2. capítulo quinze

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ㅤㅤㅤPor mais que tentasse, Alice não se recordava como as coisas seguiram depois daquele momento. Tudo se tornou um borrão confuso em sua mente onde ela era acompanhada pelas vozes e rostos sinistros. O coração martelava com tanta força que a mão inconscientemente agarrava a frente da camisa como se tentasse segurá-lo e arrancá-lo de seu peito.

ㅤㅤㅤEla se viu repentinamente em seu apartamento sem lembrar como chegou até ali. Merda, murmurou com a voz embargada ao ver as mãos vermelhas e pegajosas. Merda, merda, merda, ela repetia em alto e bom som enquanto corria até a pia do banheiro, onde viu a água se tornar rosada.

ㅤㅤㅤCacos do espelho estavam espalhados pelo chão.

ㅤㅤㅤRespingos carmim e marcas de seus próprios dedos manchavam o rosto abatido, fazendo o desespero crescer em seu interior. Onde ela estava? Para onde nós fomos? Cada batida do coração ecoava em seus ouvidos. Alice jogou a água gelada em seu rosto e o esfregou compulsivamente, querendo se livrar de cada rastro.

ㅤㅤㅤTentava regular a respiração, mas as imagens do encontro com o homem, os olhos penetrantes e o sorriso sinistro, continuavam a assombrá-la. Para, por favor, pedia enquanto as lágrimas quentes escorriam pelo rosto. Com as mãos doloridas, esmurrou a própria cabeça e gritou. Um grito baixo e agoniado que saiu desesperado.

ㅤㅤㅤNo reflexo quebrado, seu rosto se distorcia rapidamente.

ㅤㅤㅤO que antes poderia ser uma expressão de angústia, se transformou em uma coisa grotesca e desfigurada quando mãos invisíveis puxavam sua pele em direção opostas. Não, não, repetia incansavelmente sem conseguir ter conhecimento da própria voz enquanto tentava colocar seus olhos de volta no lugar.

ㅤㅤㅤOs rostos ao seu redor se distorciam, crescendo cada vez mais e a cercando. Ao contrário dela, eles voltavam às suas expressões originais e gargalhavam.

ㅤㅤㅤPor que tão séria, Alice?, a outra perguntou.

ㅤㅤㅤQuando percebeu, Alice também ria dela mesma, revelando dentes afiados e desproporcionais ao tamanho de sua boca. Lançou o punho contra o espelho fazendo alguns cacos se espalharem pelo chão, parando no mesmo lugar que estavam inicialmente. Aquilo justificava o sangue.

ㅤㅤㅤSuas pernas fraquejaram ao sair cambaleante do banheiro e ela precisou se deitar no chão da sala, apertando a cabeça com as mãos.

ㅤㅤㅤCinco coisa que eu posso ver: sangue pingando, a mesa de centro, um post-it colorido amassado no chão, sua mochila jogada de qualquer jeito, os pés das Pessoas de Sombra que a cercavam; quatro coisas que posso sentir: a ardência em seu punho, a frieza do piso contra seu rosto, um nó formado em sua garganta...

ㅤㅤㅤ― Para, por favor. ― Pediu novamente, sem conseguir se concentrar em seus próprios pensamentos que escapavam por seus dedos em forma de concreto.

ㅤㅤㅤEla quer o seu mal, a voz sussurrava de forma lenta e distorcida.

ㅤㅤㅤ― Transformando-me em um animal. ― Completou, lembrando de seu reflexo distorcido.

ㅤㅤㅤO que eu faço agora?

ㅤㅤㅤNunca em sua vida se sentiu tão vulnerável como naquele momento, pois até mesmo a outra havia traído sua confiança. Eu só queria me divertir, defendeu-se, você precisava ver sua cara. Desde quando você sabe...?

ㅤㅤㅤ― Dia das bruxas. ― Alice respondeu sua própria pergunta.

ㅤㅤㅤAgora entende o motivo de ficar tão nervosa quando está perto dele, a outra sussurrou. Antes, eram apenas suspeitas vagas criadas por sua própria imaginação, tudo para justificar uma atração por um homem desconhecido. Mas na noite em que ele nos acompanhou, você viu do que ele é capaz. Ou acha que fez tudo aquilo sozinha?

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora