Capítulo 05

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Capítulo cinco: Laços de família
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Narrador personagem: Hillary Verena
~ Aracajú , domingo, 18: 20.

Era o último domingo de Enem, finalmente. Depois de semanas de estudo intenso e noites em claro, eu estava aliviada ao sair do colégio. O dia que deveria ser de celebração e alívio agora parecia um pouco diferente, uma sombra pairava sobre mim.

Enquanto esperava o Uber na grande praça em frente à escola, observei os outros alunos rindo e conversando animadamente sobre a prova. Alguns estavam aliviados, outros nervosos com o resultado que viria. Eu estava no meio deles, mas meu coração batia rápido demais. A prova superou minhas expectativas; eu realmente acreditava que tinha ido bem. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto ao lembrar das questões que consegui resolver com facilidade.

Me afastei um pouco do pessoal e fiquei isolada. Tirei o celular do bolso e comecei a mexer nas redes sociais, procurando um jeito de distrair minha mente. As notificações pipocavam na tela enquanto eu rolava o feed, mas tudo parou quando uma sombra se aproximou de mim. O ar ficou pesado, e uma sensação estranha me invadiu.

De repente, senti um toque frio nas minhas costas. Um calafrio percorreu minha espinha quando percebi que era o cano de uma arma. O meu coração disparou em um ritmo frenético; eu não conseguia processar o que estava acontecendo. Uma voz masculina soou atrás de mim, firme e autoritária.

— Tá vendo aquele carro preto ali? — Ele acenou com a cabeça para um veículo estacionado alguns metros à frente. Eu apenas concordei com a cabeça, paralisada pelo medo.

— Vamos até lá, sem alarme.

As lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto sem que eu conseguisse controlá-las. Meu corpo tremia enquanto eu tentava entender a situação. Por que isso estava acontecendo comigo? O que aquele homem queria? Eu olhei para o carro mais uma vez e percebi que não havia ninguém dentro dele; era apenas nós dois naquele momento tenso.

Quando ele me empurrou levemente para começar a andar, meu coração começou a correr ainda mais rápido. As memórias da prova pareciam distantes agora; tudo o que conseguia pensar era em como escapar daquela situação aterrorizante. Mas então, ao virar-me para olhar para ele novamente, algo me fez parar por um instante.

Era GD — Gabriel.

Verena: Gabriel? — minha voz saiu baixa e trêmula.

Ele hesitou por um momento ao ouvir seu nome sair dos meus lábios, mas logo voltou à sua postura séria. O olhar dele era intenso e confuso ao mesmo tempo; havia uma mistura de dor e determinação em seu rosto.

GD: Não temos muito tempo — disse ele rapidamente. — Precisamos conversar.

Eu não sabia se devia me sentir aliviada ou ainda mais apavorada. Conversar? Sobre o quê? Meu cérebro começou a girar enquanto tentava juntar as peças do quebra-cabeça que se formava diante de mim.

Verena: O que você quer comigo? Por que você está fazendo isso? — perguntei entre lágrimas.

Ele me puxou com força na direção do carro preto enquanto falava rapidamente sobre como minha vida estava prestes a mudar para sempre. Aquelas palavras ecoavam na minha mente:

GD: talvez você seja minha filha.- Como assim ele poderia ser meu pai? Eu nem conhecia aquela parte da minha família!

Verena: Você tá maluco? Do que você está falando?

GD: Eu só vou falar uma vez, se não entender, problema é sério. Eu namorava com sua mãe, até que eu descobrir que ela estava transando com o meu pai. Quando fiquei sabendo disso, eu esperei pegar os dois juntos... no dia em que eu achei que acabaria com os dois em cima da cama, ela conseguiu correr, o meu pai ficou por lá mesmo. - Arregalei os olhos chocada com aquela revelação. - Até você aparecer no morro, eu não fazia ideia do que tinha acontecido com sua mãe... mas tinha algo que perturbava a minha mente durante todos esses anos, uma antiga amiga dela chegou até mim pra falar que ela saiu do Rio de Janeiro grávida.

A revelação da traição da minha mãe com o pai dele parecia surreal demais para processar naquele momento agitado. Era como se as peças da minha vida estivessem se rearranjando diante dos meus olhos, criando uma nova narrativa cheia de segredos e mentiras.

GD: Sua mãe... ela nunca te contou sobre mim — Gabriel disse enquanto olhava para o chão, como se estivesse tentando lidar com suas próprias emoções.

Eu não sabia o que responder; tudo parecia tão absurdo! Minha mãe sempre falou sobre nosso passado com tanto carinho e cuidado; como ela poderia ter escondido algo tão significativo? E agora estava tudo desmoronando bem na minha frente!

GD: Você precisa entender que estou aqui porque quero fazer as coisas certas — continuou ele, finalmente abrindo a porta do carro e me empurrando levemente para dentro.

Sentei-me no banco de trás enquanto ele fechava a porta rapidamente atrás de si e entrava no motorista. O motor roncou suavemente enquanto ele olhava pela janela antes de se voltar para mim novamente.

GD: Eu sei que isso é muito para você entender agora — disse ele em um tom mais suave — mas preciso da sua ajuda para descobrir a verdade sobre nosso passado.

O medo ainda pulsava dentro de mim, mas havia algo na sinceridade do olhar dele que me fez hesitar entre continuar chorando ou tentar entender aquele novo mundo confuso em que eu havia sido jogada. A ideia de descobrir quem realmente era essa figura misteriosa chamada Gabriel me intrigava tanto quanto aterrorizava.

Verena: O que você quer saber? — perguntei finalmente, tentando parecer mais corajosa do que realmente me sentia.

Ele respirou fundo antes de responder:

GD: Quero saber tudo sobre você... Sua vida...

O carro de Gabriel estava estacionado em um canto, longe do movimento da cidade, e o som distante de uma música suave escapava dos alto-falantes.

Gabriel virou-se para mim, seu olhar sério refletindo a intensidade do momento.

Gabriel: Você tem horas pra chegar em casa?

Assenti, sentindo um frio na barriga.

Gabriel: Que horas?

Verena: Eu falei à minha vó que estava esperando o Uber chegar. - Ele concordou, como se estivesse levando em conta cada palavra que eu falava.

O silêncio se instalou por um instante, quebrado apenas pelo som da brisa suave passando pelas janelas abertas. Eu podia sentir a tensão no ar, uma mistura de expectativa e nervosismo.

Então, com um tom mais grave, ele disse:

GD: Amanhã a gente vai fazer o DNA pra saber se você realmente é minha filha. - Suas palavras ecoaram no meu coração, fazendo-o acelerar. - Eu quero manter o contato com você até o dia do resultado.

Meu estômago revirou. Era um misto de ansiedade e esperança. O que isso significava para nós? Para a minha vida? Olhei nos olhos dele e vi uma determinação que me deu coragem.

Verena: E se eu for? - A pergunta saiu mais hesitante do que eu pretendia.

Gabriel respirou fundo e sorriu levemente, como se tentasse acalmar os dois.

GD: Então teremos muito o que conversar.

Aquela noite parecia cheia de promessas e incertezas, mas uma coisa era certa: naquele momento, tudo estava prestes a mudar.

Eu deixei a Verena em frente a casa dela sem que os avós percebesse, antes dela sair, eu pedir o contato dela.

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