trinta e dois: maestro

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Taehyung havia buscado Jeongguk na casa de Jihyun para darem um passeio de carro. Desde que lhe avisara sobre o plano até o momento em que estacionou em frente à casa, o mais novo tinha experienciado uma ansiedade fora do normal, mas que sua racionalidade sabia exatamente de onde vinha — da última conversa que haviam tido pessoalmente, poucos dias antes, quando o escritor lhe dissera que desejava ser carinhoso e cuidadoso. Ouvi-lo dizer que gostaria de fazer absolutamente tudo por ele tinha preenchido momentaneamente um vazio em Jeongguk, mas conforme os dias passaram e Taehyung voltou a se distanciar e permanecer em silêncio, o jovem musicista tinha sentido aquele vazio crescer outra vez, espiralado, tomando-o como um vórtice de água violento por todos os lados de seu ser. Distrair-se com Min Yoongi não era mais suficiente para o vazio que Taehyung lhe causava. Era como se toda vez que se falassem e se encontrassem, o mais velho levasse consigo um pedacinho seu, deixando-o cada vez mais incompleto e ansioso, e vê-lo outra vez não era suficiente para integrar a parte que faltava. Por isso, quando recebeu a mensagem de Taehyung, dizendo que sentia saudades e queria vê-lo, Jeongguk não pôde deixar de sentir o êxtase preencher seu corpo rapidamente, mas diminuir drasticamente e deixá-lo em abstinência a cada segundo que se arrastava até que Taehyung estivesse finalmente à sua frente.

— Você parece um idiota esperando na janela... — Jihyun revirou os olhos ao vê-lo sentado nos sofás, na exata localização onde conseguia ver qualquer carro que chegasse. O filho não a respondeu, nem sequer moveu o olhar para ela. A mãe, por sua vez, sentou-se em uma poltrona e se pôs a ler. Em algum momento, ela levantou a cabeça para ele, e perguntou, cansada: — Já cogitou a possibilidade de ele não vir?

— Taehyung prometeu que viria, então virá.

— E se for mentira? E se ele mandar outra mensagem com uma desculpa qualquer sobre não poder mais vir te ver?

Jeongguk finalmente virou o rosto para ela, os olhos irônicos a analisando como se julgasse tudo que ela dizia ridiculamente estúpido e engraçado.

— O que foi, mãe? Está dizendo isso porque Kim Sungwoong fazia isso com você?

Jihyun soltou uma risada e o encarou de volta em silêncio. Depois de um tempo, começou a falar com a voz baixa, delicadamente:

— Sabe... você não é tão especial quanto ele diz que é. Nós nunca somos especiais.

Nós quem? — Jeongguk retrucou com uma expressão de desgosto. — Não me compare a você.

— Nós, Jeongguk... você e eu, sim — a mãe sorriu. — Você é exatamente como eu, não percebeu ainda? Você nasceu com a mesma doença que eu. Existe algo dentro de você que nunca vai ser preenchido. Não é mentira o que estou dizendo, é? Você já deve ter percebido.

Jeongguk olhou para o lado, irritado. Quanto mais ouvia das outras pessoas o quanto se assemelhava à mãe, mais desgosto ele tinha pela forma como havia nascido e era visto pelos outros, mas ouvi-la dizer aquilo era especialmente odiável. Passou por sua cabeça se Jihyun também acreditava que o interesse de Taehyung por ele se refletia naquela mesma semelhança, o que o fez fechar as mãos com força. Inspirando, Jeongguk preferiu não responder. Contudo, a mãe continuou seu discurso, irritando-o cada vez mais.

— E Taehyung é igualzinho a Sungwoong. Com a diferença de que Taehyung é um monstro capaz de matar. Você não vai escapar ao que aconteceu comigo. Vai ser usado pelo Taehyung até não sobrar mais nada seu, e quando ele se cansar, simplesmente irá embora. Isso se não decidir te matar no final.

— Não — o filho balançou a cabeça, olhando-a nos olhos, incapaz de permanecer em silêncio. — Existe algo muito diferente entre nós dois, mãe.

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