—Meu Deus, isso não... não pode estar acontecendo comigo... —Anastácia se recusava a crer que Araújo tinha razão.
Se recusava a crer que seus sentimentos por ele haviam mudado, que agora já não o via apenas como um amigo, mas também como homem.
***
Durante o jantar, Anastácia tentou não deixar transparecer seu nervosismo, todos sabiam de sua aflição por Cláudio e até mesmo por Dr. Araújo, é claro. Mas jamais poderiam desconfiar de que havia uma preocupação a mais. Algo que estava tirando seu sono.
Somente Maria sabia dos sentimentos de Dr. Araújo por ela. Sabia que ele já havia lhe beijado uma vez. Ou pior, duas vezes. Mas seria incapaz de confessar que tinha acontecido outra vez, e que dessa vez fora ela quem o beijou. Por mais que confiasse em Maria, que fossem amigas, sentia-se completamente envergonhada só de pensar.
O que Anastácia não imaginava, era que durante o jantar, Maria não havia tirado os olhos dela nenhum instante, e que ao seguir para o seu quarto, ela havia a acompanhado discretamente.
Ao ouvir duas leves batidas em sua porta, Anastácia rapidamente tentou se recompor antes de voltar em direção a mesma... A voz do outro lado soou baixa, tão baixa que apenas quando Anastácia abriu a porta, teve certeza de que realmente era Maria.
Seu olhar tenso e seus lábios que se entreabriram hesitantes, lhe causou uma certa intimidação.
—M-maria — Sussurrou desconcertada. Algo dentro de si lhe dizia que não tinha sido uma boa ideia atendê-la naquele momento.
—Perdoe-me, Dona Anastácia, eu... sei que precisa descansar —Falou sem jeito —Mas eu não poderia ir dormir sem antes saber o que estar a se passar com a senhora...
Ao ouvir as palavras da moça, Anastácia ficou atônita. O que ela queria dizer com "o que estar a se passar com a senhora?"
Pensou que não era possível que se passasse na cabeça de Maria outro motivo pelo qual ela estaria mais aflita, se não os mesmos que ela já sabia.
Maria por sua vez, viu os lábios de Anastácia se entreabrirem trêmulos, e como soube que ela não seria capaz de lhe confessar nada naquele momento, disse de uma vez:
—É por causa do Dr. Araújo não é?
E realmente Anastácia não fora capaz de dizer mais nenhuma palavra. Não naquele momento.
—Creio q-que... —Falou após alguns segundos em silêncio. — estar a se referir a...ao que conversamos naquela noite... —Continuou, dando um passo para o lado, desviando-se do olhar de Maria, que se aproximou:
—Não exatamente. Sinto que há algo a mais — Anastácia sentiu o coração disparar. —Sei que está bastante preocupada com toda essa situação do Dr. Araújo, mas...eu sinto que tem algo mais grave a afligindo, e... eu confesso que estou preocupada.
Anastácia suspirou forte. Já não havia como esconder aquilo de Maria, mas como iria lhe confessar que havia beijado Dr. Araújo? Por mais que necessitasse desabafar com ela, algo em seu coração temia por sua resposta.
—Por favor —Sussurrou Maria. —Confie em mim? seja o que for... saiba que eu estarei aqui, como uma amiga... só quero que fique bem.
Maria a olhou, com esperanças de poder ajudá-la de alguma forma. A ouviu respirar fundo, antes de se virar para ela novamente.
—Não posso negar, Maria —A voz soou embargada. —Aconteceu algo muito grave.
Maria a olhou apreensiva, esperando que ela continuasse. Anastácia precisou de mais alguns segundos, e então confessou, quase em um sussurro.