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Alison

Finalmente chegou o dia. Finalmente o dia 25 de Janeiro muda alguma coisa na minha vida sem ser pôr-me mais velha. Finalmente sou livre.

18 anos. Finalmente.

Nestes 10 dias que passaram não consegui tirar aquela morada da cabeça: 100 Marrickville Road, Marrickville 2202 New South Wales.

Aquela era a morada da casa onde morara a minha mãe e podia ser também a que estava escrita na fotografia. Podia até não responder à mesma residência, mas aquela era a rua.

E era isso que me enchia a cabeça enquanto arrumava os livros da pequena e acolhedora livraria onde eu trabalhava.

Esta situava-se numa rua ao largo do East River e, apesar da maravilhosa vista para Manhattan, muito pouco movimentava. Tal como a livraria.

Era um luxo conseguirmos 10 clientes num dia. Talvez num fim de semana, mas ainda assim era difícil. E, claro, falava em clientes, não em livros vendidos, porque isso eram ainda menos.

As novas tecnologias também não ajudam muito, já que as pessoas preferem ler um livro através da Internet do que propriamente sentir a textura das folhas nas suas mãos. Cada um tem os seus gostos.

O dinheiro que ganho não é muito, mas dá para ajudar os meus tios com as despesas lá de casa. E eu adoro este sítio – é calmo e o meu "chefe" quase nunca está cá, pelo que posso estar imersa em pensamentos sem ninguém me chatear; para além, claro, de estar rodeada de livros.

Depois de arrumar os que tinham acabado de chegar nas devidas prateleiras, decido voltar ao balcão e sento-me na confortável cadeira que me aguenta quase todos os dias da semana.

Desbloqueio o telemóvel e olho para as horas: 16h13. Faltavam 47 minutos para o meu turno acabar. Bloqueio-o e coloco-o em cima do balcão de novo.

Dirijo o meu olhar até ao computador que se encontra à minha frente, ligo a Internet e pesquiso pelo que há muito tencionava: Voos para Sydney.

Tenciono ir para Sydney o mais rápido possível. Já falei sobre isto aos meus tios e eles deram-me liberdade para tal. Já sou maior de idade e já tenho maturidade suficiente para tomar as minhas decisões, mas não iria para outro continente sem a sua autorização.

Encontrei alguns voos mais baratos para daqui a duas semanas, mas ainda assim vou ter que tirar algumas das minhas poupanças para o pequeno apartamento que tenciono comprar. Já há algum tempo andava à procura de casa e sem dúvida que aquele apartamento era ideal para mim. Adorei-o desde o primeiro momento que o vi. E não fica muito longe, nem de casa dos meus tios, nem da dos meus avós, o que apreciei imenso.

Ouço então a porta da entrada a abrir e um rapaz de cabelos escuros a entrar na livraria e a dirigir-se ao balcão onde me encontrava.

Will!?

"Alison?" – o rapaz pergunta, com um ar não tão surpreendido quanto o meu.

"Hum, olá Will."

"Eu tinha quase a certeza que te tinha visto a entrar aqui há algumas horas atrás, mas não fazia ideia que trabalhavas aqui."

"Viste-me entrar?" – eu pergunto ainda mais surpreendida do que quando ele entrou no meu local de trabalho. Não me lembrava de o ver perto da livraria. Aliás, não o via desde o dia no café. Hoje envergava uma camisa axadrezada preta e branca, umas calças de ganga escuras e, nos pés, umas sapatilhas brancas. Tudo isto fazia um padrão perfeito com a sua pele clara e cabelos escuros. Ainda se encontrava mais bonito do que a primeira vez que o vira.

"Sim, eu moro num apartamento a cerca de 50 metros daqui. Por acaso estava na varanda e vi-te entrar." – ele diz, mostrando depois o seu incrível sorriso. Só agora percebi que ele tinha um certo sotaque, mas não consegui decifrar de onde poderia ter vindo.

"Oh, nunca te vi por aqui antes."

"E eu nunca te vi a ti. O que é estranho porque provavelmente estás aqui todos os dias" – ele gargalha.

"Sim, quase todos." – eu respondo gargalhando também. – "Mas hoje apareceste por cá para comprar algum livro?"

"Sim, na verdade. Vi na Internet que saiu esta semana um policial novo e gostava bastante de o ler. Será que o tens aqui?"

"Hoje chegaram alguns livros novos, por isso talvez o tenha. Como se chama?" – eu pergunto, levantando-me da cadeira e dirigindo-me até à estante onde se encontravam os policiais, enquanto Will me seguia.

"The Burning Room, de Michael Connelly."

Procuro durante alguns segundos até que encontro o livro pedido. Realmente o livro tinha chegado hoje e até tive alguma curiosidade em lê-lo.

"Aqui está!" – digo e entrego-lhe o livro, voltando de seguida até ao balcão com Will nos meus calcanhares.

"Obrigado, quanto custa?"

"São 18 dólares, por favor. Queres saco para o levar ou não é preciso?"

"Não, não é preciso, eu levo na mão." – ele diz e entrega-me o dinheiro, debruçando-se sobre o balcão de seguida. Ao realizar o gesto o seu cabelo foi para a frente dos olhos e, com a mão, empurrou-os de novo para trás inclinando um pouco a cabeça na direção do computador. De repente, ficou muito quieto, apenas a olhar para o ecrã.

"Passa-se alguma coisa Will?" – eu pergunto, surpreendida com a sua reação.

"Vais para Sydney?" – Will pergunta-me, fitando-me.

"Hum, só de passagem." – digo, um pouco embaraçada pelo olhar que ele me lançava.

"Quando vais?" – não percebia o interesse que ele tinha na minha viagem, mas estava curiosa quanto a isso.

"Provavelmente daqui a uma ou duas semanas, mas porquê tanto interesse Will?"

"Eu sou de Sydney, Alison."

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photograph » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora