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Alison

Estou a divertir-me mesmo. Ainda não sei como é possível, mas o ambiente encontra-se bastante acolhedor.

Os amigos de Will são todos simpáticos e nada intimidantes. O Ashton não dispensa as anedotas, os gémeos Thomas e Scott adoram fazer flirt e a Charlotte tem sempre uma resposta na ponta língua para lhes dar. Continuo com as boas primeiras impressões.

Todos me aceitaram muito bem no "grupo". Apesar de algumas piadas que o baterista – vim a saber que o Ashton era o professor do Simon – me lançava e ao Will devido ao que ele diz ser o «nascimento de uma relação» (e a que Charlotte logo lhe cortava a palavra), a noite está a passar da melhor forma possível.

Nada de álcool, o que me agrada. À minha frente tenho um delicioso batido de frutos silvestres que vou bebericando através da palhinha cor-de-rosa.

Levo a mão ao pescoço involuntariamente e dou um pequeno suspiro quando não sinto o meu colar; apenas encontro as asas de anjo que Will me dera – que, apesar de ser um lindo pingente, nunca acabará com o vazio que o outro provoca.

"Então Alison, qual é a tua história de vida?" – uma voz masculina faz-se ouvir e eu volto ao mundo real. Ashton fitava-me com um sorriso branco.

Fico um pouco à toa. Conheci-os há uma hora atrás. Deveria já contar tudo sobre a minha vida? A morte dos meus pais? A mudança de Queens para Brooklyn? Habituar-me a viver com os meus tios? E, mais importante... Deveria de lhes falar sobre Luke?

Não sou boa a mentir, portanto está fora de questão. Esconder coisas também não deve correr bem... Vai ter que ser. Quem me dera que Will não tivesse ido à casa de banho; podia salvar-me de certa forma.

"Hum..."- começo, não muito confiante. – "A história da minha vida não é lá grande coisa. Nasci em Queens ... Os meus pais morreram quando eu tinha 7 anos. – recebo um arregalar de olhos das 4 pessoas à minha volta. Charlotte aperta-me o pulso de forma apaziguadora. Respiro fundo e continuo. – Mudei-me para casa dos meus tios em Brooklyn depois disso. Na altura apenas a irmã da minha mãe lá morava, mas entretanto casou-se. Agora moro com ela e com o marido e com a sua filha – a minha prima -, Chloe. Em termos profissionais... tenho estado a tirar um curso de Psicologia, mas não estou a gostar lá muito; vou desistir muito provavelmente. Sinceramente não sei o que vou fazer da minha vida. Trabalho numa livraria e é de lá que vem o dinheiro que tenho. Por agora vivo bem assim. Os meus tios também me ajudam; devo-lhes muito. E, hum..." – detenho-me. Não lhes vou contar sobre Luke; não agora. – "Bem, é isto."

"Oh, hum... Lamento muito pelos teus pais." – Ashton murmura.

"Não precisas. Já passaram muitos anos. Já me habituei à situação." – um soluço escapa-me da garganta e sinto as lágrimas no canto dos olhos. Pisco os mesmos repetidamente tentando afastá-las. – "Bem... quase."

Charlotte abraça-me. Gosto dela, mas não achei que fosse tão compreensiva e afetuosa. Fiquei um pouco embasbacada com o gesto mas correspondi a este lançando-lhe os braços à volta da cintura. Fico com a visão fusca e, sem aguentar, deixo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Sinto-me bem ao deixá-las cair; é bom partilhar o que guardo na cabeça há tanto tempo... Saber que mais alguma alma neste mundo sabe o que me aconteceu. E é bom ser acarinhada, mesmo que não queira que sintam pena de mim.

"Alison?! O que se passa?" – uma voz masculina soa por trás de mim e logo sinto uma mão no fundo das minhas costas. Era Will.

Desfaço-me do abraço de Charlotte e limpo os cantos dos olhos o melhor possível. Sustento o olhar preocupado de Will durante alguns segundos, mas logo desvio a minha atenção para o batido à minha frente.

"Ela... Contou-nos sobre a morte dos pais." – Scott diz.

