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Alison

O estabelecimento estava cheio e era difícil encontrar Will no meio daquela gente toda.

Semicerro os olhos tentando descobrir o rapaz de cabelos escuros, mas passado alguns segundos percebo que provavelmente ele ainda não tinha chegado. Afinal ainda faltavam 5 minutos para a hora combinada.

Vagueio por entre as mesas à procura de uma livre e finalmente encontro uma para duas pessoas ao lado da janela.

Sento-me e coloco os meus auriculares, deixando a música fluir, enquanto espero por Will.

Do lado de fora do estabelecimento, era possível observar os raios de sol a penetrarem por entre as nuvens que cobriam o céu. Apesar de cinzento, o dia estava abafado.

Retiro o casaco que cobria os meus braços, anteriormente frios, e sinto o ambiente quente que se sente no local onde me encontro.

Olho para a porta de entrada do McDonald's à espera de ver um par de olhos azuis entrar por ela, mas começo a pensar que ele talvez não apareça. Já são 20:10 e Will ainda não deu sinais de vida. Não o conheço suficientemente bem para saber se ele já é desleixado por si próprio, ou se isto foi apenas uma vez se exemplo. Não que eu seja daquelas raparigas que se irrita com um rapaz por ele chegar atrasado. Talvez até tenha acontecido alguma coisa.

Decido procurar na minha mala pelo pequeno papel que Will me tinha dado 1 semana antes. Quando o encontro, marco o número que se encontrava escrito nele no meu telemóvel e espero cerca de 15 segundos.

Voicemail.

Frustrada e com medo de que realmente alguma coisa tenha acontecido guardo os meus pertences novamente na minha mal azul e por momentos reparo que aquele era o azul dos olhos do Will. Escuro como o céu antes de uma tempestade.

Desvio os meus devaneios da mente e levanto-me do meu lugar dirigindo-me de seguida à porta de entrada. Enquanto caminho até lá reparo que o estabelecimento já não se encontra tão lotado como há minutos atrás.

Quando alcanço o puxador da porta, abro a mesma e a primeira coisa que vejo do lado de fora são duas faces coradas, dois olhos azuis tapados por cabelos escuros desalinhados e uma respiração ofegante que embatia no meu rosto.

"Oh, Will! Pensei que te tinha acontecido alguma coisa!"

"Peço imensa desculpa, Alison." – ele diz, apoiando as mãos nos joelhos e tentando recuperar o fôlego. – "O autocarro onde vinha avariou a meio do caminho e tive de vir a correr o resto dele. Três quarteirões são demasiado para mim." – Will conta, deixando um curta risada ao seu último comentário.

"Não há problema, só estava preocupada. Vamos mas é entrar que já estou com fome." – digo e agarro no seu pulso puxando-o para dentro do estabelecimento.

"O que vais querer?" – ele pergunta quando paramos numa das 5 filas que nos levam até às caixas.

"Um Happy Meal."

"Vais comer um Happy Meal?" – o sorriso dele abre-se o que faz os seus olhos parecerem mais brilhantes do que o normal.

"Sim, tens algum tipo de problema com isso?" – eu pergunto tentando parecer séria, mas sem grande sucesso, já que os cantos da minha boca teimavam em revirar-se.

"Não, nenhum." – Will afirma e lança os braços para o ar num ato de rendição. Rio-me com a sua reação e aproveito o momento para olhar para o seu rosto anguloso. A sua respiração já se encontra normalizada, mas as faces ainda se encontram coradas e os cabelos ainda se encontram desalinhados, dando-me uma enorme vontade de os colocar no sítio correto, mas resisto aos meus pensamentos ridículos e desvio-os da minha mente, juntamente com o meu olhar.

Depois de termos feito os nossos pedidos e de Will ter insistido em pagar ambos, - dando a explicação de que era o meu aniversário e que, por isso, eu não iria pagar nada – dirigimo-nos até à mesa onde eu estava sentada há pouco e sentamo-nos de frente um para o outro, pousando os tabuleiros em cima desta.

"Então como está a correr o teu aniversário?" – Will pergunta, acabando com o silêncio constrangedor que tinha caído sobre nós.

"Bem... Como todos os outros. Nada de novo, apenas a velha e habitual vida secante."

"Então, vires jantar comigo ao McDonald's é normal? Bem me parecia que a minha memória estava a ficar fraca." – gargalho com a sua afirmação e Will junta-se a mim. Rapidamente um ambiente alegre nos acolhe.

"É verdade! Disseste que és de Sydney. Talvez conheças Marrickville...?"

"Oh, eu sou de lá! Nasci no centro de Sydney, mas mudei-me para Marrickville quando tinha cerca de 8 anos. Os meus pais compraram lá casa quando a minha irmã mais nova nasceu. Na antiga casa não tínhamos quartos suficientes para todos."

"Isso é ótimo! Talvez conheças uma morada que eu..." – eu começo mas sou interrompida por Will.

"Alison, tu disseste que ias viajar para lá nas próximas semanas... Eu vou visitar os meus pais daqui a 5 dias e estava a pensar se não quererias ir comigo? Podias ficar em nossa casa durante o tempo que precisasses. Tenho a certeza absoluta que os meus pais não se importariam. E assim não tinhas de ter as normais preocupações de pagar um hotel e de andares a vaguear nas ruas sozinha. Eu podia ajudar-te a encontrar ou reencontrar seja quem for que procuras. E por favor não digas que não. Leva isto como um presente de aniversário. Eu quero mesmo que confies em mim e que me vejas como um verdadeiro amigo. Aceita, Ali, por favor."

"Eu... Eu não sei que te diga, Will."- estava realmente surpreendida pela súbita proposta. Poderia aceitar? Sem dúvida que iria ser benéfico já que não precisava de viajar e ficar sozinha num país que não conheço (num continente aliás), mas por outro lado... não havia coisas negativas pois não? Eu podia até não conhecer muito bem Will, mas não acho que ele alguma vez trairia a minha confiança.

"Eu percebo que seja muito repentino, Alison, mas eu percebi que querias encontrar essa pessoa mais do que tudo e eu gostava muito de ajudar nesse processo." – ele diz, enterrando os dentes no seu lábio inferior.

"Tudo bem, Will. Eu vou contigo."

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