2. capítulo vinte

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ㅤㅤㅤOs braços pequenos cruzados na janela serviam de apoio para o queixo e ela olhava para o céu azul com uma expressão sonhadora, buscando entre as nuvens brancas formas que não mostrassem dentes afiados para ela. A criança murmurava uma canção ensinada por sua tia Jenna. O dia estava bonito e quente.

ㅤㅤㅤSua atenção foi atraída pelo movimento suspeito. De longe, pode ver a mulher saindo da farmácia com algumas sacolas penduradas no braço, arrumando os óculos escuros no rosto como se tivesse medo de ser reconhecida. Acendeu um cigarro e caminhou apressada pela calçada, os cabelos castanhos balançando em ondas ressecadas as suas costas.

ㅤㅤㅤClarisse Taylor era uma mulher bonita e atraía atenção facilmente por onde quer que andasse. Anos antes de se afundar totalmente em sua espiral de loucura, andava sempre bem vestida, maquiada e de saltos-altos; suas roupas de marcas eram sempre de seis estações anteriores, compradas em brechós de segunda mão.

ㅤㅤㅤA mulher entrou no carro junto a uma nuvem de fumaça que fez os olhos da pequena arderem e causou uma coceira na garganta que a fez tossir. As portas foram trancadas e ela olhou ao redor, garantindo que não tinha sido seguida por aqueles que a observavam.

ㅤㅤㅤEmpurrou as sacolas na direção da garota.

ㅤㅤㅤ― O que tem aqui, mãe?

ㅤㅤㅤ― É para te ajudar ― respondeu, checando seu reflexo no espelho retrovisor. Por um breve momento, conferiu o banco de trás.

ㅤㅤㅤ― Remédios? ― Alice disse em um tom tristonho ao ver o conteúdo da sacola. ― Eu não quero.

ㅤㅤㅤ― Você trouxe essa doença imunda, então eu preciso tirar ela de você para conseguir me curar ― retorquiu com ignorância, passando o batom vermelho nos lábios rachados. Seus dentes eram pontudos.

ㅤㅤㅤ― Mas eu...

ㅤㅤㅤ― Mas nada! ― Disse enfiando as mãos dentro da sacola e tirou um dos frascos, colocou dois comprimidos na palma da mão. ― Você é a causa de toda essa desgraça, o mínimo que você pode fazer por mim é tomar a droga desses remédios e agradecer.

ㅤㅤㅤ― Não quero. ― Gritou chorosa.

ㅤㅤㅤClarisse agarrou seu braço com força e cravou as unhas pontudas na pele fina com tanta força que o sangue começou a brotar, em seguida, apagou o cigarro no pulso da criança.

ㅤㅤㅤO grito estridente foi alto o suficiente para atrair atenção indesejada para elas se alguém estivesse passando perto, então a mulher forçou os comprimidos em sua boca e tapou seus lábios e narinas com a mão, impedindo que emitisse qualquer outro ruído.

ㅤㅤㅤ― Engula. ― Disse a voz distorcida.

ㅤㅤㅤAs lágrimas escorriam por seu rosto em silêncio.

ㅤㅤㅤAlice se debateu, com os olhos fechados e o rosto salgado, mas ele a segurou com firmeza no lugar e ignorou todas suas tentativas de afastá-lo.

ㅤㅤㅤ― Para ― pediu em um sussurro, segurando seu pulso com as duas mãos.

ㅤㅤㅤOs olhos negros a estudavam com curiosidade e as sobrancelhas franzidas de uma forma que beirava a piedade, como se acabasse de perceber a crueldade de seus atos. A boca entreabriu e o lábio inferior tremeu, balançou a cabeça ao jogar o cigarro pela janela. Mas quando ele tornou a olhá-la, era possível sentir a excitação e Adam abriu um sorriso.

ㅤㅤㅤ― Você é tão doce quando implora, Alice ― disse acariciando sua bochecha com o polegar. ― Agora você entende, não é? Isso não é um pedido, minha querida.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora