2. capítulo dez

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ㅤㅤㅤA voz profunda ressoou em seu crânio causando um calafrio familiar percorrer sua espinha, seu corpo congelou graças ao pior instinto de sobrevivência do mundo - submissão ao predador. O braço não estava mais em contato com a garota, mas ainda era mantido à sua frente para evitar que a briga se iniciasse novamente.

ㅤㅤㅤ― O que está acontecendo aqui? ― Repetiu novamente, dessa vez suas palavras eram pausadas, autoritárias.

ㅤㅤㅤAmélia, ainda no chão com o rosto tão vermelho quanto seus antigos cabelos, gaguejava ao tentar formular uma frase coerente. O desespero e vergonha em seus olhos falsos significavam muito mais do que uma aluna se metendo em confusão.

ㅤㅤㅤ― Voltem para suas salas. ― Disse impotente aos demais alunos que começaram a se dissipar rapidamente até sobrar apenas eles. ― Greene, vá para enfermaria colocar uma compressa fria em seu rosto.

ㅤㅤㅤCom a respiração curta, Alice assistiu a garota levantar com dificuldade, passando as mãos pelos cabelos assanhados e comprimiu os lábios como se as palavras estivessem na ponta da sua língua, mas se obrigou a engolir seco e se retirou.

ㅤㅤㅤO silêncio prevaleceu até ela sair de vista.

ㅤㅤㅤ― E você, Frances? ― Indagou voltando sua atenção para ela, sentia-se encurralada com os dedos compridos se fechando ao redor de seu cotovelo enquanto ele a estudava atentamente como um abutre. ― O que aconteceu?

ㅤㅤㅤ― Coisas de garota. ― Respondeu tentando disfarçar o tremor na voz e o desconforto ao ser assistida pela escuridão. Conseguia ver as Pessoas de Sombra se acumulando ao redor deles. ― Estou encrencada?

ㅤㅤㅤO professor afrouxou o aperto e olhou no relógio dourado em seu pulso, balançando a cabeça negativamente.

ㅤㅤㅤ― Pelas normas, eu deveria acompanhá-la até a direção, porém odeio atrasar minhas aulas e você já me fez perder cinco minutos. ― Ele a encarou com seriedade por um momento, mas logo seus olhos se estreitaram ao abrir um sorriso torto, charmoso. ― Vamos acertar o seguinte: três doses hoje, por sua conta, e ficaremos quites.

ㅤㅤㅤAlice, que até aquele momento prendia a respiração, deixou uma risada trêmula de alívio escapar.

ㅤㅤㅤ― Não se meta em confusão, Frances, nem sempre estarei por perto para te ajudar. Entendido? ― Seu tom de voz autoritário penetrava em sua mente.

ㅤㅤㅤ― Sim. ― Ela engoliu seco.

ㅤㅤㅤ― Sim, o que? ― Indagou com a voz abaixando dois tons e inclinando um pouco a cabeça em sua direção.

ㅤㅤㅤO corpo ficou estático com aquela ameaça de proximidade, os olhos do predador tinham um imã que prendiam os seus impossibilitando-a de desviar o olhar. As íris eram inexistentes a olho nu.

ㅤㅤㅤ― Sim, senhor.

ㅤㅤㅤAs palavras flutuavam como fumaça diante deles, preenchendo a pequena distância que os separavam. O homem respirou fundo inalando-as e seus olhos escureceram quando o sorriso de dentes pontudos se alargou, a língua correu os lábios saboreando uma vitória silenciosa. Alice se sentia sufocada por sua presença, ouvindo o próprio coração ecoando em seus ouvidos e as pernas ficarem trêmulas.

ㅤㅤㅤ― Vá para aula. ― Disse ríspido ao se afastar. ― Está atrasada.

ㅤㅤㅤManteve-se congelada no mesmo canto, observando-o se distanciar e entrar na sala há alguns metros de distância no corredor. Engoliu seco, olhando para baixo e estendendo as mãos trêmulas e ensanguentadas diante de si.

ㅤㅤㅤIsso não é real.

ㅤㅤㅤ― Alice!

ㅤㅤㅤEla virou o rosto observando o garoto correr contra o fluxo de alunos que rumava para o refeitório e ir de encontro a ela, Alice tornou a olhar para suas mãos limpas. Eu fiquei aqui o tempo todo? Não conseguia lembrar de ter ido para aula.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora