Capítulo 42

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Capítulo quarenta e dois : Entre Lealdade e Perigo
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Narrador personagem: Soares
~ Complexo do Alemão, domingo, 01:00

Eu nunca pensei que as coisas fossem se complicar tanto. Quando entrei nisso, parecia simples: cumprir ordens, manter a cabeça baixa, e fazer o que GD mandava. Mas Verena... Ela trouxe um peso inesperado.

Naquela noite, estava subindo o morro do Complexo do Alemão mais uma vez. Era tarde, e eu sabia que cada passo me levava mais fundo numa encrenca da qual não seria fácil sair. O ar parecia mais pesado, carregado de tensão. Os becos silenciosos, as sombras, tudo me lembrava que eu estava no território dele. O território de GD.

Meus olhos estavam atentos. Mesmo sendo "convidado", eu sabia que esses encontros não eram exatamente seguros. Nada é seguro com GD. Ele pode parecer calmo, mas a verdade é que cada palavra dele carrega uma ameaça, um aviso velado. E ali estava eu, indo de novo, amarrado a uma situação que já não controlava. Eu sempre fui o tipo que evitava riscos, mas agora... agora não tinha volta.

Cheguei no lugar combinado, uma casa escondida entre becos estreitos e janelas cobertas. Dois dos capangas dele me revistaram, como de costume, com olhares duros e silenciosos. Quando finalmente me deixaram passar, lá estava ele, sentado como se fosse dono do mundo. GD tinha aquele jeito — uma mistura de carisma e frieza que mantinha todos na linha.

Ele me lançou um olhar avaliador, com um sorriso que nunca chegava aos olhos.

GD: Até que enfim, Soares. Tava achando que tinha mudado de ideia.

Eu sorri de volta, meio tenso.

Soares: Eu sei o que está em jogo. Não vou fugir, não.

Ele assentiu, parecendo satisfeito com minha resposta, e gesticulou para eu sentar. Eu sabia que ele gostava de manter o controle da situação, e a maneira como me olhava me deixava claro que, para ele, eu era apenas uma peça. Uma peça útil, mas ainda assim... substituível.

Soares: Como você tá? Aparentemente está bem.

GD: Ainda não posso andar, mas vou ficar bem. - Deu uma pausa. - E a Verena? Como ela tá?

Aquela pergunta me atingiu como um soco. Era o motivo pelo qual eu estava ali, mas falar sobre ela para ele me fazia sentir como se estivesse traindo cada promessa que fiz a ela. Ela confiava em mim. E eu estava ali, relatando cada detalhe da vida dela para um homem que era seu inimigo, mesmo que ela ainda não soubesse disso.

Soares: Ela confia em mim. Tá desconfiada, mas não faz ideia do que tá acontecendo de verdade.

GD riu, aquele riso frio que ele usava quando sentia que tinha alguém nas mãos.

GD: Bom... é isso que eu quero. Ela tem que se sentir protegida.

Eu mordi o lábio, tentando manter a compostura. A verdade era que Verena significava mais para mim do que eu estava disposto a admitir, mesmo para mim mesmo. Mas não podia demonstrar isso ali. Com GD, qualquer fraqueza era explorada até o fim. Tive que engolir o incômodo e continuar com o teatro.

GD: E ela tá desconfiada de alguma coisa sobre você querer ajudar ela? Sobre querer vir pra cá pro Rio?

Engoli em seco. Eu tinha deixado as perguntas dela morrerem, redirecionado o foco, mantido as respostas vagas.

Soares: Eu tô manipulando o suficiente para que ela não procure respostas fora da minha proteção. Eu falei pra ela que estou na BOPE.

GD: Ótimo. Porque a última coisa que preciso é da Verena descontrolada tentando mexer onde não deve. Ela só precisa acreditar que você é o anjo da guarda dela... quando eu estiver bem, eu tiro você dessa.

Amor ou MoralOnde histórias criam vida. Descubra agora