2. capítulo quatorze

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ㅤㅤㅤOs ponteiros do relógio estavam congelados, fazendo a aula durar mais tempo do que o necessário. Batendo a caneta em um ritmo rápido contra a mesa, atraía a atenção de Lucas e os olhos castanhos preocupados que indagavam: Qual é o problema?

ㅤㅤㅤTodos, dizia mentalmente, crente de que o garoto conseguiria decifrar seus pensamentos sem que ela os expressasse verbalmente, já que os rostos flutuantes apoiavam-se nos ombros do rapaz e em sua cabeça, sussurrando palavras em seus ouvidos que ele nunca ouviria.

ㅤㅤㅤA falta de comunicação que se estabeleceu entre eles novamente foi sua culpa, pois o toque do celular a fazia hiperventilar por alguns minutos. No fundo agradecia por ele ter respeitado sua privacidade e não ter ido ao apartamento após ela jogar o celular contra a parede e a bateria se desconectar do aparelho.

ㅤㅤㅤAs pernas balançavam ritmicamente, acompanhando o batimento acelerado de seu coração.

ㅤㅤㅤ― Você fez de novo. ― Lucas disse naquela manhã.

ㅤㅤㅤO Porsche preto estava estacionado em sua vaga usual e o garoto estava encostado no capô, aguardando a chegada dela.

ㅤㅤㅤ― O quê? ― Indagou desligada. A cabeça estava enevoada pela ansiedade que crescia em seu peito. Precisava encontrá-lo.

ㅤㅤㅤ― Sumiu.

ㅤㅤㅤ― Uma hora você se acostuma. ― Deu de ombros, acendendo um cigarro diante dele.

ㅤㅤㅤEle não gostou de sua resposta.

ㅤㅤㅤAlice pegou a mochila ao final do segundo horário, mas antes de seguir pelo corredor, sentiu a mão se fechar em torno de seu pulso, fazendo-a parar. Não era um aperto possessivo, pelo contrário, o formigamento que seus dedos causavam em contato com sua pele pediam que, por favor, não se afaste tanto.

ㅤㅤㅤEu preciso falar com ele primeiro, pensou fechando os olhos e respirando fundo ao se desvencilhar.

ㅤㅤㅤ― Estou sem fome ― E seguiu pelo corredor na direção oposta aos demais alunos, que se dirigiram ao refeitório.

ㅤㅤㅤEle não a seguiu.

ㅤㅤㅤAlice Taylor tinha vultos em seus pensamentos que não permitiam que pensasse direito, aquele não era o lugar certo para aquilo, mas ela precisava saber.

ㅤㅤㅤPousou a mão trêmula na maçaneta e sentiu o frio crescer em seu interior, hesitando pesadamente antes de abrir a porta de sua sala.

ㅤㅤㅤ― ... trouxe consigo uma série de mudanças socioeconômicas fundamentais... ― Ele interrompeu a fala para olhar para a recém-chegada. ― Pois não, Taylor?

ㅤㅤㅤCom os lábios entreabertos e a respiração descompassada, ela o encarava com os olhos de lápis-lazúli assustados.

ㅤㅤㅤ― Por que você está fazendo isso?

ㅤㅤㅤ― Perdão?

ㅤㅤㅤAlice Taylor sabia.

ㅤㅤㅤDuas noites atrás, o pequeno post-it laranja tremeu em sua mão quando o terror se espalhou por suas veias. Ela correu com as chaves em mãos enquanto tentava respirar direito ao trancar a fechadura. Não é o suficiente, pensou, antes de correr até o sofá e empurrá-lo até a porta para servir de barricada.

ㅤㅤㅤOlhando pela janela, perguntava-se se o vizinho de binóculo estaria vasculhando o quarteirão quando ela acenasse os braços em um pedido de socorro.

ㅤㅤㅤSentiu as pernas fraquejarem e precisou sentar no chão, apoiando as mãos nos ouvidos com força desnecessária - a risada da outra era alta demais. Você sabia?, indagou sem esperar uma resposta porque fazia sentido demais agora. Ela sempre soube, mas escondeu a verdade.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora