Furor

trinta e um: desvelo

Taehyung e Jeongguk tiveram apenas mais um encontro rápido e sem graça na casa de Jihyun antes de Min Yoongi conseguir intermediar a organização de um recital para Jeongguk se apresentar sozinho — e isso queria dizer "sem a mãe" — pela primeira vez desde que chegara à Coreia do Sul. Contudo, Jeongguk acabou reconhecendo a necessidade do acompanhamento de um piano e terminou por pedir à mãe que o acompanhasse na última parte do recital, quando desejava tocar Pequena Suíte, de Heitor Villa‐Lobos, e Jihyun aceitou o pedido com uma felicidade muito estranha, genuína e livre de qualquer sentimento ruim, um tipo de felicidade que o filho nunca vira lhe ser dirigida antes.

Quando contou a Taehyung sobre o recital que faria, embora já tivesse feito aquele tipo de apresentação diversas vezes, Jeongguk soou ansioso e nervoso. Ele vinha treinando com afinco há dias, o que resultou em poucas oportunidades de encontro entre os dois. O fato de estar sempre cansado ao fim do dia também havia prejudicado suas conversas, que se tornaram menores e menos frequentes — e havia até mesmo dias em que o cansaço vencia o jovem instrumentista e ele acabava por dormir antes de enviar mensagens ao escritor.

Além disso, existiam mais dois detalhes que estavam incomodando Taehyung. O primeiro deles era o fato de Jeongguk ter se encontrado mais algumas vezes com Min Yoongi por causa do recital — apesar de nenhuma dessas oportunidades ser um encontro romântico. O segundo detalhe lhe tirou o sono por dois ou três dias seguidos, e o deixou com um gosto amargo que durou mais do que apenas aquele período de insônia. Aquela sensação terrível e incompreensível, causada por Jeongguk e nunca antes sentida por Taehyung, foi curada somente com o gosto doce e engraçado — como algodão doce derretendo sobre a língua — que Park Jimin lhe fez sentir alguns dias depois do recital de Jeongguk.

O que aconteceu foi que o jovem violoncelista, ao ouvir Taehyung lhe confessar que estava ansioso para assistir à sua apresentação, poucos dias antes do evento, pediu a ele que não comparecesse.

— O quê?! — Taehyung soou mais irritado do que gostaria de transmitir ao outro, mas não pôde conter a reação imediata.

— Yoongi estará lá... não quero que vocês briguem, hyung — explicou Jeongguk em um murmúrio, tentando fazê-lo se sentar em sua cama, mas Taehyung estava agitado e não o deixou tocá-lo.

— De onde saiu essa sua ideia sobre eu brigar com ele, Jeongguk?! Na frente de todo mundo, assim, em um recital?!

A casa de Jihyun estava inundada pelo som da pianista treinando, e estando a porta do quarto de Jeongguk aberta, o som que entrava era bastante nítido. Aquilo irritou ainda mais Taehyung, que teve vontade de fechar a porta e gritar com Jeongguk, mas, em vez disso, ficou em total silêncio e sentou-se na cama.

— Hyung... você pode... acatar meu pedido...? — Jeongguk mediu as palavras, falando devagar e com cuidado.

Taehyung o encarou por longos segundos em silêncio. Sua irritação era visível em sua linguagem corporal — havia tensão em seus olhos, seu maxilar, seus ombros. Até mesmo o ar que pairava ao seu redor parecia se precipitar em direção a Jeongguk com uma ânsia violenta.

— Por que ele é tão importante para você a ponto de preferir que ele vá no meu lugar?

— Não é isso...

— Então o que é?

Jeongguk abaixou os olhos, calando-se.

— Por que você nunca responde quando o assunto é Min Yoongi, Jeongguk-ah? — Taehyung inquiriu ainda mais irritado.

— Foi ele quem praticamente organizou tudo, hyung...

Taehyung olhou para as janelas escuras.

— Entendo — respondeu com rispidez.