga. 
Depois de tentar dar alguns passos sem obter sucesso, Cláudio desanimou mais uma vez.

-Eu não consigo. Não consigo!

-Sim, Cláudio! Você consegue! Eu sei que você consegue!
-Anastácia falou, tentando animá-lo.

-Sim, Claudinho! Eu sou uma fada e  eu sei que você consegue!

-Como você sabe?

-Você só precisa fazer como fez naquele dia! Você não teve medo, e por isso você conseguiu!

-A fadinha tem razão, Claudinho! Vamos, querido? Mostre como você fez naquele tribunal, mostre! Você consegue! Eu sei que consegue!

Ao ouvir as palavras de Anastácia e Alice, Cláudio respirou fundo e se lembrou mais uma vez daquela cena no tribunal. De repente, seu corpo foi impulsionado por uma força tão gigantesca, que impressionou a todos naquele momento.

-Andou! Ele está andando!
-Fadinha gritou supresa.

-Isso, Cláudio! Isso!
-Anastácia falou, enchendo os olhos de água.

- Eu estou andando!
-Cláudio falava eufórico.

-Isso, meu amor! Só mais um passo! Só mais um passo! -Anastácia pediu sorrindo de felicidade

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-Isso, meu amor! Só mais um passo! Só mais um passo!
-Anastácia pediu sorrindo de felicidade.
-Muito, bem! Muito bem!

Nesse momento uma voz grave ecoou pelo Jardim.

-Meu filho! Você está andando? 

Os olhares são direcionados aquela voz.
Araújo estava estático, chorando com  aquela cena, e logo Cláudio se derrama também em lágrimas. Era muita emoção para um dia só. Anastácia também não conseguiu conter a emoção, e chorou junto.

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