1. capítulo nove

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ㅤㅤㅤEntediada, chutou suas costelas para que ele acordasse, ainda grogue, tentando entender o que estava acontecendo e uma explicação plausível para as cordas em seus pulsos e tornozelos, a mordaça em sua boca e o nariz sangrento. Sentada em uma cadeirinha de praia com estampa colorida, Alice Taylor apoiava o queixo em sua mão enquanto girava a ponta do canivete em seu jeans; ao ver o movimento, pigarreou para atrair sua atenção e sua própria expressão se iluminou quando a cabeça do rapaz se virou em sua direção e ela o cumprimentou com animação.

ㅤㅤㅤSe conheceram em um bar afastado, juntou-se a ele na mesa porque o rapaz agia como quem precisa de companhia; era alguns anos mais velho, uma estrutura facial esquisita com olhos castanhos que pareciam assustados o tempo todo e sardas pelo rosto, morava sozinho com seu cachorro. Ela não planejou aquilo, quando percebeu a situação já estava fora de controle e ela era inocente ali.. Uma cena cômica pelo seu ponto de vista, pois historicamente ela deveria estar amarrada, dopada e indefesa no chão sujo de um galpão abandonado, implorando para que poupassem sua vida e a deixassem ir; talvez se seu mundo girasse para o lado certo, as coisas seriam assim, mas tudo sempre estava ao contrário. Respondia às perguntas curiosas do rapaz com fatos inventados que nunca se repetiam e os mesmos saiam tão convincentes que ficou preocupada por um momento na dúvida se estava mesmo vivendo a vida certa.

ㅤㅤㅤEu sei quem eu sou.

ㅤㅤㅤNo fim, estavam de volta ao velho galpão.

ㅤㅤㅤMorgan emitiu ruídos que pareceram muito com uma enxurrada de palavrões contra ela enquanto a mesma prendia seus cabelos, ajoelhando-se e se inclinando para o lado até seu rosto encostar no chão a alguns centímetros de distância do rapaz, sorriu olhando no fundo de seus olhos e enxergando a confusão. Era um alívio, ele estava se sentindo pior do que ela.

ㅤㅤㅤ― Espero que você entenda que não é nada pessoal, certo, Lucas? ― Utilizou seu tom mais doce. ― Primeiro é você e depois Amélia, precisei jogar na moeda para ver quem perdia. Eu definitivamente não queria estar nessa posição, por que vocês fizeram isso comigo? ― Continuou a falar ignorando o que quer que fosse que ele tentava dizer, apontou para a própria cabeça. ― Eu tenho uma amiga aqui e ela é meio... Enfim, é a única solução. Você alguma vez você já se sentiu como um sonâmbulo sem estar dormindo? Não sei o que dizer para ela.

ㅤㅤㅤPassou a ponta da lâmina na lateral de seu rosto e o segurou assistindo as lágrimas escorrerem por seus olhos, sua vontade era rasgar sua pele como um animal selvagem e se banhar com o sangue quente enquanto comia seus órgãos crus. Passou as pernas por cima do rapaz e sentou em seu colo, sentindo o cinto contra suas partes íntimas e se inclinou para ele, lambendo devagar o corte que havia sido feito; o gosto metálico tocou sua língua causando um tremor em sua espinha, sussurrou em seu ouvido que aquilo não passava de uma brincadeira e iria acabar logo, não precisa se preocupar. A lâmina perfurou o peito do homem tantas vezes que ela perdeu a conta, o sangue quente começava a espirrar em seu rosto, os gritos lentamente se distanciaram dando lugar apenas a um pulso abafado ecoando em sua cabeça e, naquele momento, Alice era apenas uma telespectadora daqueles terríveis atos. Não foi ela que o desmembrou, não foi ela que o estripou, mas talvez ela tenha opinado sobre o sorriso de orelha a orelha cortado no pescoço. Conversava sozinha sem conseguir ouvir as palavras, estava assistindo aquele filme sem ter a chance de desligar a televisão e sem conseguir interagir com os participantes.

ㅤㅤㅤEstava cansada daquilo.

ㅤㅤㅤMeia hora antes de seu expediente começar, sentada no sofá comendo o melhor sanduíche requentado de bacon da cidade junto a uma garrafa de cerveja barata e ela ignorava a pequena figura peluda que estava aos seus pés pedindo um pedaço da comida. Agora você deve estar se perguntando: por que diabos tinha um cachorro ali? Ele é real ou ela está delirando? Acredite em mim quando digo que Alice estava fazendo as mesmas perguntas.

o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora