o diário de alice taylor.

1. capítulo dezoito

ㅤㅤㅤEla sentia vontade de chorar ao procurar uma posição menos desconfortável, já estavam rodando por tempo suficiente para seu sangue começar a esfriar permitindo que a dor se espalhasse rapidamente por seu corpo, tornando o simples ato de respirar algo doloroso demais para ser feito sem esboçar uma careta. Assim que entraram no Porsche, perguntas começaram a chover sobre ela vindas do garoto que estava visivelmente irritado e Alice, ainda trêmula, apenas balançava a cabeça enquanto seus olhos estavam quentes e tudo estava barulhento demais ao seu redor; ao perceber que não era o momento adequado, dirigiu em silêncio olhando-a de soslaio a cada gemido involuntário que ela soltava.

ㅤㅤㅤAlice estava se sentindo humilhada, seu orgulho gritava por saber muito bem que poderia ter lidado com as garotas se tivesse a devida chance e se estivessem em outro lugar, cortaria seus pescoços de orelha a orelha e se banharia no sangue. O que Lucas não sabia era que antes de saírem do estacionamento, uma Pessoa de Sombra sentou no banco de trás e sugava a energia da garota e se tornava cada vez maior a cada pensamento como aquele; fechou os olhos irritada, os rostos caricatos rondavam sua cabeça rindo em silêncio enquanto a outra em sua cabeça repassava os acontecimentos como um filme sem pausa - uma confusão de braços, pernas, cabelos e gritos; ela estava gritando? Não conseguia recordar. Todos assistiam, ninguém estava disposto a ajudar.

ㅤㅤㅤLucas estacionou e ela abriu os olhos esperando estar em qualquer lugar do mundo entre seu apartamento e a casa do garoto, pulou levemente no banco com as luzes vermelhas que piscavam em sua visão periférica. Não, não, não, pensou ao ver a ambulância com uma imensa cruz vermelha nas portas traseiras estacionada a alguns metros deles. O pânico subiu como uma vertigem que começou pela ponta dos dedos e se estendeu por todo seu corpo, preferia mil vezes que ele a entregasse para a polícia com cópias das páginas de seu diário do que estar naquele local. Os olhos arregalados se viraram na direção do rapaz enquanto ela balançava a cabeça negativamente, seu olhar passava uma mensagem clara: vamos embora, o que diabos estamos fazendo aqui? Estou bem, olhe! Estou ótima! Posso até dar cambalhotas de costas se você quiser, mas vamos embora, por favor. Sentiu uma pontada nas costelas ao se mexer, controlou ao máximo suas expressões para não demonstrar a dor que sentia.

ㅤㅤㅤ― Você precisa. ― Ele disse pousando a mão em sua coxa, afagando-a gentilmente, mas ela continuou negando com a cabeça. ― Apenas pra ver se está tudo bem, ok?

ㅤㅤㅤ― Eu estou bem.

ㅤㅤㅤ― Você está fazendo careta respirando, Al.

ㅤㅤㅤ― Eu não tenho dinheiro.

ㅤㅤㅤ― Não é problema.

ㅤㅤㅤ― Claro que é!

ㅤㅤㅤ― Alice.

ㅤㅤㅤ― Eu não vou, James! ― Sua voz se tornou aguda.

ㅤㅤㅤO rosto da garota estava pálido demais em contraste com o vermelho seco que sujava sua pele, os dedos trêmulos e gelados que antes tocavam sua mão batiam rapidamente por cima de seus bolsos e reviraram seu porta-luvas, depois ela correu as mãos pelos cabelos com uma expressão angustiada.

ㅤㅤㅤ― Preciso de um cigarro, Lucas. ― Ela falou com sua voz vacilando. ― Preciso de um cigarro.

ㅤㅤㅤ― Vou te arrumar um se você entrar comigo. ― Usou o polegar para limpar parte do sangue que escorreu pelo nariz fino e a encarou sério ao ver que ela estava prestes a protestar: ― Vai ser rápido, eu prometo. Vou estar com você... Se não colaborar, vou ser obrigado a te carregar e acho que vai ser pior assim.

ㅤㅤㅤEla se encostou no capô do carro, a boca estava seca e o palpitar em seu peito era o suficiente para sufocá-la, poderia ter fugido naquele exato momento em que o observava o garoto gesticular com a mão e correr pelo estacionamento até um velho taxista que fumava próximo a entrada, mas ela prometeu que ficaria ali; eles trocaram algumas palavras enquanto Lucas sorria, rapidamente ele se despediu e caminhou em passos largos até ela entregando em suas mãos. O problema é que seu corpo tremia tanto que o simples gesto de acende-lo parecia complicado demais e o vento também não estava ajudando, Lucas pediu licença ao tirar o cigarro de seus lábios e colocar em seus próprios, acendendo-o com o isqueiro de dragão; Ele deu um trago rápido para garantir que estava devidamente aceso e entregou para a garota.