Ouço um lamento por parte de Will e este dá-me um aperto carinhoso no ombro. Lanço-lhe um meio sorriso e murmuro um «Está tudo bem.» em que ele não se fia muito. Levanto-me da cadeira e aviso-os de que vou à casa de banho. Charlotte oferece-se por me acompanhar, mas eu afirmo que estou bem e que vou só limpar a cara – o que era verdade.

Percorro o caminho até à casa de banho recebendo alguns olhares preocupados de pessoas que se encontravam no bar. Não olhei para nenhuma delas e continuei a andar.

Alcanço a porta da casa de banho feminina e rodo a maçaneta fazendo com que esta se abra. No seu interior era possível observar um lavatório comum na parede paralela à porta e duas portas de cada lado deste. A luz proveniente do único candeeiro era demasiado clara e irritava os meus olhos inchados e vermelhos do choro. Dirijo-me ao lavatório e abro a torneira. Encho as minhas mãos em forma de concha com a água gelada e levo-as até ao meu rosto eliminando os vestígios das lágrimas das minhas bochechas. Agradeço a mim mesma por não gostar de maquilhagem. Estaria uma lástima se a usasse.

O meu telemóvel toca dentro da minha mala azul. É a minha tia. Tento esconder a minha voz rouca.

"Olá tia!"

"Olá querida. Como vai tudo?"

"Não muito bem... O Luke já não mora naquela casa."

"Oh a sério?! O que vais fazer agora?"

"Vou ficar aqui mais algum tempo. Talvez me caia algum milagre do céu. Os pais do Will não têm problema nenhum em que fique por mais algum tempo. Vamos ver como corre... Então e tu? Já foste ao aeroporto?"

"Sim, fui hoje! Foi por isso que liguei. Infelizmente não tenho grandes notícias, Ali. Procurei por todo o lado mas não encontrei nada. Depois fui até àquele bar que me indicaste e perguntei ao rapaz que lá trabalha se ele tinha visto alguma coisa. E, por acaso viu. Um rapaz qualquer pegou nele e até lhe foi perguntar se ele sabia de quem era. Como ele não tinha visto quem o perdeu, deixou o rapaz levá-lo. Lamento imenso querida, mas parece que não vais tê-lo de volta."

"Era sorte a mais se o conseguisse recuperar... Obrigada na mesma tia. Como estão todos aí? A Chloe? E o Sebastian?"

"Eu e o Sebastian estamos bem, não te preocupes. Já a Chloe... Ainda está à espera do pupcake que lhe prometeste." – ouço uma risada do outro lado.

"Diz-lhe que quando chegar vai ser a primeira coisa que vamos fazer."

"Eu digo, querida. Olha, vou ter de ir embora. As chamadas para aí são caríssimas! Cuida de ti Alison, adoro-te!"

"Também te adoro tia. Beijos para todos."

Desligo a chamada e coloco o telemóvel de novo na mala. Quando já me encontro apresentável encaminho-me de novo até à mesa onde estão os amigos de Will.

"Alison!" – só agora fechei a porta da casa de banho, mas a voz de Ashton já se faz ouvir, embora ele esteja do outro lado do bar.

Acelero o passo e sento-me na cadeira onde estava há momentos.

"O Will disse-me que tu estavas à procura de um amigo?" – não acredito que Will lhes tenha contado sobre Luke! Lanço-lhe um olhar zangado e ele atira as mãos ao ar num ato de rendição.

"Ouve o que ele tem a dizer, Ali." – o rapaz de olhos azuis diz, fitando-me. Dirijo a minha atenção para Ashton e espero.

"Ele chama-se Luke, não é?" – ele pergunta e eu aceno com a cabeça. Ele continua. – "Sabes o apelido?"

"Hemmings." – respondo simplesmente e os olhos do rapaz arregalam-se. Franzo o sobrolho sem perceber onde a conversa iria chegar.

"Não acredito que não percebi antes." – o rapaz dos olhos de avelã diz, mais para si do que para mim, e qualquer coisa no seu tom de voz e no seu olhar me faz ficar alerta. – "Alison, o Luke faz parte da minha banda."

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photograph » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora