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Alison

As minhas malas de viagem pareciam estar mais pesadas do que da primeira vez que lhes peguei.

Com a ajuda de Will retiro-as do carro dos meus tios. Estes trouxeram-nos até ao aeroporto, apesar de termos dito que não havia problema em virmos de táxi.

"Vou ter saudades tuas, Ali." – a minha prima diz com o olhar pregado no chão.

Agacho-me junto dela e levanto-lhe o queixo com uma mão, de maneira a que os seus olhos verdes me fitassem.

"Eu também vou ter saudade tuas, Chloe. Mas só vou estar fora uns dias. Nem vais dar pela minha falta, vais ver." – digo-lhe e ela faz um trejeito com a boca. – "E quando menos esperares eu já vou estar de volta, está bem? Prometes que não ficas triste?" – pergunto-lhe e ela apenas assente com a cabeça, dando-me um abraço apertado e um beijo na bochecha.

Levanto-me e despeço-me dos meus tios, que me dão alguns conselhos de última hora e palavras encorajadoras. Will despede-se também, prometendo à minha tia, pela milésima vez, que ia tomar conta de mim. Revirei os olhos (pela milésima vez).

"Chloe, não te despedes do Will?" – o meu tio pergunta dirigindo o olhar para a minha prima.

"Adeus." – ela murmura, carrancuda, e entra no carro depois de me lançar um último aceno. Se eu pensei que a impressão que ela tinha de Will ia melhorar? Pensei. Se estava enganada? Muito enganada.

Will ainda exclamou um «Adeus, Chloe!», mas a rapariga não lhe ligou nenhuma; apenas continuou dentro do carro a brincar com Agatha, a sua boneca preferida. Nunca percebi porque é que a minha prima gosta tanto daquela boneca. Ela é horrível; tem uns olhos pretos enormes, que te pareciam seguir para todo o lado como naqueles quadros antigos, e o cabelo era de um vermelho-ferrugem demasiado exuberante. Com a sua pele que era mais clara que a neve e o seu sorriso cortante fazia um conjunto aterrorizador. Um dia talvez possa vir a ser a personagem principal de um filme de terror. Ah, e não falemos no nome. Agatha. Ugh.

Acabadas as despedidas, Will e eu dirigimo-nos para dentro do aeroporto. Senti um friozinho na barriga ao passar as portas de vidro; além de ir para outro continente, nunca andei de avião (a não ser quando tinha 5 anos, mas já nem me lembro bem de como é) e por isso sinto-me bastante nervosa. Will sabia disso e já me tinha tranquilizado um pouco, dizendo para não me preocupar, que o avião não ia cair (que na verdade era esse o meu medo) e que não precisava de ter receio de uma coisa dessas. Chegou até a dizer-me que achava mais seguro andar de avião do que de carro. Na altura pensei que ele era louco, mas não o dissera em voz alta.

Hoje Will estava radiante. Provavelmente porque ia visitar a família que já não via há 8 meses. Contou-me que ficara muito triste quando uma emergência no trabalho o impedira de ir a Sydney pelo Natal e na Passagem de Ano.

O rapaz envergava uma camisa axadrezada preta e vermelha e umas calças de ganga claras. Os seus cabelos escuros estavam mais arranjados do que o habitual – talvez por não estar um dia muito ventoso – e os seus olhos encontravam-se de um azul mais claro.

Apesar de fazer frio aqui em Nova York, em Sydney era Verão, por isso estávamos prontos para ser recebidos por uma onda de calor mal saíssemos do avião. Sentindo o ar frio que se fazia esta manhã, aconchego-me dentro do meu casaco de malha e amaldiçoo-me a mim própria por ter vestido apenas uma t-shirt. Podia muito bem mudar de camisola na casa de banho do avião.

Olho à minha volta e a única coisa que vejo são pessoas e malas de viagem. Apesar do espaço ser grande as pessoas aglomeravam-se em certos sítios: no check-in, nas filas que levavam às portas de embarque, nos bares e restaurantes e nas pequenas lojas e papelarias.

Will e eu dirigimo-nos ao check-in e depois de tudo tratado encaminhamo-nos para uma papelaria e compramos algumas revistas para ler durante a viagem. Esta era de cerca de 16 horas e por isso tínhamos de estar bem preparados para passar o tempo. Tal como eu, Will trouxe alguns livros, entre eles o policial que tinha comprado na minha livraria. Trouxe também o seu portátil e alguns filmes para vermos durante a viagem. Provavelmente iria existir uma televisão ou outra no avião, mas Will disse-me que nunca dão nada de jeito. Espero ao menos que as refeições sejam boas.

Sentamo-nos nuns pequenos bancos que existiam junto a um café e esperamos pela hora do nosso voo. São 6:30, por isso ainda temos 30 minutos até à descolagem.

Encosto-me no banco acolchoado e fecho os olhos por um momento tentando aliviar o nervosismo e o stress que insistiam em não deixar o meu corpo.

Sinto Will ao meu lado. O seu braço toca no meu à medida que dá alguns tragos no seu café. O calor que irradiava do seu corpo atingia-me formando cócegas no meu antebraço.

Era estranho. Conheci este rapaz há apenas duas semanas e já vou numa viagem deste calibre com ele. Não costumo transmitir tamanha confiança a uma pessoa em tão pouco tempo. Não sei o que se passa comigo. Will é um caso raro.

"Então, preparada para a grande viagem?" – o rapaz de olhos azuis pergunta dando um último trago no seu café e desviando os meus pensamentos para um canto da minha mente. O seu sorriso ilumina qualquer coisa ou pessoa. Ele está mesmo feliz.

Abro os olhos e chego-me para a frente no banco arranjando os óculos que me tinham ficado presos em alguns fios de cabelo castanho.

"Acho que sim. Talvez não." – admito e Will dá uma risada mostrando assim as suas covinhas.

"Bem, faltam 8 minutos para o voo. Vamos indo para a porta de embarque?"

"Sim, vamos."

Levantamo nos do banco e dirigimo-nos para a porta de embarque nº7.

Mostramos os nossos bilhetes e passaportes à senhora que estava no balcão – Halsey, pelo que vi no pequeno cartão que ela tinha preso na camisola por um alfinete – e esta deu-nos passagem até à pista de aterragem. Encaminhamo-nos até ao avião que nos era destinado e num ato inconsciente agarro o braço do Will. Não estava familiarizada com a grandeza daquilo tudo; nem com a dos aviões. Olho para a sua cara e vi que tinha as faces coradas. Não percebo se é por causa do frio, ou de outra coisa...

Colocamos as nossas malas maiores no porão do avião e levamos a bagagem de mão – onde se encontravam os livros, as revistas e o portátil de Will – connosco.

Subimos as escadas de metal que nos levava para dentro do avião e sentamo-nos nos nossos lugares. Durante todo o percurso Will não me largou a mão.

Quando já estava sentada e protegida de toda aquela infamiliaridade observo uma assistente de bordo colocar-se entre as duas filas de bancos e dar algumas indicações do voo, do próprio avião e a exemplificar como se deviam utilizar os coletes salva-vidas em caso de cairmos no meio do oceano. Tremi com a possibilidade. Will sentiu e apertou-me ligeiramente o pulso num ato tranquilizador.

Alguns minutos depois de a assistente de bordo dar o seu discurso como terminado sinto o avião a andar. Arquejo e escondo a cabeça no ombro de Will. Este afaga-me os cabelos e sussurra palavras reconfortantes.

Sydney, cá vamos nós.

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photograph » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora