Onze anos antes
Seokjin e Lisa tentavam acalmar a mãe que estava em meio a um surto psicótico, gritando e chorando agitadamente em seu quarto. Taehyung, por sua vez, estava encostado na parede do corredor, encarando a porta enquanto ouvia os passos dos irmãos e da mãe, que ia de um lado para o outro como se tentasse fugir de algo. De vez em quando, o garoto era capaz de discernir alguma sombra pela porta aberta ou as costas de algum deles.
Desde que o irmão mais velho dissera a Taehyung para ficar longe de Minsi, o adolescente vinha realmente evitando entrar em seu campo de visão. Não era porque tivesse acreditado em suas palavras, mas simplesmente porque queria que Seokjin percebesse que os surtos da mãe nada tinham a ver com o fato de ver o filho do meio. Aquilo só acontecia porque Minsi estava cada vez mais louca, não porque Taehyung havia feito algo que lhe provocasse tamanha perturbação.
Quando a mãe voltara do hospital, oito anos atrás, ela havia perdido o bebê, mas a sanidade continuava ali, apesar de ofuscada por algo que Taehyung não conseguia entender na época. Ele ainda lembrava que os olhos da mãe se tornaram fracos depois daquele dia, como se tivessem perdido o brilho. Aos poucos, os três filhos começaram a ouvir a mãe chorando escondida pela casa, com uma frequência cada vez maior. Minsi tentou continuar com a vida normal, mas quanto mais se esforçava, mais as coisas davam errado. Ela quebrava pratos, queimava a comida e esquecia-se dos filhos, mesmo que eles estivessem gritando e bagunçando pela casa. Minsi começou a lhes dizer que estava doente e que não poderia cuidar deles, relegando a tarefa às empregadas, e passava dias inteiros deitada na cama, fingindo que dormia. Taehyung era o único que a observava escondido e sabia que ela ficava de olhos abertos, olhando para o nada.
Ele ouviu seus pais discutindo algumas poucas vezes naquela época, mas não conseguia entender as palavras nem conectá-las. Gradativamente, seu pai começou a passar o dia inteiro no trabalho. Por ser ainda criança, Taehyung cogitou, em um pensamento pouco elaborado e sem explicações para seus questionamentos, que o pai estivesse trabalhando mais para não ter que ver a mãe, mas talvez fosse mesmo verdade que as exigências das empresas o fizessem ficar longe de casa por cada vez mais tempo. Sungwoong começou a voltar para casa estressado e irritado, mas nunca, nem uma única vez, havia gritado com Minsi — nem mesmo quando ela não impediu Lisa de se queimar no ferro quente, ou Seokjin de pisar nos cacos de vidro que ela havia acabado de quebrar, ou Taehyung de subir em uma árvore e se jogar do alto, quebrando um braço.
"Eu vou pular, mamãe", ele avisou e ela o encarou sem expressão, como se não ouvisse o que lhe era dito. "Se eu me machucar, você vai cuidar de mim, não vai?", o filho perguntou, mas a mãe continuou em silêncio. Um, dois, três... o som da queda e do osso se partindo não assustou Minsi, nem mesmo o choro doloroso que se seguiu. As empregadas correram para o jardim e ligaram para Sungwoong, que pediu para o motorista levar o filho para o hospital. Quando Sungwoong chegou ao local e dispensou o empregado, Taehyung estava sentado em uma cadeira, sozinho e encolhido. O braço engessado parecia muito maior do que era e ele já não chorava mais, embora seu rosto denunciasse as lágrimas secas. Taehyung não tinha um olhar de tristeza nem de dor — era de raiva, Sungwoong teve certeza disso no momento em que o viu. "O que aconteceu com você?", perguntou o pai, mas o filho não respondeu, apenas se levantou e caminhou até a saída.
Sungwoong não brigou com Minsi por nenhum dos machucados que os filhos sofreram. Ao contrário, ele passou a levá-la em médicos, hospitais e clínicas psiquiátricas. Aos poucos, Minsi começou a passar semanas inteiras nesses lugares. Nos piores momentos de suas crises, ela chegava a ficar mais de um mês longe de casa. Nenhum dos filhos nunca chegou a saber, mas ela tentou tirar a própria vida algumas vezes. Uma vez costuraram seu pulso e em outra, fizeram-lhe uma lavagem estomacal. Por isso, os pais de Minsi resolveram levá-la de volta para a casa de sua infância, onde talvez ela pudesse se sentir melhor — longe de Sungwoong, das crianças e da casa onde as lembranças de seu casamento a perseguiam.
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Furor
Fanfiction[taekook | dark] Não cace sua presa: atraia‐a. Monte seu jogo, mexa suas peças, controle cada jogada e não se deixe enredar. Mas se isso acontecer, não hesite - destrua o que tiver de destruir e vá embora. ・・・・ Kim Taehyung perdeu sua adolescência e...