Despedida

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—E-eu gostaria de saber se...  —A voz saiu embargada. —se podemos conversar um minuto.

Anastácia permaneceu em silêncio por um instante, com os braços cruzados, olhando a parte exterior da janela. Segundos depois se aproximou devagar.

—Confesso que... me sinto envergonhado diante da senhora —Disse ele, apoiando as mãos por trás da cadeira na frente da mesa.

—Não é diante de mim que deve se envergonhar. —Disse ela, com uma nota de decepção na voz. —E sim do seu filho. Ele não merecia presenciar uma cena tão desagradável.

Araújo abaixou o olhar envergonhado, e a ouviu continuar:

—Eu não consigo entender como foi capaz de fazer isso... como não pensou que poderia fazer o seu filho sofrer outra vez? —A voz soou calma, porém estava séria.

—Eu juro que jamais se passou pela minha cabeça que isso acabaria acontecendo.

—Por favor... O senhor estava indo pra cama com a Sarita e vem me dizer que não esperava que isso pudesse acontecer?

—Não é o que está pensando! O que aconteceu foi apenas... foi apenas um momento de fraqueza! —Tentou se defender. —E-eu posso explicar o que aconteceu.. 

—Não é necessário me explicar nada —Disse ela com a voz controlada, mas levemente ríspida. —Aliás, eu não tenho nada haver com a sua vida íntima.

Araújo sentiu mais uma pontada no peito. Se Anastácia já não acreditava em seu amor por ela, depois daquilo seria impossível provar.

—Eu só espero que o senhor assuma essa responsabilidade, que cuide dessa criança que não tem culpa alguma do que aconteceu

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—Eu só espero que o senhor assuma essa responsabilidade, que cuide dessa criança que não tem culpa alguma do que aconteceu.

Ele engoliu em seco, sentindo como se algo lhe rasgasse o peito. Sarita havia conseguido destruir sua vida.

***

Anastácia sentiu um nó se formar na garganta, ao ver seu motorista descer com as coisas de Araújo e Cláudio. Logo em seguida os dois desceram juntos. Alice, que até o momento não estava sabendo de nada, ao ver a cena correu para se despedir do amigo, lhe dando um forte abraço. Nesse momento Anastácia engoliu em seco. Não, não poderia chorar ali, diante deles. Quitéria e Maria que olhavam a cena tristes, também se despediram do menino e do pai. Após Alice se afastar, Cláudio viu Anastácia se aproximar dele.

Tocando levemente em seu rosto, ela lhe pediu para que fosse forte, antes de lhe dar um longo abraço.

—Vai ficar tudo bem, tá bom? —Sussurrou entre o abraço, acrescentando mais algumas palavras positivas de forma amorosa, enquanto Araújo os olhava com o coração dilacerado.

Minutos depois, Anastácia se afastou e sentiu alguém parado atrás dela. Ao se virar se deparou com Araújo, que a deixou desconcertada.

—Eu não poderia ir embora sem antes... te agradecer por tudo. —Anastácia balançou a cabeça de leve, sinalizando que não tinha nada para agradecer.
—Jamais terei como retribuir tudo que fez. E-eu espero que... que possa me perdoar pelo que aconteceu hoje em sua casa... e que depois disso possamos...  c-continuar amigos.

Ela ficou em silêncio por um instante, sem saber o que dizer naquele momento. Não podia negar que estava desapontada, mas para não deixar transparecer na frente de Cláudio, segurou a mão dele ao falar:

—Vamos tentar esquecer o que se passou aqui —A voz soou baixa. Ela então suspirou pesado, e tomando coragem, o olhou nos olhos ao lhe pedir:

—Eu desejo que fique tudo bem —Falou com sinceridade. —Que o senhor se cuide. Que cuide do Cláudio —Sentiu a voz embargar.

—Eu prometo —Sussurrou ele. —Prometo que ninguém há de fazer nenhum mal ao meu filho! —Sentiu os olhos marejar e rapidamente disfarçou. —Bem, vamos, meu filho? Alice há de ir visitá-lo mais tarde, não é Alice? —Disfarçou um sorriso, tentando amenizar aquele clima tenso.

—Sim! —Respondeu a garotinha rapidamente.
—Confesso que já estava com saudades de  brincar no jardim de sua casa. É tão lindo que até parece o jardim encantado do livro.

Anastácia e Araújo sorriram, não tão largo quanto o de Maria e Quitéria, mas ao menos não fora tão doloroso sorrir naquele momento.

—A senhora também vai me visitar como fazia antes?

—Meu filho... não fique incomodando a Dona Anastácia... já lhe demos muito...

—Que isso... nunca foi nenhum incômodo para mim visitar você, Claudinho... —Falou delicadamente, tocando o rosto dele delicadamente.
—Eu irei sim, querido, não se preocupe.

Araújo sorriu triste, antes de partirem.

***

Assim que se encontrou sozinha em sua sala, Anastácia suspirou fundo, sentindo o vazio que ficou na casa. O coração apertava de aflição ao pensar em Cláudio. Como temia que ele sofresse tudo de novo. Talvez Sarita não fosse tão má quanto Hilde, mas quem poderia garantir que Cláudio estaria seguro em suas mãos?

—Meu Deus... o que será de Claudinho... ? —Pensou com angústia.

                            ༺༻

—Sarita? O que está fazendo aqui?

—Senhor, me desculpe... eu tentei evitar que ela entrasse na casa, mas ela não me deu ouvidos. —Disse Antônia, a antiga cozinheira da casa.

—Não combinamos que por enquanto você ficaria na pensão?!

—Mas eu resolvi mudar de ideia... —Respondeu Sarita descaradamente, sentando-se no sofá na sala. —Na pensão eu não ficaria tão à vontade como aqui... de qualquer forma... esse será meu lar a partir de hoje...

—Pai, eu não quero! Não quero que a Sarita volte a morar aqui!

—Meu filho, eu...

—Como pode ser tão cruel comigo...? —Interrompeu Sarita, se levantando com a mão na barriga. —Eu estou grávida do sei pai! Esse filho que carrego em meu ventre é seu irmão!

Há de rejeitá-lo?














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