2. prólogo

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ㅤㅤㅤOs músculos estavam travados depois de ficarem tanto tempo na mesma posição, o álcool que ainda corria em suas veias começava a se dissipar pouco a pouco e ela não conseguia se recordar como parou ali. Algumas horas antes estava em um clube noturno aleatório enchendo a cara como antes e, em uma piscada de olhos mais sonolenta, a garota implorava por sua vida em seus últimos suspiros no chão sujo. Por que nós estamos aqui?, indagou sem esperar uma resposta já que a mesma era óbvia.

ㅤㅤㅤUm mês antes, Suzana Flowers foi a última vítima e desde então o'Estripador voltou para as sombras, sem pistas de sua identidade ou novos casos ocorrendo as pessoas foram se esquecendo aos poucos, enquanto isso Alice Taylor perdeu as contas de quantas vezes visitou o galpão nas últimas semanas e mal conseguia se recordar do rosto das amigas que a acompanharam, mas quando as via na televisão sentia o corpo mergulhar em uma desconfortável sensação de deja vu, sem ter certeza se lembrava de uma versão delas que conheceu antes do jornal local ou depois.

ㅤㅤㅤAbraçava suas pernas como se sua vida dependesse daquilo, os joelhos estavam cobertos por feias marcas de mordidas feitas em uma tentativa de escapar daquela realidade. Queria acordar. As lágrimas haviam congelado em algum canto dentro dela, não sabia de onde aquela maldita vontade havia surgido, mas ela só queria conseguir chorar.

ㅤㅤㅤIsso era cômico.

ㅤㅤㅤAlice Taylor.

ㅤㅤㅤE toda confusão era por causa dele, seu pesadelo mais recente que, noite após noite, se repetia em um looping que o transformava em algo grotesco. Algo inumano. Passava dias sem dormir na esperança de conseguir fugir daquele espreitador, porém depois de um tempo passou a ouvir suas palavras no fundo de sua mente enquanto estava acordada: Deixe-me ver seus segredos, Alice Taylor, então ela despertava no galpão e tudo se repetia novamente.

ㅤㅤㅤDesde aquele dia, tinha a constante sensação de estar sendo vigiada, a escuridão que a cercava se tornou um lugar inóspito porque tudo se assemelhava aos olhos dele, sempre que piscava era como estar novamente diante do abutre.

ㅤㅤㅤMesmo em sua Toca do Coelho, sentia-se vulnerável.

ㅤㅤㅤIsso não é real e é completamente ridículo, concluiu.

ㅤㅤㅤA verdade é que naquele dia apagou por quase trinta horas após dois dias sem dormir e, quando acordou, com o gosto de vômito em sua boca, a Outra-Alice tinha alimentado o cachorro e arrumado a bagunça - não havia sinais de que outra pessoa além dela mesma tivesse entrado ou saído do apartamento, ninguém mais tinha sua chave e a porta não foi arrombada.

ㅤㅤㅤEsqueça isso, dizia todas as vezes em que sua mente vagava para aquele assunto, se pensasse demais iria enlouquecer. A voz queria seu mal, os lábios se mexiam de forma inconsciente enquanto a outra cantava a canção de ninar por sua boca, te transformou em um animal. Não poderia deixar que ela vencesse de novo e, com um suspiro pesado, se forçou a levantar sentindo uma leve pontada nas costelas.

ㅤㅤㅤSua cabeça doía.

ㅤㅤㅤO corpo estava há alguns metros de distância com o rosto completamente irreconhecível após ser desfigurado pela lâmina da faca em sua mão, lembra-se da sensação da carne sendo perfurada repetidas vezes até seu próprio corpo parar de tremer - frio ou nervosismo, ela não saberia dizer. No pescoço da garota, um sorriso sangrento foi aberto de orelha a orelha e, para complementar, seu peito foi aberto exibindo suas costelas e o vazio que seu interior se tornou.

ㅤㅤㅤDo lado de fora, em uma das noites mais frias daquele ano, uma pequena fogueira crepitava na escuridão fazendo com que a neve ao seu redor evaporasse, as faíscas que escapavam ocasionalmente erguiam-se para o céu e o fogo alaranjado devorava pouco a pouco os restos mortais que eram oferecidos como alimento. A fumaça que preenchia o ar subia com um sabor distinto, os olhos de lápis-lazúli denunciavam uma ânsia que nem mesmo ela tinha consciência ao assistir as chamas lambendo a carne.

ㅤㅤㅤAgachou abraçando seus joelhos e se inclinou em direção ao calor para poder encarar melhor o coração humano que queimava lentamente, aquela imagem foi como um deleite para seu cérebro fazendo-a sentir uma palpitação ansiosa em sua garganta, inconscientemente, umedeceu os lábios ressecados. As sobrancelhas franzidas eram um reflexo dos pensamentos que começavam a se formar em sua mente tão sorrateiros que ela não os compreendia, estava focada em um único objetivo quando sentiu sua boca encher de água, porém seu próprio corpo a impedia de seguir em frente - a barriga roncou sonoramente como incentivo quando seu estômago ansiou pela recompensa.

ㅤㅤㅤE se...?

ㅤㅤㅤEsticou a mão para frente em movimentos lentos que não expuseram demais o que pretendia fazer, mas os olhos a entregavam ao brilhar com um desejo em sintonia com a língua que corria os lábios novamente, se demorasse demais, ele queimaria e ela não poderia prová-lo no ponto perfeito. Seu rosto instantaneamente se contorceu em uma careta quando a pele entrou em contato com o fogo, despertando-a do transe e ela se xingou em voz alta ao analisar a ponta dos dedos que ardiam, vermelhas.

ㅤㅤㅤOlhou ao redor para certificar de que estava sozinha.

ㅤㅤㅤAinda estou aqui, pensou.

ㅤㅤㅤEstava ficando cada dia mais difícil acordar. 

sei que geralmente posto por volta das 16hr/18hrs, mas estava tão ansiosa que programei pra postar logo que virasse o dia! 

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sei que geralmente posto por volta das 16hr/18hrs, mas estava tão ansiosa que programei pra postar logo que virasse o dia! 

o que acharam da nova capa? 

não esqueçam de favoritar os capítulos que leram e, caso queiram, deixar comentários. gosto de receber o feedback de vocês, significa muito pra mim <3

beijos da vdek


o diário de alice taylor.Onde histórias criam vida. Descubra agora