1. capítulo onze

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ㅤㅤㅤO tempo parecia ter desacelerado e ela era uma das poucas coisas que ainda se mantia em constância, o ar estava carregado por uma ameaça silenciosa qual ela sentia a presença apenas alguns metros de distância das suas costas, os pés descalços estavam sujos de terra e as solas estavam feridas pelas irregularidades do terreno deixando pegadas sangrentas mescladas com a terra escura; a adrenalina fazia seu coração bater em um ritmo rápido e descompassado, as batidas surdas ecoavam em seus ouvidos como se fossem parte da floresta que a cercava, seu fôlego já havia se tornado escasso fazendo seu pulmão chegar em um ponto que poderia explodir em seu peito a qualquer momento, mas ela não podia se dar o luxo de parar.

ㅤㅤㅤ"Corra, Alice, corra", a voz masculina gritava em diversão ao vê-la olhar por cima do ombro em uma tentativa fracassada de ter algum vislumbre de sua morte.

ㅤㅤㅤSeguindo disparada entre as árvores, os galhos retorcidos se estendiam diante dela como garras afiadas que a atacavam, sentia o sangue quente escorrendo por vários cortes abertos em seu rosto e seus braços expostos naquela vegetação hostil, as vozes eram altas em sua cabeça e carregava todas as Pessoas de Sombra em seus ombros em uma tentativa de salvar à todos; o que ela não sabia era que o vencedor daquele jogo já estava definido - o problema era que ele gostava de brincar com suas presas antes de acabar com elas.

ㅤㅤㅤQuem é ele?, indagou-se ao despertar trêmula ouvindo o eco da campainha tão longe que não soube dizer se era real ou não, tudo o que conseguia recordar era a escuridão constante que a acompanhava em seus pesadelos mais recentes; era como se trouxessem uma mensagem que ela não conseguia se lembrar o suficiente para decifrar. Naquele dia, sua manhã começou muito estranha: ainda não havia se acostumado com a presença de outro ser vivo em seu apartamento e muito menos com o fato de que um animal tão pequeno conseguiu ocupar toda a cama de casal, fazendo-a acordar com um lado do corpo pendurada para fora da cama enquanto o cachorro roncava tranquilo encostado em seu quadril com as pernas para cima.

ㅤㅤㅤSem sucesso, tentava se lembrar de detalhes nos seus pesadelos enquanto preparava seu café da manhã, mas àquela altura já não sabia nem se realmente havia sonhado com algo naquela noite. O morceguinho não saiu de seus pés, seguindo-a de lá para cá, quase sempre causando um susto na garota que continuava esquecendo dele; após comerem, Alice pegou a guia atrás da porta e ele ficou correndo em círculos ao redor dela. O problema quando abriu a porta não foi o cachorro tentar disparar escada abaixo engasgando-se na coleira, mas quando ela tropeçou no par de saltos colocados na frente de sua porta, Alice percebeu que algo estava errado.

ㅤㅤㅤDesconfiada, girou a chave duas vezes ao sair.

ㅤㅤㅤPoderiam muito bem ser da vizinha do lado que, às vezes, deixava seus calçados jogados na frente da porta e alguém que estava passando os arrumou ali por engano, um dos saltos tinha marcas de mordidas e ela teve certeza de que eram os que ela usava na noite anterior. Alice havia os abandonado no chão do bar sem nenhuma memória de tê-los pego antes de sair - ou será que pegou? -, se lembrava muito bem de ter chegado no apartamento com as solas dos pés doendo e descalça - ou será que os sapatos estavam em suas mãos juntos a garrafa vazia? Não confiava o suficiente em sua memória para ficar tranquila com aquela situação.

ㅤㅤㅤCaminhando ao redor do quarteirão, Alice carregava a sensação constante de estar sendo vigiada por olhos famintos e olhava por cima do ombro a cada oportunidade que tinha, tentando se manter alerta aos seus arredores e encontrar o que estava fora do lugar. Os faróis em seu retrovisor na noite anterior, a forma que foi encurralada para depois se transformar em nada, os sapatos em sua porta... Eles estavam mandando sinais e ela precisava tomar cuidado. Quem são eles?, indagou observando os arranhões na traseira de seu carro.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora