1. capítulo vinte e um

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ㅤㅤㅤO barulho dos saltos de Suzana Flowers ecoavam apressados pelas ruas desertas causando um desconforto ainda maior para a mulher, o nervosismo andava lado a lado com a mulher todos os dias após o trabalho enquanto caminhava solitária até sua casa. Como de costume, murmurava uma oração em espanhol que aprendeu com sua abuelita durante todo o trajeto para a manter protegida e parava apenas para pegar fôlego antes de começar novamente.

ㅤㅤㅤAs coisas pioraram nos últimos meses quando o número de assassinatos aumentou consideravelmente em pouco tempo, mulheres como ela que um dia saíram de suas casas sem saber que aquele seria o dia que encontrariam a morte - o chamavam de O Estripador e não haviam uma única pista em seu caminho, por isso ele continuava vagando entre os humanos como um qualquer. Balançou a cabeça negativamente, sentindo um arrepio percorrer sua nuca e se estender em seus braços; sempre ouviu falar que pensamentos negativos atraem coisas negativas, por mais que tentasse, não conseguia controlá-los.

ㅤㅤㅤUma sensação estranha a acompanhava ou seria alguém? Olhou por cima do ombro rapidamente para ter a certeza de que continuava sozinha. Paranoia, pensou com um suspiro pesado abraçando a bolsa contra o corpo. Gostaria que colocassem uma linha de ônibus ali, porém era um bairro tão perigoso que os motoristas não toparam se arriscar por ali nem mesmo de passagem, bom, ela os entendia... Se tivesse outra opção, já teria partido.

ㅤㅤㅤSuzana começou a trabalhar cedo e, entre uma pausa e outra, ela se dedicava aos estudos com a esperança de poder oferecer um futuro melhor para seus pais. Morava com sua mãe em uma casa pequena envelhecida pelo tempo e com remendos acumulados, seu pai havia falecido alguns meses antes por conta de uma overdose: no momento em que abriu a porta do quarto, já não havia o que ser feito, porém ela tentou. O homem morreu com os olhos arregalados, sufocado no próprio vômito e com a seringa de heroína ainda pendurada em seu braço enquanto ela tentava fazer RCP. Demorou semanas até que o gosto da bile amarela saísse de sua boca. Joe foi muito gentil ao aceitá-la, comovendo-se com a história da garota a contratou mesmo que o quadro de funcionários já estivesse cheio, era algo temporário enquanto o currículo dela vagava por aí prestes a ser aceito em algum lugar que pagava muito melhor do que um quarentão barbudo dono de um barzinho de esquina.

ㅤㅤㅤDois gatos passaram correndo por ela tirando-a de seus pensamentos, o ruído que emitiram entre si fizeram com que ela xingasse em meio a sua oração e logo se desculpasse por isso, recompondo-se e continuando sua caminhada. Passos começaram a ecoar junto aos dela fazendo seu corpo ficar tenso pela proximidade que soavam, logo ouviu uma voz grave cantando uma canção.

ㅤㅤㅤ― I'll tear your soul apart, gather your wits and hold on fast, your mind must learn to roam. ― Quase instantaneamente reconheceu como The Acid Queen, sua música preferida da banda The Who.

ㅤㅤㅤO medo surgia inconscientemente sempre que encontrava com alguém pelo caminho, a ansiedade crescia em seu peito junto e quando viu um homem alto com cabelos um pouco grandes demais sair do beco que dava acesso à rua de baixo, sentiu vontade de ir na outra direção até que ele se virou para ela e a encarou, com um sorriso nos lábios. Suzana soltou um suspiro aliviado e as palavras, mesmo que não ditas, foram escutadas, o longo e extremamente aliviado: "Você!"

ㅤㅤㅤ― O que faz por aqui? ― Indagou andando em direção a ela e a cumprimentando com um aperto de mão. ― É perigoso.

ㅤㅤㅤ― Estou indo para casa, senhor. ― Respondeu.

ㅤㅤㅤ― Não, não precisa me chamar de senhor aqui fora, querida. ― Ele deu aquele sorrisinho que a deixava sem fôlego. ― Você não está em expediente.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora