Capítulo trinta e seis: Fantasmas de Sangue.
_____________________________Narrador personagem: Gabriel Duarte (GD)
~ Complexo do Alemão, segundos-feira, 23:20.Cheguei em casa com o peso dos últimos dias nas costas. Meu corpo pedia por descanso, mas minha mente estava em alerta, sempre pronta para o próximo problema que surgisse. Abri a porta e fui direto para a cozinha, o único lugar onde conseguia algum momento de paz. Mas, ao entrar, parei no meio do caminho. Minha mãe, Adriana, estava lá, mexendo nas panelas como se nada tivesse acontecido nos últimos anos.
GD: Cadê a Fátima?
Toda segunda-feira a Fátima dormia aqui, ela ficava arrumando as bagunças que só ela via que a gente fazia no final de semana.
Ela nem levantou os olhos, continuando a mexer no que estava cozinhando.
Adriana: Mandei ela embora.
GD: Como assim "embora"? Ela trabalha aqui, mãe.
Adriana: Eu voltei, não voltei? Então, não preciso de ninguém mais aqui.
A frieza dela era impressionante, como se sua presença sozinha fosse o suficiente para transformar a casa em um lugar organizado, funcional. Mas essa era a mesma mulher que tinha deixado tudo pra trás quando meu padrasto morreu, que nunca me deu uma palavra de conforto.
GD: Amanhã eu quero ver a Fátima aqui de novo. E se você não trouxer, vai se ver comigo.
Ela soltou uma risada curta, debochada.
Adriana: Você fala tão formalzinho... deveria ser advogado, juiz, jornalista... – zombou, o tom carregado de sarcasmo. – O verme do seu padrasto era malandro, mas você tenta ser certinho.
GD: Para de graça, mãe.
Havia um limite para o quanto eu aguentava das provocações dela, e hoje não estava no humor para isso. Mas Adriana nunca soube quando parar. Ela se voltou para mim com aquele olhar que sempre me incomodou, o olhar de alguém que sabe demais, que conhece todos os seus segredos.
Adriana: Conversou com a garota?
A pergunta me pegou desprevenido, mas eu não deixei transparecer. Verena estava em todos os pensamentos dela, assim como estava nos meus. Eu tinha conversado com Verena, mas o que eu realmente descobri estava longe de ser satisfatório.
GD: Conversei.
Ela levantou uma sobrancelha, esperando mais.
Adriana: E o que ela disse? Me reconheceu?
GD: Ela não quis falar nada sobre aquele dia.
A verdade era essa. Verena ainda guardava o que sabia sobre o assassinato dos avós, como se estivesse protegendo alguma coisa. E eu não sabia se isso incluía minha mãe, mas tinha minhas desconfianças. Adriana bufou, irritada, como se fosse minha culpa que Verena não abrisse a boca.
Adriana: Que merda de bandido é você, Gabriel? Faz essa garota falar o que ela sabe ou eu mesma vou resolver isso do meu jeito.
GD: Se você fizer alguma coisa com a Verena...
Eu não consegui terminar a frase sem a raiva crescer dentro de mim. Verena já tinha passado por muita coisa, e o que quer que minha mãe estivesse planejando, eu não ia deixar acontecer. Mas Adriana riu de novo, com aquele desprezo que só ela sabia demonstrar.
Adriana: Vai fazer o quê? Vai me matar como matou seu padrasto?
Ela disse isso de um jeito tão casual que o peso da acusação nem parecia real. Só que era. E por um segundo, o silêncio na cozinha ficou tão denso que eu quase pude sentir o cheiro do sangue de volta, do passado que nunca consegui apagar.
GD: Aquele filho da puta não era nada meu.
Adriana: Claro que era. Tudo isso que você tem hoje é graças a ele.
Eu quase avancei para ela naquele momento. Ela não entendia, nunca entendeu. Meu padrasto era um verme, um parasita, e o que aconteceu com ele foi um alívio para todos, inclusive para mim. Mas Adriana sempre teve um jeito distorcido de ver as coisas. Para ela, o fim dele foi o começo de tudo.
GD: Amanhã eu quero que você suma da minha frente.
Ela riu de novo, mas dessa vez, havia algo mais ali. Uma sombra de verdade nas palavras que viriam em seguida.
Adriana: A mãe dessa menina acabou com a minha vida, com o meu casamento, com a sua... – Ela largou a panela e me encarou. – Eu não pude me vingar, mas a filha... A filha vai pagar pelos pecados da mãe.
Meu sangue gelou. A história de Verena e a minha estavam entrelaçadas há mais tempo do que eu queria admitir. Minha mãe sempre odiou a família dela, especialmente a mãe de Verena. Eu sabia que ela tinha seus motivos, mas não importava o que tivesse acontecido no passado. Se Adriana estava planejando algo contra Verena, eu tinha que parar isso.
GD: Amanhã eu quero você fora dessa casa! E se você ousar tocar a mão nela...
Me aproximei dela, meu corpo inteiro tenso, cada palavra saindo como uma ameaça real. Eu sabia que minha mãe não era do tipo que recuava, mas ela também sabia do que eu era capaz.
GD: Eu só vou falar isso uma vez. Eu mesmo vou me resolver com você.
Ela me olhou com uma mistura de fúria e desdém, mas não recuou.
Adriana: Essas mulheres dessa família só podem ter uma buceta de mel, né? Primeiro a mãe, agora a filha?
A provocação foi calculada. Ela sabia que estava me testando. Minha mãe sempre soube que, por mais que eu quisesse cortar o laço que nos unia, eu não conseguia. Ela era a sombra que eu nunca poderia deixar para trás.
Adriana: Não me ameace, Gabriel. Eu não baixo a cabeça pra filho ingrato.
O silêncio que seguiu suas palavras foi tão pesado que parecia sufocar. Eu queria falar, queria jogar de volta cada uma das provocações que ela me atirava, mas algo me impediu. Minha mãe sabia que me controlava de um jeito que ninguém mais conseguia.
Ela voltou a mexer na panela, como se a conversa tivesse acabado. Para ela, talvez tivesse. Mas eu sabia que essa história estava longe do fim. Verena estava mais envolvida do que imaginava, e agora minha mãe estava decidida a se vingar de algo que aconteceu há décadas. Não importava o que Verena fizesse ou dissesse, Adriana não ia deixar o passado morrer.
E eu, no meio disso tudo, precisava decidir até onde estava disposto a ir para proteger alguém que nem sabia o perigo que corria.
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Amor ou Moral
FanfictionSinopse: Ao se apaixonar por GD, chefe do Complexo do Alemã, Hillary se vê em um dilema: seguir o caminho seguro e previsível que sua família planejou para ela ou arriscar tudo por um amor que a faz sentir viva. Enquanto os sentimentos intensos de H...