1. capítulo quinze

40 6 1
                                    

ㅤㅤㅤPassou as mãos pela frente do vestido para se livrar dos pelos do morceguinho que agora comia uma de suas sandálias pela segunda vez na semana. Por que você não pegou a velha que já está mastigada, seu bostinha? Revirou os olhos, indo para a frente do espelho do quarto. Usava um vestido de cetim justo da cintura para cima que dava a impressão de estar usando um espartilho por baixo, a partir daí se tornava rodado levemente armado por si só, não havia planejado nada e foi uma compra em cima da hora em um brechó qualquer; quando o encontrou, a saia chegava próximo aos seus tornozelos, mas com a tarde livre teve tempo para cortá-la até que chegasse na metade de suas coxas. Usava uma meia calça arrastão branca para combinar com o tecido e uma bota preta. De cima da geladeira, tirou par de asas brancas e felpudas que precisou esconder para impedir a destruição completa do adereço; as colocou como uma mochila e chegou a conclusão de que estava se sentindo ridícula, infelizmente não havia mais tempo de trocar de roupa.

ㅤㅤㅤ─ Você vai ficar bem? ─ indagou ao cachorro que latiu, os olhinhos estavam vidrados nas penas que ela tinha nas costas, poderia ter perguntado qualquer coisa a ele e ele teria concordado. Acariciou as orelhas de morcego. ─ Tente destruir apenas as sandálias que você já comeu, se eu chegar aqui e encontrar alguma coisa fora do lugar juro que vou pisar em você.

ㅤㅤㅤEle lambeu os dedos animadamente.

ㅤㅤㅤ─ Por que você é tão estúpido?

ㅤㅤㅤConferiu se todas as janelas estavam fechadas: quarto, sala e corredor e fechou a porta de seu quarto por garantia e pegou duas aspirinas antes de sair. A dor que martelava por trás de seus olhos poderia muito bem ser sua desculpa para ficar em casa naquela noite, porém precisava se divertir um pouco, ela merecia. Trancou tudo e acendeu um cigarro enquanto descia as escadas, topou com a mulher do apartamento ao lado e ofereceu um a ela, que aceitou e agradeceu subindo para casa; eram aquelas seus tipos preferidos de amizade, as que não se metiam em sua vida e falavam apenas o básico e não roubavam seu diário. Balançou a cabeça, tinha superado aquilo e não traria pensamentos negativos, já os tinha demais.

ㅤㅤㅤBrian a esperava no carro trajando um terno esportivo cinza com uma blusa roxa por dentro, não sabia muito bem que fantasia aquilo era, mas não se preocupou em perguntar. No banco da frente, estava uma garota muito magra de cabelos negros e olhos azuis chamada Liz, usava uma fantasia de dançarina de Charleston; no banco de trás, Amy sentava em uma das janelas (passou um monte de sangue falso na frente das vestes e no rosto para chamar de fantasia), no meio delas estava, Verona usando um vestidinho verde cheio de brilhantes e asas coloridas com luzinhas. Amélia cumprimentou a amiga, mas ficou sem respostas já que havia sido uma semana complicada para as duas desde a conversa que tiveram e Alice não estava nem um pouco disposta a melhorar a situação enquanto bolava um baseado para eles.

ㅤㅤㅤAo chegarem no estacionamento do colégio caminhavam pesados para o ginásio, Alice foi na frente dando uma leve corrida de mãos dadas com Verona enquanto riam bobamente. No campo havia sido montado um labirinto do terror para quem ousasse se arriscar, baseando-se em sua experiência quase recente com ambientes daquele tipo, Alice decidiu que ficaria o mais longe possível daquilo. As mesas haviam sido organizadas pelas laterais do ginásio deixando o centro vazio para que pudessem dançar, alguns alunos optaram sentar nas arquibancadas. Fitas roxas, laranjas e pratas caiam do teto onde prendiam-se junto a morcegos de borrachas e vassouras de mentira, em cima das mesas eram dispostas abóboras de verdade iluminadas por dentro por velas contrastando sinistramente com a iluminação fraca do ambiente em tons de roxo. O ginásio estava lotado, havia tantas fantasias que se perdeu tentando identificá-las: Marilyn Monroe, Michael Jackson, jedis, super-heróis, vilões... Uma banda tocava um rock animado que ela não conseguiu identificar os artistas (depois descobriu que era uma banda de garagem de uns garotos do segundo ano chamada garbagetruck).

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora