Alison
O cesto amarelo que tenho à minha beira já está cheio de papéis. Pelo canto do olho vejo Will retirar um de lá de dentro e examinar o que lá está desenhado.
"Sabes que podes apenas tirar uma fotografia, certo?" – ele questiona e eu fito-o com os olhos semicerrados.
"Uma fotografia nunca retratará com tanto pormenor aquelas cores." – respondo.
Há uma hora que estou a tentar desenhar o pôr-do-sol. Comecei por desenhá-lo no jardim da casa de Kate e Julian, mas Will ofereceu-se por me trazer à praia. Aqui consigo observá-lo mais de perto. As ondas são convidativas, mas não posso ir para lá agora; além de não estar com roupa para tal coisa, não há tempo.
Sinto a areia entrar nos meus calções enquanto vou mexendo as pernas para arranjar uma posição confortável.
"Obrigada por me teres trazido cá, Will." – agradeço, e com o dedo indico-lhe o lápis de cor laranja, vendo-o entregar-mo de seguida. Dou uns últimos retoques no desenho e dirijo a minha atenção para o rapaz ao meu lado.
"Já reparaste que agradeces muito?" – diz e solta uma gargalhada.
"Sinto que preciso de fazer isso. Não sei se te deste conta, mas só nos conhecemos há um mês e já me ofereceste momentos que em toda a minha vida nunca tinha podido apreciar."
"Isso é por causa da viagem de avião?" – questiona com um sorriso aberto e eu atiro a minha cabeça para trás, rindo-me.
"Para tua informação, eu já tinha andado de avião." – ele assente com a cabeça, mas mantém o sorriso divertido no rosto. – "Só não me lembrava como era... Até parece que foi tão mau assim!"
"Se com mau queres dizer que tive de te carregar para fora do avião quando aterramos... Sim foi mesmo mau." – desleixo-me e rio-me com ele. Agora que penso nisso, acho realmente que exagerei. Lembro-me das mãos de Will a agarrem-me os ombros para eu não cair. Solto outra risada à minha idiotice.
Um rapaz tatuado passa à nossa frente com a prancha de surf na mão. Olho para o braço de Will. Ainda não lhe perguntei sobre aquela tatuagem. Tenho medo que seja algo demasiado pessoal e que ele não queira falar sobre isso. Contudo, tento a minha sorte.
"Will?" – os seus olhos azuis fitam-me e, por certos momentos, devaneio sobre a sua cor. Pareciam reflectir a luz da água, tornando-os mais azuis que nunca. Abano impercetivelmente a cabeça, desviando estes pensamentos da cabeça. – "Essa tatuagem... O que significa?"
"Oh, é a data de nascimento do Simon." – ele responde bastante rápido e baixa a cabeça. Ele não me quer contar alguma coisa.
"É mesmo só isso?" – ele solta um suspiro e encara-me de novo.
"Esta é, realmente, a data de nascimento do Simon. Mas eu não a fiz por causa disso." – assenti com a cabeça, motivando-o a continuar. – "O Simon... A minha mãe engravidou de gémeos... Só que..."
Vejo uma lágrima cair-lhe do olho direito. Num ato involuntário envolvo-o com os meus braços.
"Lamento muito." – sussurro ao seu ouvido e revejo-me a mim própria no dia em que acordei do coma: confusa e assustada. Lembro-me do choque que me atingiu quando me disseram que os meus pais tinham morrido. Derramei todas as lágrimas possíveis e imagináveis nesse dia. Não conseguia pensar em mim e na sorte que tive em sobreviver; apesar de ter apenas sete anos, isso ficou para segundo plano. Lembro-me de pedir ao médico que me acompanhou ao longo dos meses para me deixar ir para casa, porque queria ver os meus pais outra vez. Ele sentou-se à minha beira na cama do hospital e prometeu-me que os veria outra vez, um dia. Com aquela idade não percebi o que ele quis dizer, mas agora sei de que "dia" ele estava a falar. E sonhei muitas vezes com esse dia ao longo dos anos. Por isto tudo, percebo a dor de Will; apesar de não ser por um irmão, também a senti.
