dezessete: langor

1.3K 185 157
                                        

oi, em quem vocês acreditam na história? no que vcs acreditam? rs



Com um movimento rápido e carregado de ódio, Kim Sungwoong escancarou a porta e encontrou Taehyung sentado em uma banqueta, perto da janela aberta, olhando para o jardim.

Quando não estava perambulando por aí e causando problemas, nem se divertindo na casa de Kim Namjoon ou de Min Yoongi, Taehyung estava sempre enfurnado sozinho naquele cômodo que Lisa gostava de chamar de "o estúdio do artista compenetrado", onde o garoto guardava todos os seus livros e o material de pintura. Nos últimos tempos, no entanto, ao invés de se dedicar aos desenhos ou à pintura em casa, onde tinha todos os utensílios de que precisava, ele o fazia somente na escola, o que fizera Sungwoong imaginar, de início, que Taehyung havia abandonado de uma vez seu talento para as artes plásticas. E em parte ele estava certo: ao contrário do que ele e Minsi haviam acreditado — que Taehyung seguiria o rumo da pintura ao crescer —, ele havia se dedicado apenas a criar encrencas, desenhos bizarros e histórias ainda mais medonhas, aventurando-se cada vez mais no campo da escrita. Sungwoong já havia perdido a conta de quantas vezes havia sido chamado pela escola para conversar sobre as narrações que o filho criava nas aulas de redação. Ele não aguentava mais a excentricidade daquele garoto, as coisas estranhas que ele fazia e dizia, o medo constante que tinha dele desde que machucara Seokjin, quando ainda era apenas uma criança. Para piorar, ainda existiam as crises de Minsi, que ficava violenta quase sempre que via Taehyung.

O homem passou os olhos pelo cômodo e viu, sobre a mesa, a medalha de primeiro lugar do concurso de artes da escola. A tela premiada estava exposta em um cavalete, virada para a janela.

Os professores não haviam lhe dito nada sobre a pintura, apenas tinham enviado um comunicado parabenizando-o pelo feito do filho, mas o motorista da família, que acompanhava o problemático Taehyung para todos os lados, havia lhe contado o que o garoto tinha pintado. "Não é a primeira vez que o vejo carregando pinturas estranhas, mas dessa vez, eu acho que o senhor devia ver", dissera-lhe o empregado, estranhamente preocupado.

Taehyung não se virou para encarar o pai, apenas permaneceu imóvel olhando para a janela. Sungwoong andou depressa até a tela e encarou as cores.

À princípio, não entendeu o que havia ali, mas depois de algum tempo olhando para a pintura, percebeu que aquilo era o guarda-roupa aberto de Taehyung, com as peças escuras expostas e organizadas. Sungwoong reconheceu o casaco que Minsi havia dado ao filho há muitos anos, agora pequeno demais para servir em seu corpo adolescente. O pai sabia que aquilo era mantido como uma espécie de lembrança e que estava sempre no canto direito do armário, encostado à madeira. No meio das roupas escuras que dominavam seu guarda-roupa, havia uma única peça bege, escondida e quase imperceptível, não fosse o destaque que ganhava devido à cor, como um feixe de luz saindo da escuridão.

Sungwoong não compreendeu o que aquilo significava, porque nunca vira o filho com roupas daquela cor. Só se deu conta do que enxergava quando discerniu um par de sapatos verdes pendurados abaixo das roupas, na mesma direção do casaco.

Ele não teria se preocupado com aquela visão se não soubesse que aqueles eram os sapatos preferidos de Minsi, na época em que ela ainda conseguia sair de casa e se divertir. Então finalmente percebeu que, bem ali à sua frente, na barra de ferro que segurava os cabides... havia uma corda grossa presa com um nó.

Eram os sapatos e o casaco de Minsi.

Havia um corpo naquela tela, pendurado pela corda. Embora não estivesse pintado, estava bem ali, atrás das roupas do menino, e aparecia na mente de quem via aquilo e ligava os pontos.

FurorOnde histórias criam vida. Descubra agora