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Alison

A série não tem tanta piada sem Will.

Luke saiu há uma hora atrás para ir buscar a bagagem ao hotel onde ficou hospedado e ainda não chegara; os meus tios tiveram uma urgência de trabalho e Will foi ao supermercado comprar alguma coisa congelada para o jantar.

Por isso, enquanto Chloe dorme no seu quarto, eu estou deitada no sofá a ver Friends. Mas rir sozinha não é lá grande coisa.

Ponho a série em pausa e levanto-me com um grunhido. Estavas melhor ali estatelada. Cambaleio até à cozinha e procuro um copo lavado em cima do balcão. Encho-o com água e levo-o até aos lábios gretados. Sento-me numa cadeira e estico as pernas agarrando com os dedos dos pés tapados por umas meias cinzentas a madeira da mesa. Tinha sido um dia longo e a coisa que mais queria fazer era adormecer – o problema era que o sono não aparecia. Mas logo me levanto quando ouço um grito abafado vindo do piso de cima.

"Alison!" – era sem dúvida a voz de Chloe.

Com o susto, deixo o copo cair e este parte-se em pequenos pedaços de vidro. Deixo a tarefa de os apanhar para depois e subo o mais rapidamente possível as escadas.

Já no piso superior abro a primeira porta da direita de rompante, dando de caras com a minha prima sentada no chão com os braços cruzados ao peito. Não parecia assustada, mas pelos olhos semicerrados percebi que estava irritada com alguma coisa.

"Que se passa, Chloe?"

"Não consigo dormir, mas tenho sono."- ela responde, fazendo beicinho. Rio-me, mas logo paro quando percebo que a sua expressão não se suaviza.

"E porque é que não consegues dormir?" – questiono, acocorando-me ao lado dela.

"A Agatha não está comigo." – reviro os olhos. Queria dizer-lhe que se a boneca dormisse com ela, provavelmente iria ter pesadelos, mas decidi calar-me. Não percebo como ela ainda não viu o quão assustadores são aqueles olhos pretos. E não acredito que parti um copo por causa de um pedaço de plástico aterrorizador.

"E porque é que não a trouxeste contigo, Chloe?" – pergunto, tentando não parecer entediada; sei que não consegue descansar sem a Agatha.

"Ela desapareceu!" – responde, atirando os braços ao ar. – "De manhã, quando acordei, ela ainda estava aqui, mas agora não sei onde está." – volta a cruzar os braços.

"O chão não tem buracos. Ela deve estar algures." – digo e a menina lança-me um olhar suplicante. – "Queres ir procurá-la? Eu ajudo-te." – acena afirmativamente com a cabeça e levanta-se de um salto. Imito-a e abro as gavetas da mesinha de cabeceira existente junto da sua cama. Aponto para o armário. – "Procura ali, Chloe."

Mexo e remexo nas gavetas mas, além de roupa , não existia nada ali que indicasse o paradeiro da boneca.

"Acho que a encontrei!" – a minha prima exclama, enquanto puxa alguma coisa vermelha de dentro do armário. Era, realmente, da cor do cabelo de Agatha, mas era apenas uma t-shirt. Vejo os cantos da boca da menina revirarem-se e uma tristeza afunda-lhe os olhos.

"Vamos encontrá-la, C." – encorajo-a e ela sorri quando se apercebe da maneira como a chamei. Já há bastante tempo não a tratava por aquela alcunha de que ela tanto gostava. – "E que tal procurarmos no quarto dos pais?"

Aceitando, corre até mim com os braços abertos. Pego nela ao colo e caminho até à porta ao lado. Abro-a o suficiente para que possamos entrar e pouso-a de novo no chão.

Também lá não estava.

As esperanças da menina começam a ficar escassas, enquanto lhe pergunto onde a viu pela última vez.

photograph » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora