Luke
Sinto-me frustrado, irritado, zangado... mas feliz.
Pode até só ter sido uma palavra, mas ouvi a voz da Alison. Aguda e aveludada, tal como me lembro.
Não consegui falar mais com ela devido à interferência. Tentei ligar-lhe mais uma vez alguns minutos mais tarde – com o meu telemóvel -, mas ela não atendeu. Fico a pensar se a Alison ouviu a única frase que eu disse? Se percebeu que era eu que lhe estava a ligar. Provavelmente não; não se conseguia ouvir nada.
Fecho a mão em volta da meia-lua e tento agarrar mais alguma memória que a minha cabeça ainda guarda da rapariga. Apenas consigo arrancar um vislumbre da cara do pai da Alison, Henry. Dos seus grandes olhos azuis e do cabelo castanho, exatamente da cor do da filha. Lembro-me que o adorava. E que ele me adorava. Dávamo-nos muito bem e ele sempre me fazia as vontades todas; tratava-me como um filho. Uma vez, eu estava a comer umas bolachas e lembro-me de dizer que queria antes um gelado. Henry ofereceu-se para me comprar um. Levou-me às cavalitas até a um parque situado perto da antiga casa dos meus pais e entramos numa gelataria que lá existia no meio. Devorei um gelado de menta e chocolate enquanto ele me contava anedotas e eu me engasgava de tanto rir, ficando todo sujo de gelado. Acho que foi a partir desse dia que fiquei fã de coisas com chocolate e menta. Lembro-me também de ele me dizer – nesse mesmo dia - que não queria que eu tivesse desilusões na vida; que eu não merecia sair magoado de coisas que amigos ou familiares faziam de mal. Na altura não percebi o que ele quis dizer, e ainda não percebo. Mas agora isso também não importa. Não vou poder desfrutar de mais gelados com ele.
Pergunto-me porque nunca me tinha lembrado disto antes. Talvez, porque nunca tive curiosidade em saber um pouco mais sobre o meu passado. Se eu tivesse "pesquisado" um pouco mais, poderia já ter estado com a Alison há muito tempo atrás.
Sinto uma vontade imensa de chorar. Elevo o meu olhar até ao céu cinzento e nublado e tento conter as lágrimas que já se formavam no canto dos olhos. Quando eu chorava, o meu pai costumava dizer-me «os homens não choram»; e eu respondia-lhe dizendo «não sou um homem, sou uma criança». E é exactamente isso que me sinto agora: uma criança. Sinto que a minha vida tem sido uma mentira. Não sei porquê, mas sinto. Sinto que as coisas teriam sido muito mais fáceis se o Henry e a Delilah não tivessem morrido. Assim, eu e a Alison podíamos ter passado os nossos Verões juntos. És mesmo egoísta, Luke. Na verdade queria tê-los passado com toda a família; eu sinto-os como sendo da família.
Fecho os olhos com força e volto a abri-los, sentindo-os já secos.
Levanto-me do banco verde e ferrugento do Prospect Park e encaminho-me até à mesma paragem de táxis de onde saí há algumas horas.
Percorro as ruas agitadas de Brooklyn, enquanto observo o que se passa à minha volta: um homem a mudar um pneu ao carro (percebe-se que não tem grande experiência); um carro a passar na estrada com o rádio no volume máximo; uma mulher que se encontra do outro lado da rua a deixar cair um saco cheio de compras de supermercado – uma maçã rola pela estrada fora e é logo desmanchada por um carro que lhe passa por cima; duas crianças (gémeos, pelo que parece) a discutirem por causa de um boneco qualquer – a rapariga sai vitoriosa.
Encontro finalmente a paragem de táxis e dirijo-me para o primeiro automóvel da fila O taxista está encostado ao capô, com um cigarro na mão... Oh, por favor! Não acredito que é o homem outra vez!
Percorro o quarteirão com o olhar, esperando encontrar alguém que também procurasse por um táxi; resmungo para mim próprio quando não vejo ninguém.
Suspiro ruidosamente e encaminho-me até ao meu Não-Muito-Bondoso-Companheiro-De-Bordo. Acho que lhe vou mudar o nome para Não-Muito-Bondoso-Taxista.
"Hum...pois, olá." – digo, balançando-me nos calcanhares e fitando o chão. Só quero fugir daqui.
"Estás a fazer de propósito, miúdo?" – sustento o seu olhar e ele atira com o cigarro para o chão, pisando-o de seguida; não está com cara de muitos amigos.
"Não tenho culpa que seja sempre você que está na frente da fila."
"Onde é que queres ir desta vez?" – ele bufa, ignorando o meu comentário.
"Para o sítio de onde me tiraste de manhã." – digo simplesmente, levando a mão ao puxador da porta.
"Miúdo, tens noção da quantidade de sítios por onde passei hoje? Achas que eu me lembro de onde estavas hoje de manhã?"
"Howard Johnson Inn Queens." – digo, resmungando baixinho.
Ele não responde e apenas entra no carro. Preparo-me para abrir a porta de trás, mas decido sentar-me no lugar de pendura. Vejo-o revirar os olhos, enquanto ponho o cinto.
Desvio o meu olhar para a janela, quando o automóvel arranca. Procuro pelos meus auriculares na mochila, mas antes de os encontrar, o homem faz conversa:
"Então o que andas aqui a fazer? Pelo que percebi, és da Austrália, não é? Sou o Dennis, já agora."
"É impressão minha, ou está mesmo a tentar ser simpático?" – ele ignora-me e mantêm os olhos na estrada. Bufo. – "Sim, sou da Austrália. Vim à procura de uma amiga."
"Uma amiga... Estou a ver." – dá um sorriso de canto ao qual reviro os olhos. – "Bem, vê lá se não fazes o mesmo que um antigo colega meu." – percebo que está a falar mais para ele do que para mim. Tento ignorar, mas a curiosidade é mais forte do que eu.
"O que é que ele fez?" – fito o Dennis e percebo que a sua expressão entristece com a minha pergunta.
"Meteu-se com a amiga da mulher." – foi curto e bruto. Arqueei uma sobrancelha. Nunca faria uma coisa daquelas a uma rapariga. Era incapaz de tal coisa. – "A mulher ficou grávida, sabes? E ainda teve a lata de dizer ao marido que era dele. Nunca concordei com tudo aquilo, mas não podia fazer nada. Ainda imagino que anda por aí um rapaz ou rapariga – nunca cheguei a saber quem era, porque deixamos de falar desde o incidente – que pensa que o pai que tem, é o seu pai verdadeiro. Mas agora não vale a pena pensar nisso... O homem já morreu." – a minha boca abriu-se num "o" perfeito; não estava à espera daquilo.
"Como é que ele se chamava?" – a pergunta saiu-me da boca antes que eu pudesse impedir. Não tinha nada que me meter no assunto, mas acho que não havia problema. Dennis não pareceu ficar incomodado, por isso respirei fundo... até que a respiração me ficou presa outra vez.
"Henry."
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hey, hey :)
o que estão a achar da fic? como disse no capítulo anterior, muito obrigada pelo feedback que me têm dado! é muito importante para mim.
bom, a história não vai ter o final que eu esperava... mas acho que assim vai ter um pouco mais de drama e não vai ser a tão típica história. espero, sinceramente, que gostem.
adoro-vos,
inês ^^
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photograph » luke hemmings
Fanfiction"we keep this love in a photograph we made these memories for ourselves where our eyes are never closing our hearts were never broken and time's forever frozen still so you can keep me inside the pocket of your ripped jeans holding me close until ou...