onze: rompante

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"A paixão é um delito", Natsume Soseki, Coração.


Kim Namjoon encarava o vidro à sua frente à espera de que a cadeira do outro lado fosse ocupada. Ajeitou-se na cadeira de visitantes, mais desconfortável e gelada do que qualquer outra em que já havia se sentado, e continuou a esperar. O vidro por onde os guardas podiam observar tudo se tornava cada vez mais opressor para Namjoon. Todo aquele ambiente o era. Degradante e terrível, mas mesmo assim ele estava ali. Estava sempre ali, voltando para se certificar de como seu melhor amigo estava. Não que se preocupasse em alguém machucá-lo lá dentro — estava mais preocupado com Taehyung acabar matando alguém lá dentro. Namjoon não conseguia entender por que sentia aquele tipo de coisa, por que precisava proteger Taehyung se era mais do que evidente que ele não precisa de nada daquilo. Namjoon sabia bem do que Taehyung era capaz.

Viu-o passar pelo corredor ao lado de um guarda alto e forte e entrar na sala. Um sorriso apareceu no rosto de Taehyung assim que o viu.

— Hyung! — ele se sentou, animado.

— Oi, Taehyung-ah — Namjoon tentou sorrir. — Como você está?

— Não estou ótimo, é claro, mas... e você? Como vão as coisas desde a última vez que veio?

Namjoon balançou a cabeça, respirando fundo.

— Estive pensando no que fazer... talvez vender a empresa. Nunca a quis.

Taehyung assentiu, examinando-o.

Desde que os pais de Namjoon haviam morrido em um acidente de carro, ele vinha visitá-lo com mais frequência, ao contrário do que Taehyung esperava. Depois que fora preso, tivera certeza de que seus melhores amigos nunca viriam vê-lo. Seu pensamento tinha se concretizado com Min Yoongi, que após ser obrigado a prestar depoimento sobre sua amizade e o comportamento de Taehyung dentro e fora da escola, nunca mais apareceu em sua frente. Já haviam se passado seis meses desde sua prisão e Yoongi não o tinha visitado sequer uma vez, enquanto Namjoon vinha quase toda semana. Nem mesmo sua família o visitava, mas ele estava sempre ali. Taehyung não conseguia entendê-lo. Não sabia que tipo de sentimento devia expressar pelas visitas, muito embora soubesse bem que devia ignorar a própria vontade de rir daquele tipo estranho de lealdade que Namjoon lhe devotava. Afinal, sabia que aquilo era realmente amizade.

— Se você não gosta, talvez seja melhor, mesmo... devia fazer algo que gosta — Taehyung balançou a cabeça em concordância. — Você pode viver sem trabalhar até morrer, hyung, então devia... sei lá, só visitar museus todos os dias e começar a projetar sua biblioteca particular — riu.

— Não quero ficar sem fazer nada, preciso trabalhar — Namjoon passou as mãos pelo rosto.

— Ah, então você é um burguês com senso de trabalho duro? — debochou Taehyung com uma risada.

— Você fala como se não fosse herdeiro da Vante e da GYNX.

— Você realmente acha que ainda sou herdeiro?

— Andou escrevendo mais? — Namjoon mudou de assunto, certo de que havia cometido um erro ao falar das empresas dos Kim. O adolescente concordou. — Por que não trouxe para eu ler?

— Quero terminar mais um capítulo antes de te entregar para ler.

Namjoon sorriu.

— Sabe, gostei da sua última história. Foi um pouco chocante, mas gostei.

— Você guardou, não é?

— Claro que sim. Tudo que você escreve está guardado comigo para quando sair daqui.

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