Retiro os meus braços do seu pescoço e sinto-o as suas mãos - que entretanto tinham ido parado às minhas costas - afastarem-se. Percebo que tinha começado a chorar quando Will leva os seus dedos às minhas bochechas e limpa as lágrimas que lá ficaram gravadas. Pelo canto do olho vejo uma senhora a mirar-nos com um olhar de pena.
"Temos de nos despachar." – ele afirma depois de estarmos recompostos, olhando para o seu relógio. – "Achas que consegues acabar o teu desenho em 10 minutos?"
Devolvo a atenção para o meu desenho e fico satisfeita com o resultado deste. Quando chegar a casa – a minha casa – não me posso esquecer de o colar no frigorífico. Assim posso olhar para um lindo pôr-do-sol, mesmo num típico dia cinzento.
"Podemos ir. Já acabei."
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"Tens a certeza que não queres ficar aqui com a tua família?" – pergunto, olhando para o rapaz à minha frente com um olhar preocupado. – "Só estiveste com eles uma semana!"
"Eu também só podia cá estar mais dois ou três dias, Ali. Já faltei a demasiadas aulas e tenho de voltar para o trabalho no café."
"Ugh, aulas." – resmungo baixinho e Will assente com a cabeça, concordando comigo. – "Quase me esquecia delas. Estou farta daquele curso."
"Não me tinhas dito que o teu tio te dava emprego na empresa dele?"
"Sim, dava... Mas se eu for trabalhar para lá, o dinheiro que vou receber, é dele. E não era esse o meu objetivo." – bufo.
"Olha, quando eu vim para cá, andavam à procura de pessoal lá para o café... Talvez ainda haja lugar para ti." – faço um trejeito com a boca e o rapaz suspira. – "O ordenado até que é bom, para um simples estabelecimento. Foi com o dinheiro que lá recebi que comprei o apartamento e o carro."
"Pode ser que tente. Preciso mesmo de me mudar de casa dos meus tios e de comprar um carro. Estou farta de transportes públicos e as minhas pernas não me levam a todo o lado." – dou um gole no meu sumo e retiro o telemóvel da bolsa de fora da mala de viagem. Verifico as horas e encosto-me no pouco confortável banco ao perceber que ainda tínhamos quinze minutos até termos de entrar no avião.
Avisto os pais e irmão de Will no outro lado do aeroporto. Já nos despedimos, mas eles ainda não foram embora porque Simon insistiu que queria um gelado. Daqui consigo observá-lo com o cone na mão. Lançam-nos um último aceno e atiram-nos um beijo. Retribuímos-lhos e estes saem do aeroporto. Percebo que Julian reconfortava Kate; ela devia de estar a chorar. Entristece-me que Will tenha de ir mais cedo embora. Sinto que a culpa é minha. Quando lhe disse que voltaria para Brooklyn, não pensei que ele quisesse vir comigo. Mas insistiu em que não me deixaria sozinha num avião. Apesar de não lhe ter dito, agradeci-lhe mentalmente na altura – ainda não estava preparada para andar sozinha naquilo; mas iria fazê-lo, mesmo que Will não viesse comigo.
"Está na hora, Alison!" – ele exclama e levanta-se do banco com um salto. Estica-me a mão de uma maneira teatral que me faz rir. Aceito o gesto e levanto-me com a sua ajuda.
Brooklyn, cá vamos nós.
E Luke, cá vou eu.
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hey, hey :)
custou-me mesmo escrever este capítulo. pelo menos parte dele.
tenho muita pena em dizer que a fic acaba em poucos capítulos. talvez já para a semana ela acabe, mas não tenho a certeza. depende da regularidade com que escreva.
adoro-vos,
inês ^^
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photograph » luke hemmings
Fanfiction"we keep this love in a photograph we made these memories for ourselves where our eyes are never closing our hearts were never broken and time's forever frozen still so you can keep me inside the pocket of your ripped jeans holding me close until ou...