vinte e dois: vermes

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A televisão fazia barulho na sala, acompanhada pela risada dos pais, que assistiam a algum programa de auditório. Havia mais de uma hora que janta fora sido servida, a mesa limpa e a louça lavada. Os empregados já haviam se recolhido. Naquela noite, o pai de Jihyun havia pedido às cozinheiras que fizessem o prato preferido da filha, mas a jovem não havia jantado.

— Acho que estou doente — dissera ela, sentindo o estômago revirar. Os pais a tranquilizaram, dizendo que devia ser o nervoso pelo recital que se aproximava, então a deixaram descansar no quarto.

Mas agora, enquanto os pais riam no andar de baixo, a garota estava encolhida ao lado da banheira, encarando o teste de gravidez entre os dedos. Ao ver o sinal positivo, seus joelhos cederam e seu corpo caiu no chão, junto ao teste, e ela se apoiou na cerâmica fria, fraca, a visão girando, e começou a chorar. Ela pegou o teste mais uma vez, esperando que tivesse lido errado. No entanto, o mesmo sinal continuava estampado.

Seu corpo começou a tremer. O que diria aos pais? O que diria a Sungwoong?

Com as mãos ainda mais trêmulas, esticou-se para pegar o celular de flip sobre a bancada da pia. Tentou digitar o número do amante, mas os dedos vacilaram e erraram as teclas. Seu peito comprimiu.

Sungwoong atendeu e Jihyun sentiu as palavras presas. Não foi capaz de responder.

— O que foi? — perguntou ele.

Ela abriu a boca, mas som nenhum saiu.

Como podia estar com tanto medo?

— Jihyun-ah — chamou ele. Diante do silêncio, Sungwoong se irritou. — Se não vai dizer nada, eu vou desligar.

— Grávida — apressou-se ela, atrapalhada, nervosa, aterrorizada.

Sungwoong foi quem não respondeu dessa vez. Os segundos se arrastaram.

— O quê? — ele se pronunciou, então.

Ela engoliu em seco.

O que Jihyun tinha feito? Sua vida estava arruinada. Sua vida estava arruinada desde o dia em que entrara naquele carro sozinha com ele, alguns anos antes. O que estava pensando quando não se insultou ao vê-lo colocar seu dedo em sua boca, chupando seu sangue? O que ele estava pensando quando ela pegou sua mão e a colocou entre as pernas? Safada. Vadia. Puta. Ele tinha uma esposa e filhos; ele devia ser fiel, e ela devia se manter longe. Agora havia um feto crescendo em sua barriga! Os dedos tocaram o vestido na altura do útero enquanto Sungwoong rebatia suas palavras, furioso. Ela devia ter nascido estéril. Devia ter nascido sem um útero. Não devia haver nada crescendo ali, nunca. Ela nunca devia nunca ter tocado em Sungwoong, nem o beijado, muito menos ido para cama com ele, nunca devia tê-lo olhado como olhava. Sua carreira estava acabada. Sua vida estava acabada. Era culpa dela. Dela e daquele feto que a havia escolhido como mãe. Como ela seria mãe? Ela jamais seria uma boa mãe.

Jihyun encarou o chão, ouvindo as palavras dolorosas de Sungwoong misturadas aos seus próprios pensamentos. Não, não era culpa de seu bebê. Nada do que ela e Sungwoong haviam feito era culpa daquele bebê, ele era inocente. Jihyun pensou em Taehyung e em quando o conheceu pela primeira vez. Era um menininho tão fofo... e se o seu bebê fosse como ele? Então teve um arrepio. Seu bebê não seria estranho como Taehyung, caçando e matando pássaros. Era seu bebê. Ele nasceria ainda mais fofo, mais saudável, mais inteligente, mais talentoso, mais bonito, muito mais normal do que Taehyung. Logo ela imaginou uma vida com a criança. Sungwoong podia acompanhá-los, por que não? Ele era o pai. Os três não podiam ficar juntos naquela casa que Sungwoong havia comprado para tê-la em segredo? Por que não podia ser assim?

FurorOnde histórias criam vida. Descubra agora