Um Pedido

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-Dona Anastácia? -Disse Cláudio ao abrir os olhos rapidamente e se sentar na cama olhando a sua volta.

-Mãe?

-Meu, filho? O que aconteceu? Eu vinha ver se você já estava dormindo e acabei ouvindo você chamar pela Dona Anastácia e por sua...

-Papai, eu sonhei com a minha mãe, ela me abraçava e... e eu sentia que...

-Espera, meu filho... eu quero que me conte esse sonho com mais calma...

-Se sentou ao lado do filho, que começou a lhe contar seu sonho de forma emocionada.

...

-Meu, filho... Eu sei o quanto se apegou a Dona Anastácia durante a minha ausência... mas eu não quero que você alimente alguma esperança, de que um dia ela possa ser... a mãe que tanto deseja ter. -O olhou. -Você sabe que entre Dona Anastácia e eu... não pode existir algo além da nossa amizade.

Cláudio ficou em silêncio, ouvindo as palavras do pai com o coraçãozinho apertado.

-E além do mais, não podemos esquecer... que ela já tem uma família... e que em breve há de ir morar com eles na fazenda que comprou em Piracema. -Sentiu a voz embargar.

-Eu sei que ela nunca vai ser minha mãe. -Disse com ar triste. -Mesmo assim eu a amo como se fosse... e não queria que ela fosse embora.
-Araújo engoliu em seco. Ahh, se Cláudio soubesse que ele também a amava, e não apenas como uma amiga... se soubesse o quanto lhe doía saber que ela iria para longe deles, sem que ele ao menos pudesse evitar...

-Eu sei que não há de ser fácil, meu filho -Retrucou o pai com a voz embargada ao ver os olhos do filho marejar.
Mas ela vai precisar ir... e você terá que ser forte quando esse momento chegar.
-Cláudio deixou escapar uma lágrima e sentiu o abraço do pai, que ficou ali por longos minutos, até que o sentiu adormecer em seus braços.

Após deitá-lo com cuidado, lhe deu mais um beijo de boa noite e voltou para cama, onde permaneceu acordado por mais um longo tempo... os pensamentos mais uma vez era sua única companhia naquela madrugada fria... mas o que mais o inquietara fora aquele sonho de Cláudio.

Porque o filho sentira na mãe o mesmo abraço de Dona Anastácia e porque de repente seu rosto se transforara no dela?
Será que a sua mãe tentara lhe dar algum sinal através daquele sonho?

Não. Não poderia ser. Somente nos sonhos de Cláudio aquilo seria possível.

***

Apesar de não ter tido uma noite muito tranquila, Anastácia acabou despertando um pouco mais cedo que de costume, mas com o frio que estava fazendo naquela manhã, decidiu ficar mais um tempo na cama. Porém logo lembrou-se de Cláudio, sabia o quanto ele era sensível ao frio e precisava certificar-se de que ele estava bem.

Com o máximo de cuidado para não acordá-lo, ela se aproximou e sorriu ao vê-lo dormir feito um anjo. Ficou a observá-lo por alguns minutos, antes de voltar aos seus aposentos.

Mas chegar no corredor, se deparou com o doutor Araújo, que vinha em direção ao quarto do filho, certamente com a mesma preocupação que ela. Anastácia ao vê-lo, acabou ficando desconcertada ao se lembrar da cena que presenciara ontem a noite em seu quarto.

A reação de Araújo não fora diferente, ainda mais ao ver o quão bela ela havia acordado.

Anastácia estava elegantemente vestida em um penhoar de cor azul marinho, em um tom quase preto, com um detalhe bem delicado em renda na parte que fazia a abertura, o tecido era de ceda e marcava um pouco do seu quadril, nada vulgar, mas que a deixava extremamente bela, anda mais estando com seus cabelos soltos, algo que era raríssimo de ser ver.

-D-dona Anastácia... e-está tudo bem?
-Perguntou ele, desnorteado.

-S-sim, e-eu só vim ver como o Claudinho estava! Sei que ele é um pouco sensível ao frio e... acabei ficando preocupada, mas graças a Deus ele dorme feito um anjo -Respondeu ela, sorrindo sem jeito.

-Conhece muito bem o meu filho. -Disse ele com um leve sorriso.
-Nunca terei palavras para agradecer por tamanha proteção.

-Imagina...-Fez um pequeno gesto de cabeça. -Claudinho é muito especial para mim. É um menino adorável.
-Falava delicadamente, com ar de admiração e Araújo podia ler aquilo em seus olhos, que brilhavam sempre que ela falava de seu filho.

Aquilo fazia com que sua admiração por aquela mulher só aumentasse, mas ele sabia que o que estava a sentir por ela era algo muito mais forte que qualquer outro sentimento que já havia sentido antes por outra mulher. Seu coração disparava todas as vezes que ele a via, como um adolescente quando se apaixona pela primeira vez. Não era uma paixão avassaladora como sentira por Sandra, era algo que ia muito além do sentimento carnal, era algo que lhe tocava a alma, o mais profundo do coração... que lhe fazia se sentir feliz com o simples fato de sua existência.

Algo que ele jamais imaginou que voltaria a sentir um dia após perder o grande amor de sua vida, que fora a mãe de Cláudio.

Sem nenhuma sombra de dúvidas, ele sabia que a amava.

-A sra. também é muito especial para ele... já estou a pensar como vai ser quando...-Exitou antes de continuar:
-Quando for morar na fazenda-Sentiu a voz embargar. -Ele há de sentir muito a sua falta.

Anastácia engoliu em seco.

-Eu também vou sentir falta do Claudinho.-Disse em voz baixa, sentindo um nó se formar na garganta.
-Bem, não só dele... do senhor também, é claro -Sorriu mordendo o lábio inferior, tentando não chorar.

-Eu também -Falou quase em sussurro. -Também hei de sentir saudades da senhora.

Seu desejo era abraçá-la fortemente e pedir que ela ficasse. Queria beijá-la e dizer o quanto a queria ao seu lado.

Mas não iria voltar a machucá-la. Por mais vontade que estava de beijá-la, ele teria que ser forte ou poderia acabar perdendo a sua confiança outra vez, e isso era algo que ele não poderia arriscar.

—Eu vou te fazer um pedido, doutor Araújo. Muito importante —Segurou na mão dele.

—S-sim, Dona Anastácia?
—Respondeu olhando para suas mãos unidas.

—Sei que ainda não está preparado...
Mas futuramente há de precisar de uma companheira que o ajude a cuidar de seu filho... —Araújo engoliu em seco.
—Não falo só por ele. O senhor ainda é um homem jovem... um homem bom que merece ser feliz!
Por isso eu te peço? Case-se com uma boa mulher?

Araújo sentiu de verdade uma dor terrível, que parecia esmagar seus pulmões. Nem Sandra havia conseguido lhe causar tanta dor ao enfiar aquela tesoura em seu peito.

—Como pode achar que eu poderia ser feliz ao lado de outra mulher, se é a senhora que eu amo? —Disse ele, tentando disfarçar a dor que estava no peito.

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