2. capítulo dezesseis

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ㅤㅤㅤDepois daquele dia, seus pesadelos pioraram e, junto a eles, se formou uma realidade distorcida ao seu redor, alimentada pela incerteza do que era real ou não e pelo medo do que se espreitava nas sombras.

ㅤㅤㅤAlice Taylor trocou as fechaduras da porta e janelas, trocou o segredo do armário no colégio e tentou excluir a matéria de história de sua grade escolar, apenas para a secretária de cabelos arrepiados rir de sua pergunta e informar que aquilo não era possível, não adianta implorar, Alice. Qual o problema?

ㅤㅤㅤO problema é que ela fechava os olhos por breves minutos em sua cama e quando tornava a abri-los estava no meio de uma partida de sinuca valendo 25 pratas. Olhava ao redor, assustada, procurando o predador que rondava as esquinas de sua mente e piscava, apenas para voltar para dentro da sala de aula.

ㅤㅤㅤOs rostos que a acompanhavam constantemente pareciam mais agressivos, falavam todos os tipos de obscenidade e suas feições se modificaram para uma aparência mais animalesca.

ㅤㅤㅤAs vozes não eram mais ruídos brancos no fundo de sua mente, sentia como se alguém tivesse aumentado o volume da televisão no meio da noite para causar desconforto. As palavras eram sussurradas de forma distorcida, de trás pra frente e em outros idiomas, mas de alguma maneira, ela conseguia entendê-las com clareza.

ㅤㅤㅤE todas gritavam a mesma coisa: cuidado.

ㅤㅤㅤ― Alice?

ㅤㅤㅤEla o encarou.

ㅤㅤㅤNos primeiros segundos, ela ainda não estava totalmente consciente, mas aos poucos sua visão se focou nos olhos castanhos e seu corpo tomou forma diante dela. Há quanto tempo estava ali?

ㅤㅤㅤEm sua mão, uma faca de cozinha pesava esquecida em meio a cenas sangrentas que passavam em sua mente em algum momento, mas agora não passavam de um borrão esquecido no galpão. O utensílio caiu na pia de inox, causando um estrondo quando ela percebeu que não tinha boas intenções.

ㅤㅤㅤO rapaz carregava uma expressão séria; o rosto inchado mostrava que havia acordado no melhor de seu sono e ele esfregou os olhos. Estava completamente despido, assim como ela.

ㅤㅤㅤ― O que está fazendo? ― indagou.

ㅤㅤㅤAlice abriu a boca, mas não soube responder.

ㅤㅤㅤ― Vamos dormir, Al. ― Lucas esticou a mão em sua direção em uma tentativa de alcançá-la.

ㅤㅤㅤEla desviou de seu toque antes mesmo que chegasse perto o suficiente e foi até o sofá, acendendo um cigarro para tentar se livrar da sensação da faca em sua mão. Não era ela naquele momento e temia o que a outra estivesse planejando quando ela estava adormecida.

ㅤㅤㅤ― Você pode ir pra casa. ― Alice murmurou sem olhá-lo diretamente, o queixo apoiado no joelho fazia sua voz soar entediada.

ㅤㅤㅤ― Como?

ㅤㅤㅤEla o encarou, tinha sido clara o suficiente.

ㅤㅤㅤ― Eu não entendo você.

ㅤㅤㅤNem deveria, respondeu mentalmente soltando um suspiro e dando outra tragada. Não conseguia imaginar o que passaria na cabeça de Lucas se ele a entendesse como queria; ele já não estaria ali e ela provavelmente estaria presa.

ㅤㅤㅤDurante seu expediente, Alice telefonou para Lucas pedindo que ele dormisse no apartamento e deixou escapar que estava com medo de ficar só. Ela o buscou em casa e eles seguiram em silêncio boa parte do caminho. Quando Lucas perguntou sobre o que ela estava falando, Alice desconversou.

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