Furor

quinze: vestígios

Taehyung, Yoongi e Namjoon saíram do pátio do colégio usando casacos enormes. Eles andaram por várias quadras conversando sobre onde iam almoçar naquele dia — para comemorar a chegada das férias de inverno —, antes que Namjoon parasse de andar e apontasse para um carro, falando para o amigo mais novo:

— Olha ali, não é o motorista da sua família?

Os outros dois meninos se viraram e viram um dos carros da família de Taehyung estacionando do outro lado da rua. O garoto revirou os olhos, respirando fundo, e apertou o passo no sentido contrário.

— Vamos embora, logo — murmurou depois de soltar um palavrão irritado.

Min Yoongi seguiu o amigo, enquanto Namjoon ficou encarando o carro preto, certo do que ia acontecer em seguida. No entanto, para sua surpresa, quem abriu a porta e saiu correndo não foi o motorista da família, mas Lisa.

Com uma risada, Namjoon assobiou para os amigos e tentou chamá-los, mas os dois não o ouviram.

— Oppa! — Lisa gritou mais alto, sobressaindo-se, então Taehyung e Yoongi se viraram. Viram-na correr em sua direção com as bochechas vermelhas de frio, a respiração ofegante condensando ao redor de seu rosto pequeno e o cachecol vermelho que envolvia seu pescoço voando com o movimento. Ela também estava protegida com um enorme casaco por cima de seu uniforme escolar. Seu longo cabelo preto estava enfeitado com uma tiara rosa, e sua franja estava perfeitamente cortada sobre a testa.

Taehyung revirou os olhos assim que viu a irmã.

— Se manda, Lisa — mandou.

— Não vim falar com você — ela respondeu.

Namjoon não pôde conter uma risada alta, o que fez Taehyung o encarar. O mais velho então acenou para a menina, que retribuiu o gesto.

— Yoongi, vamos te esperar no lugar de sempre — disse Namjoon.

Quando os dois garotos estavam longe o suficiente, Yoongi encarou Lisa com tédio e inquiriu:

— O que foi?

Ela não se aproximou demais. Ficou parada a alguns passos de distância, segurando um embrulho nas mãos.

— Por favor, aceite — Lisa falou alto, decidida, e esticou o que tinha em mãos, fazendo uma mesura.

Yoongi franziu a testa, sem querer se aproximar. Ele tinha dezesseis anos e ela tinha acabado de fazer quatorze. Para ele, ela ainda era uma criança. Vê-la fazendo aquele tipo de coisa o deixava irritado. Por que meninas tinham que ser tão bobas?

— Você tem quatorze anos, Lisa.

— Eu sei! — Ela se ergueu, o cabelo esvoaçante. — Mas não namore ninguém, oppa, por favor! Espere eu ficar adulta e me leve para sair!

— Lisa-yah! — Ele fez um muxoxo alto, irritado com a insistência dela. — Pare com isso, que saco!

— Quando éramos pequenos você gostava de mim também... — ela murmurou, subitamente envergonhada. Suas bochechas ficaram mais coradas.

Era verdade. Na época em que Yoongi começou a entender que seres humanos se apaixonam, percebeu que Lisa era a menina que fazia seu coração bater mais rápido, mesmo que ela fosse dois anos mais nova. Lisa tinha oito anos naquela época, e ele, dez. Passavam horas juntos no quintal brincando de todo tipo de jogos infantis. Kim Taehyung nunca queria se juntar à irmã, então Yoongi aceitava pacientemente até mesmo as brincadeiras que não queria, como quando brincavam de casinha e ele era obrigado a ser o pai de algumas bonecas feias que eram as filhas de Lisa. Um pouco mais tarde, os dois começaram a se interessar por hip hop, e passaram a fazer batalhas, como as que viam nos programas de TV, e embora Yoongi não tivesse interesse em audiências, Lisa dizia que ele devia tentar uma — em qualquer lugar, menos na GYNX. Aos treze anos, Lisa já tinha para si própria um objetivo de vida muito claro: tornar-se a rapper mais famosa da Coreia do Sul, em uma empresa que não fosse a de seus pais. "E você vai ser o meu marido", ela completava. "Vamos ser o casal mais famoso do país".