1. capítulo treze

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ㅤㅤㅤPassar seu número de telefone para sua irmã foi um gesto simbólico e ela não esperava que fossem ter algum tipo de contato tão cedo, poderiam falar sobre um almoço ou uma janta que nunca marcariam uma data certa e deixariam aquilo cair no esquecimento, porém Alice foi convidada a passar um dia em sua casa e elas tinham bastante assuntos para colocarem em dia, mas Georgia e o marido estavam atolados com o trabalho e a babá havia ficado doente; claro que posso cuidar da sua filha, família é para isso, não é mesmo? falando nisso, será que você poderia me arrumar um trocado? Era incrível, para não dizer humilhante, como conseguiu se manter sozinha por tanto tempo com um emprego fixo, estudos e uma perfeita instabilidade mental, mas justo quando reencontrou sua irmã, as coisas começaram a desandar.

ㅤㅤㅤA porta bateu, olhou ao redor balançando-se sobre os pés para trás e para frente antes de ir para a sala de estar. Estava tudo igual a última vez em que pisou ali, quase como se o tempo não tivesse passado e havia sido no dia anterior que elas se despediram, estudou a mesa com tampo de vidro que ficava no canto exibindo vários portas-retratos: sua formatura, seu casamento, o primeiro dia da sua filha em casa, uma família feliz; em meio a esses, outros mostravam o passado e carregavam uma energia pesada que adquiriram na casa de seus pais, como por exemplo aquele que mostrava Papai e a Mamãe Taylor com nove meses de gestação e a filhota que sorria de orelha a orelha com as duas mãos na barriga da mãe. Era uma foto perfeitamente normal, mas se você olhasse bem os olhos de Clarisse mudaria de ideia rapidamente; talvez fosse a luz - Alice sabia que não -, mas naquele momento de felicidade o fotógrafo teve o desprazer de capturar o futuro da família em seus olhos, um brilho insano que poderia ter passado por um milésimo de segundo, mas que ficou registrado para sempre. Balançou a cabeça e riu ao encontrar sua favorita, Georgia com onze anos de idade sorrindo para a câmera de um jeito espontâneo exibindo as mãos sujas de terra enquanto Alice de quatro anos estava emburrada com os braços cruzados.

ㅤㅤㅤOs olhos demoraram nos registros da família Rose. Nunca entendeu o porque de Georgia teve direito de viver uma vida tranquila, sem escuridão ou terrores constantes, enquanto ela ficou presa naquele ciclo; passaram a infância na mesma casa sendo criadas pelos mesmos pais e, mesmo assim, a única coisa em comum que possuíam era um sobrenome. Aquilo não era justo e, no fundo, sentia inveja da irmã mais velha. Liam Rose era um homem alto e magro com cabelos loiros e pele bronzeado com o rosto carregado de suas descendências californianas, se tivesse cabelos compridos e o corpo um pouco mais musculoso poderia ser confundido com um surfista que se perdeu no mar, parando nas águas frias de Seattle. Ele e Georgia se conheciam desde o colegial, foram amigos por um longo período de tempo (inclusive ele foi muito presente em sua vida na época do incidente dos Taylor) e estudaram na mesma faculdade onde finalmente começaram a namorar. Atualmente, era um advogado com escritório próprio e seu cabelo começava a cair. Alice o via cada vez menos com o passar dos anos e, da última vez, ele estava correndo pela casa catando papéis com uma torrada pela metade na boca e a gravata solta enquanto suas calças caiam.

ㅤㅤㅤSentou no sofá e começou a zapear pela televisão a procura de algo interessante naquele horário, o jornal local noticiou outra morte de alguma garota enquanto ela estava distraída ao receber uma mensagem de Amy perguntando onde ela estava e, antes dessa, havia outra em que ela contava que estavam comentando bastante nos corredores que Lucas Smith esteve em um encontro com Freaktaylor: Não foi um encontro, Amy, repetiu em voz alta ao escrever a mensagem e pensou na possibilidade de contar para ela o que aconteceu entre eles dois depois que saíram de lá, mas a verdade era que nada havia acontecido de fato porque Lucas não pode ficar naquela noite - precisava estar em casa antes das dez para não deixar sua irmã só, já que sua mãe estava de plantão e a babá ficaria apenas até esse horário. Alice assentiu positivamente e, embora seu semblante parecesse um pouco frustrado, suspirou aliviada porque foi uma pergunta feita sem pensar e ela não sabia como iria se sentir caso ele aceitasse; naquela noite, não se falaram mais, porém no domingo havia trocado mensagens sobre os mais variados assuntos - diferente do que ela esperava, ele não comentou sobre o que aconteceu no parque ou sobre o convite, o que a deixou confortável.

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