ㅤㅤㅤDepois daquele dia, seus pesadelos pioraram e, junto a eles, se formou uma realidade distorcida ao seu redor, alimentada pela incerteza do que era real ou não e pelo medo do que se espreitava nas sombras.
ㅤㅤㅤAlice Taylor trocou as fechaduras da porta e janelas, trocou o segredo do armário no colégio e tentou excluir a matéria de história de sua grade escolar, apenas para a secretária de cabelos arrepiados rir de sua pergunta e informar que aquilo não era possível, não adianta implorar, Alice. Qual o problema?
ㅤㅤㅤO problema é que ela fechava os olhos por breves minutos em sua cama e quando tornava a abri-los estava no meio de uma partida de sinuca valendo 25 pratas. Olhava ao redor, assustada, procurando o predador que rondava as esquinas de sua mente e piscava, apenas para voltar para dentro da sala de aula.
ㅤㅤㅤOs rostos que a acompanhavam constantemente pareciam mais agressivos, falavam todos os tipos de obscenidade e suas feições se modificaram para uma aparência mais animalesca.
ㅤㅤㅤAs vozes não eram mais ruídos brancos no fundo de sua mente, sentia como se alguém tivesse aumentado o volume da televisão no meio da noite para causar desconforto. As palavras eram sussurradas de forma distorcida, de trás pra frente e em outros idiomas, mas de alguma maneira, ela conseguia entendê-las com clareza.
ㅤㅤㅤE todas gritavam a mesma coisa: cuidado.
ㅤㅤㅤ― Alice?
ㅤㅤㅤEla o encarou.
ㅤㅤㅤNos primeiros segundos, ela ainda não estava totalmente consciente, mas aos poucos sua visão se focou nos olhos castanhos e seu corpo tomou forma diante dela. Há quanto tempo estava ali?
ㅤㅤㅤEm sua mão, uma faca de cozinha pesava esquecida em meio a cenas sangrentas que passavam em sua mente em algum momento, mas agora não passavam de um borrão esquecido no galpão. O utensílio caiu na pia de inox, causando um estrondo quando ela percebeu que não tinha boas intenções.
ㅤㅤㅤO rapaz carregava uma expressão séria; o rosto inchado mostrava que havia acordado no melhor de seu sono e ele esfregou os olhos. Estava completamente despido, assim como ela.
ㅤㅤㅤ― O que está fazendo? ― indagou.
ㅤㅤㅤAlice abriu a boca, mas não soube responder.
ㅤㅤㅤ― Vamos dormir, Al. ― Lucas esticou a mão em sua direção em uma tentativa de alcançá-la.
ㅤㅤㅤEla desviou de seu toque antes mesmo que chegasse perto o suficiente e foi até o sofá, acendendo um cigarro para tentar se livrar da sensação da faca em sua mão. Não era ela naquele momento e temia o que a outra estivesse planejando quando ela estava adormecida.
ㅤㅤㅤ― Você pode ir pra casa. ― Alice murmurou sem olhá-lo diretamente, o queixo apoiado no joelho fazia sua voz soar entediada.
ㅤㅤㅤ― Como?
ㅤㅤㅤEla o encarou, tinha sido clara o suficiente.
ㅤㅤㅤ― Eu não entendo você.
ㅤㅤㅤNem deveria, respondeu mentalmente soltando um suspiro e dando outra tragada. Não conseguia imaginar o que passaria na cabeça de Lucas se ele a entendesse como queria; ele já não estaria ali e ela provavelmente estaria presa.
ㅤㅤㅤDurante seu expediente, Alice telefonou para Lucas pedindo que ele dormisse no apartamento e deixou escapar que estava com medo de ficar só. Ela o buscou em casa e eles seguiram em silêncio boa parte do caminho. Quando Lucas perguntou sobre o que ela estava falando, Alice desconversou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
o diário de alice taylor.
Mystery / ThrillerAlice Taylor equilibrava uma vida mundana com suas visitas à Toca do Coelho, um galpão abandonado onde enterrava seus segredos e se livrava de suas vítimas. Mas tudo muda quando Lucas Smith, o garoto popular de seu novo colégio, cruza seu caminho. E...