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Luke

O meu telemóvel vibra em cima da mesinha de cabeceira.

Enrolo uma toalha à volta da minha cintura e volto ao interior do quarto, dirigindo-me de imediato ao lado esquerdo da minha cama e pegando no aparelho.

Era a minha mãe. Tinha-lhe ligado há algum tempo, mas ela não atendeu.

Deslizo o meu dedo pelo ecrã, atendendo a chamada.

"Olá mãe."

"Olá filho! Desculpa não ter atendido o telemóvel à bocado, estava a aspirar a casa e não ouvi. Está tudo bem?"

"Sim, está tudo. Ontem fui procurar pela casa da Alison."

"Porque não me disseste logo ontem?! Encontraste alguma coisa? Ou melhor, encontraste a Alison?"

"Mãe, a casa está abandonada."

"Abandonada? Oh Luke, tenho imensa pena. Eu e o pai bem te dissemos que ela podia ter mudado de residência. Mas a casa está em mau estado?"

"Em muito mau estado. Quase que dava uma queda fatal lá dentro." – ouço um grito surdo do outro lado. – "Estou a brincar, mãe! Quase que caía, mas não ia morrer se acontecesse. Mas sim, a casa está a cair aos bocados. As portas mal se aguentam nas ombreiras, as telhas estão caídas, os degraus das escadas já não estão presos e a casa não tem mobília nenhuma a não ser uma estante ou outra."

"Então ela já não vive lá há bastante tempo... Não?"

"Não tenho a certeza, mãe. Eu..." - impeço-me de continuar.

"Conta. Não precisas de me esconder nada, sabes disso." – até consigo imaginar o seu arquear de sobrancelhas.

"Eu encontrei umas fotos..." – sou interrompido pela voz da minha mãe.

"Fotos, mais fotos? Já estou farta de fotos." – dou uma risada com o tom aborrecido dela.

"Sim, umas fotos. Em todas elas a Alison tem cerca de 6/7 anos, por isso imagino que ela tenha saído daquela casa com essa idade. Depois dela e dos seus pais, a casa não deve ter sido habitada; pelo que já passaram 10 anos. É só uma teoria, não sei se é verdade."

"Hum, hum..." – percebo que ela quer que eu continue.

"Uma das fotos chamou-me a atenção. A Alison estava com dois adultos - uma mulher e um homem -, mas não eram os pais. A mulher tinha parecenças com ela, ao que penso que deve ser da família. Eles estavam em frente ao Prospect Park."

"Isso é em Brooklyn, não é?"

"Exatamente. Mãe, ela pode estar a viver em Brooklyn."

"Luke, não tens a certeza..."

"Claro que não tenho a certeza mãe, mas ficar aqui parado não me vai levar até ela. E estou a apenas 40 minutos de lá. Tenho de tentar."

"Eu só não quero que vás cheio de esperanças de que a vais encontrar, Lukey. Não sabes se ela ainda lá está, ou até se ela lá vive. Filho... Ela pode estar tão perto de ti quanto o que pode estar longe."

"Eu sei, mãe. Mas pelo menos aqui, tenho de a procurar por todos os cantos."

"Sempre foste o mais persistente, não posso fazer nada quanto a isso. Desejo-te a maior sorte do mundo, Luke. Espero, realmente, que a encontres. E, na verdade, também estou morta por voltar a vê-la. Era a criança mais querida que alguma vez conheci."

"Obrigado pela parte que me toca, mãe." – ouço uma gargalhada do outro lado e ela logo pede desculpas entre risos.

"Adoro-te, Lukey. Vai dando notícias, beijinhos."

"Também te adoro, mãe."

E com isto desligo a chamada.

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Finalmente se vêm (e sentem) alguns raios de sol. Já consigo envergar uma camisola um pouco mais fina do que nos últimos dias. Passaram-se 3 dias desde que cheguei. E não foram lá muitos bons dias. Talvez hoje isso mude.

Saio do hotel e procuro por um táxi. Quando não encontro nenhum volto ao interior do edifício e dirijo-me ao balcão perguntando onde se situa a paragem de táxis mais perto do local onde nos encontramos. A mulher responde-me que existe uma a cerca de 800 metros. «São 3 quarteirões», especifica ela. Agradeço e volto a sair do hotel.

Percorro os três quarteirões que me separam do meu destino apreciando o calor do sol que se entranhava na minha pele. Lembro-me de um Inverno em Sydney; eu tinha 8 anos e pela primeira vez em não sei quantos anos, nevou. Fiquei tão feliz e tão surpreendido com aquele clima. Foi a primeira vez que vi neve; lembro-me de estar estupefacto com toda aquela paisagem branca. Se vivesse aqui, iria poder brincar na neve muitas mais vezes. Se calhar, este tempo frio aqui de Nova York até tinha coisas boas. Quando chego à paragem, encaminho-me até ao primeiro táxi da fila.

O taxista encontra-se encostado ao capô do automóvel. Não tenho muito bom ângulo de visão, mas, a sua postura – era meio curvado, provavelmente por causa da enorme barriga de cerveja – parecia-me familiar.

Aproximo-me um pouco mais do homem de maneira a que lhe consiga ver o rosto.

Os meus olhos arregalam-se quando o observo. O taxista faz o mesmo.

"Tu... Tu és o rapaz do avião!" – ele exclama e percebo que ele também me reconheceu.

"Uau... O mundo é pequeno." – digo, não muito alegre por voltar a ver o meu Não-Muito-Bondoso-Companheiro-De-Bordo.

"É mesmo! És o Owen, não é?" – o homem pergunta fitando-me. Franzo o sobrolho.

"Não... Sou o Luke. E não me lembro de lhe ter dito o meu nome."

"Ah! Deve ser o nome de outro rapaz que conheci em algum lado."

"O quê? Também adormeceu em cima dele?" – pergunto e o Não-Muito-Bondoso-Companheiro-De-Bordo pareceu não ter ficado muito satisfeito. Bufa e responde:

"Não tenho culpa de ter caído para cima de ti, miúdo. E, se ficaste incomodado com isso, arranja te." – rolo-lhe os olhos. Ele ignora. – "Vieste só para me chatear, ou queres que te leve a algum lado? Não que merecesses que eu te desse boleia, mas já que pagas."

"Quero ir para Brooklyn."

"Está. Entra lá no carro."

Faço o que ele me pediu. Não por ele me ter pedido, mas sim porque que quero – só para ficar esclarecido.

Sento-me no banco de trás do táxi e espero que o automóvel chegue a Brooklyn.

Dou por mim a olhar para o colar da meia-lua. Decidi colocá-lo ao pescoço. Não percebo bem porquê, mas desde que o encontrei, sinto que ele me pertence. De uma maneira que não consigo perceber.

Levo a minha mão direita até ao bolso das calças e retiro de lá a fotografia da Alison; onde estão as duas outras pessoas que não conheço.

Procuro por mais alguma informação na foto, mas não desvendo mais nenhuma pista.

Até que um certo pormenor me chama a atenção. Um raio de sol incide ao pescoço da pequena Alison fazendo brilhar alguma coisa.

Aproximo os meus olhos da foto tentando desvendar o que aquilo é.

A minha respiração prende-se quando percebo o que é.

É o colar da meia-lua.

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photograph » luke hemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora