2. capítulo oito

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ㅤㅤㅤOs dias seguintes passaram como um borrão diante dos olhos cansados, chegando a um ponto onde ela conseguia ver a fina linha que separava a realidade de seus pesadelos e a cada minuto que se passava ela chegava mais perto de seu ponto de ruptura.

ㅤㅤㅤAs marcas de queimaduras em seus pulsos estavam se espalhando pelas costas das mãos e as olheiras avermelhadas estavam mais profundas, sua aparência começou a levantar uma preocupação silenciosa em Lucas já que Alice sempre sorria daquela forma secreta e dizia que tudo estava bem, mesmo sendo traída por seus olhos.

ㅤㅤㅤNovamente, o rapaz passou a procurar a melhor amiga da namorada para tentar conseguir uma resposta, mas Amélia andava tão distante que era quase uma desconhecida e ele se encontrava perdido no meio das garotas. Não acha que elas brigaram por algum motivo que só as garotas entendem e por isso não se falam mais?, Isaac teorizava comendo salgadinhos quando o amigo expressava sua confusão.

ㅤㅤㅤElas já tinham se afastado de forma considerável, porém ele não deu importância para aquilo até o dia em que Amy chegou no colégio com os cabelos, antes vermelhos vivos, pintados em um tom de castanho levemente avermelhado; as roupas geralmente rabiscadas com marca-texto e canetas esferográficas e cobertas pelo pesado casaco militar, foram substituídas por roupas mais femininas e vestidos floridos e ela usava lentes de contato azuis.

ㅤㅤㅤAlice franziu o cenho ao vê-la pela primeira vez naquela nova forma, seu maxilar enrijeceu e ela segurou a mão de Lucas com força, guiando-o para o outro lado. Agora Amélia passava por eles no corredor de cabeça baixa enquanto os olhos frios de lápis-lazuli nem mesmo vacilavam em sua direção.

ㅤㅤㅤMas a verdade é que Alice tinha preocupações maiores do que uma mudança de visual repentina, mesmo que sentisse em suas entranhas que algo estava errado, não conseguia se importar o suficiente para conversar com Amélia.

ㅤㅤㅤDesde o dia que encontrou o bilhete em sua casa, teve a comprovação que precisava para saber que, todo o nervosismo que sentiu nas semanas seguintes do incidente, era algo real. Ela não estava sozinha e o fantasma que a acompanhava pelas sombras existia de alguma forma.

ㅤㅤㅤAlice passou a dormir apenas uma ou duas horas por noite, sempre checando as trancas das janelas e a da porta, no mínimo, cinco vezes. Um giro, dois giros. Um giro, dois giros. Um giro, dois giros. Um giro, dois giros. Um giro, dois giros. Respirava fundo e repetia novamente para ter certeza.

ㅤㅤㅤDepois começou a escrever aquela frase compulsivamente em uma tentativa de imitar a caligrafia floreada no post-it, queria provar para si mesma que aquilo não passava de uma pegadinha criada pela outra Alice. Se ela consegue escrever assim, então eu consigo também, falava em voz alta tentando evitar a frustração que acompanhava o fracasso.

ㅤㅤㅤPor fim, passou a sentir que cada minuto em seu apartamento poderia ser seu último; ela não estava mais segura ali, mesmo que tivesse criado o hábito de checar todos os lugares que alguém poderia se esconder.

ㅤㅤㅤ― Posso dormir com você hoje? ― Alice ligou para Lucas meia hora antes de seu expediente acabar.

ㅤㅤㅤ― Claro, Al. ― Respondeu com a voz um pouco lenta pelo cansaço.

ㅤㅤㅤ― Estava dormindo?

ㅤㅤㅤ― Não, estou terminando um quadro.

ㅤㅤㅤ― O que você está pintando?

ㅤㅤㅤ― Isaac como se fosse uma de minhas garotas francesas. ― Ele deu um riso nasal. ― Você vai gostar. Que horas 'cê vem, Al?

ㅤㅤㅤ― Na verdade... Você pode vir me buscar? Meu carro pifou.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora