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Luke

Coloco a fotografia à frente dos meus olhos e, embora já tivesse a certeza, confirmo: era a entrada do Prospect Park.

Encontrava-me à frente desta. Vários transeuntes passavam por mim com as suas vidas agitadas. Uma coisa que reparei foi que as pessoas de Nova York não são tão hospitaleiras quanto as de Sydney; aqui fazem parecer que és invisível. Como um buraco da estrada – não lhe ligam nenhuma, apenas se desviam dele.

Não tenho nenhum plano traçado na cabeça. Não faço ideia como hei-de encontrar a Alison. Não sei sequer se ela está realmente aqui. Acho que vou apenas vaguear pelas ruas à espera de alguma coisa.

Depois de o nevoeiro levantar, vários raios de sol penetraram por entre as nuvens. Sinto os meus pequenos cabelos da nuca encaracolarem-se com o suor e alguns fios de cabelo caírem para a testa. Arrasto-os com a mão para trás, tentando arranja-los da melhor maneira possível.

Sem querer, toco no colar da meia lua; colar esse que agora penso pertencer à Alison.

Eu sabia que se o tinha encontrado, por algum motivo tinha sido, penso.

Eu sei que, provavelmente, existem outros iguais a estes e que talvez ele não pertença à Alison, mas não consigo deixar de pensar que isto foi algum tipo de sinal de que a vou encontrar.

E ele parece já ter alguns anos - está enferrujado -, por isso pode muito bem ser o da fotografia.

Talvez pudesse perguntar às pessoas se conheciam alguma rapariga que tivesse aquele colar? Provavelmente vão-me ignorar, mas tenho de tentar.

Agora que penso por um bocado, lembro-me que encontrei este colar no aeroporto. Será que... Não, não pode ser; eu sinto que estou perto dela.

Entro no Prospect Park e observo o cenário à minha volta: várias espécies arbóreas e de flores eram vistas por todo o lado; gostava de vir cá no verão – agora no inverno as árvores não têm folhas nem flores nenhumas. Nada a ver com as fotos que a Internet mostra.

Percorro os espaços verdes e procuro por gente com boa cara que talvez me possa dar informações sobre este colar. Procuro também pelos dois adultos que estão na fotografia com a Alison. E, claro, pela Alison.

Vejo pelo canto do olho duas crianças a brincar nos ramos de uma árvore e ocorre-me uma memória que há muito estava escondida.

***

"Aquilo vai cair! Nem penses que vou ali para cima." – a Alison vira-se para mim com um ar convencido no rosto.

"Não vai nada cair! Tu é que és medricas!" – riposto e a rapariga encolhe os ombros finos.

"Depois não te queixes! Estou aqui em baixo à tua espera." – ela senta-se no chão e fica a olhar para mim.

"Medricas." – murmuro, mas ela ouve-me e mostra-me a língua. Faço-lhe o mesmo e começo a subir à árvore.

Quando já estou a metro e meio do chão vejo um bicho qualquer no tronco da árvore e, assustado, retiro a mão e perco o equilíbrio, estatelando-me depois no meio do chão.

"Eu disse-te! És mesmo burro!" – a Alison diz e começa-se a rir atirando a cabeça para trás. Lanço-lhe um ar zangado, mas ela não se cala. – "Aquilo era uma joaninha, totó."

"Olha queria-te ver a chegares ao ramo!" – exclamo e ela para de rir e fita-me com os olhos semicerrados.

"Fixe! Então vê!" – decidida, levanta-se e dirige-se à árvore. Então coloca as mãos na posição certa e encaixa os pés numa falha do tronco. Iça-se por este a cima e quando dou conta ela já está a três metros do chão. Abro a boca em espanto quando a vejo sentada no ramo a que nos tínhamos desafiado chegar.

"Toma! Ganhei! – ela vangloria-se e eu cruzo os braços. – "Estás amuado agora, é?"

"Vai ver se eu não consigo chegar aí acima!" – coloco-me na devida posição no tronco e começo a subi-lo. Quando dou por mim já estou sentado junto da rapariga.

"Vês? Também consegui!" – digo e mostro-lhe a língua.

"Eu fui primeiro!" – riposta e realiza o mesmo gesto.

"Oh! Cala-te!"

"Estou farta de estar aqui! Vou mas é comer bolachas, adeus!" – e com isto ela desce de novo o tronco e segue para dentro de casa.

Bufo com a sua mudança de planos e faço o mesmo caminho que ela.

***

Sorrio com a recordação e tento mantê-la por perto para um dia poder disfrutar dela de novo.

Éramos tão estúpidos, penso. Mas eu adorava-a; apesar de não me recordar dela com todos os pormenores, sei que a adorava. E ainda adoro – esteja ela onde estiver.

Continuo o meu caminho pelo parque e decido procurar por alguma cafetaria ou papelaria e perguntar se conhecem o colar de algum lado. Ou talvez perguntar logo pelo nome da rapariga? Não sei, logo se vê.

Acabo o meu percurso no parque e percorro as ruas de Brooklyn.

Crianças com as mãos agarradas aos pais e aos avós passam por mim e sorriem-me como se tivéssemos um segredo que mais ninguém sabe. Sorrio-lhes de volta e estas desviam o olhar, envergonhadas.

Entro numa loja de roupa e pergunto à senhora que se encontra ao balcão se conhece a rapariga; mostro-lhe o colar até. A mulher lança-me um meio sorriso e, educadamente, diz-me que nunca ouviu falar de nenhuma Alison Fray. Suspiro, agradeço-lhe e faço o meu caminho de volta ao exterior da loja.

Percorro alguns metros e entro num café chamado Sweetleaf. Algumas pessoas encontram-se lá dentro a beber uma bebida ou a comer um bolo. Reparo que existem vários cupcakes ali. Não me consigo controlar e peço um de chocolate com cobertura de menta. Depois de feito o pedido, e de perguntar à senhora do outro lado do balcão de conhecia a Alison – que não me deu uma resposta muito alegre – sento-me numa mesa junto à janela e dou algumas trincas no meu bolo.

Olho para a mesa à minha frente e vejo uma senhora, já com alguma idade, que, de certa maneira, me é familiar. Não sei porquê, mas pareceu-me simpática. Talvez por parecer que a conheço, ou que já a vi – o que não deve ter acontecido de certeza. No máximo, era parecida com alguém.

Sem pensar duas vezes, levanto-me da minha mesa e dirijo-me até ela.

"Hum... Peço desculpa, posso-lhe fazer uma pergunta rápida?" – pergunto e a mulher olha para mim, lançando-me depois um sorriso caloroso.

"Ora, claro que sim, querido! Senta-te, senta-te!" – ela convida e eu faço o que ela me pediu, sentando-me no banco à sua frente.

"Eu... Eu ando à procura de uma rapariga. Talvez a conheça... Penso que ela é de cá, mas não tenho a certeza absoluta. Eu encontrei este colar..." – digo, apontando para o acessório. – "...Acho que pode pertencer-lhe. Ela chama-se Alison. Alison Taylor Fray."

"Não sei se pode ser coincidência ou não, mas... Eu tenho uma neta exatamente com esse nome, e que tem – ou tinha - um colar igualzinho a esse."

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photograph » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora