Capítulo 08

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Capítulo oito: Incerteza
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Narrador personagem: Gabriel Duarte (GD)
~ Aracajú , segunda, 10:00

O sol da manhã filtrava-se pelas árvores, lançando sombras suaves no chão de paralelepípedos enquanto Verena e eu caminhávamos em direção à clínica. O ar estava carregado de expectativa e ansiedade, e eu podia sentir meu coração acelerado a cada passo. Ao chegarmos à entrada, notei que o avô de Verena estava parado ali, com os olhos marejados.

Ele olhou para nós com uma expressão que misturava preocupação e amor, como se estivesse tentando transmitir força mesmo diante da incerteza. Verena hesitou por um instante, mas logo segurou minha mão, buscando conforto na minha presença.

GD: Vamos, está tudo bem - , murmurei, embora a certeza não estivesse presente em meu próprio coração. A porta se abriu com um leve rangido, revelando um interior limpo e frio, iluminado por luzes fluorescentes. O cheiro de desinfetante era forte e penetrante.

Enquanto entrávamos, eu não conseguia deixar de olhar para trás. O avô de Verena permanecia ali, as lágrimas escorrendo pelo rosto enrugado. Ele parecia tão pequeno e vulnerável naquele momento. Verena também olhou para ele e seus olhos brilharam com uma mistura de tristeza e determinação.

Verena: Eu vou fazer isso por nós - , ela disse em voz baixa, como se estivesse reafirmando seu propósito. A frase ressoou em mim, dando-me um pouco mais de coragem.

Dentro da clínica, a recepcionista nos chamou e nos guiou até uma sala. O ambiente era estéril e impessoal, mas a presença de Verena ao meu lado me dava alguma esperança. Sentamo-nos juntos na sala, ambos nervosos, esperando que aquele exame pudesse responder perguntas que há muito nos atormentavam.

A imagem do avô lá fora ficou gravada na minha mente enquanto o técnico entrava. Ele sorriu de forma acolhedora, mas eu sabia que o verdadeiro peso daquele momento não estava apenas em nós dois — estava também na dor silenciosa do homem que amava Verena e que esperava do lado de fora.

O técnico explicou o procedimento de forma calma e profissional, mas eu mal conseguia focar nas palavras. A tensão no ar era palpável, e a ansiedade parecia se acumular em meu peito. Verena, percebendo meu nervosismo, apertou minha mão ainda mais forte, como se quisesse me ancorar naquele momento de incerteza.

— É só uma coleta rápida - , disse o técnico, interrompendo meus pensamentos. - Vocês vão se sentir melhor assim que tudo isso passar. - Ele sorriu, mas o gesto não conseguiu dissipar a nuvem de apreensão que pairava sobre nós.

Enquanto ele preparava os materiais, eu não pude deixar de pensar em como aquele exame poderia mudar nossas vidas. O que aconteceria se o resultado fosse positivo? E se fosse negativo? A ideia de descobrir verdades ocultas sobre nossas origens e conexões era ao mesmo tempo empolgante e aterrorizante.

Finalmente, o técnico pediu que eu me sentasse e começou a realizar a coleta. Senti um leve desconforto, mas a presença de Verena ao meu lado me deu força. Ela me olhou nos olhos e eu vi ali uma mistura de esperança e medo. O avô dela ainda estava lá fora, sua silhueta visível através da janela da clínica. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, as lágrimas agora secas em seu rosto.

GD: Ele está preocupado com você - , murmurei para Verena assim que o técnico saiu da sala por um momento. - Ele ama você profundamente.

Ela assentiu lentamente, os olhos brilhando com emoção.

Verena: Eu sei. E quero que ele saiba a verdade. Isso é importante para nós. - A determinação em sua voz me surpreendeu; havia uma força dentro dela que eu nunca tinha percebido antes. - Eu tava pensando aqui... e se eu não for sua filha? - Olhei pra ela sem saber o que falar.

GD: Pelo menos minha consciência não vai pesar e vou ter ciência que matei aquele vagabundo com motivos.

Verena: Você se arrepende de ter matado o seu pai? - Balancei a cabeça negando.

GD: Ele não é meu pai de sangue, na verdade, eu nem sei quem é. O Peixe me criou, casou com minha mãe quando ela ainda estava grávida. Mas ele é o pai da Larissa. - Ela fez cara de surpresa. - Minha consciência não pesou, tá ligado? Mas tipo, quando minha mãe parou de falar comigo, foi onde começou a surgir a dúvida se você realmente era a minha filha. Se não for, é a prova viva que eu estava sendo corno a mó cota.

Verena: Então isso quer dizer que de qualquer forma eu sou parente da Larissa? - Concordei. - Meu Deus, que loucura! E Beatriz?

GD: O que tem? - Os seus olhos brilhavam... era vidente que ela queria fazer essa pergunta há um bom tempo.

Verena: Por que você matou ela?

GD: O meu problema era com o Guto, ela só estava no lugar errado, na hora errada.

Verena: E você fala assim na maior naturalidade?

GD: Ué? - Ela virou o rosto.

O técnico voltou com um sorriso reconfortante.
— Pronto! Agora é só aguardar os resultados. - Com isso, ele nos despediu e nós saímos da sala.

Do lado de fora, encontrei o avô de Verena ainda esperando, seus olhos encontrando os dela instantaneamente. Ele se aproximou e ela caiu em seus braços, ambos compartilhando um momento silencioso que falava mais do que mil palavras.

Raul: Está tudo bem? - ele perguntou suavemente, olhando para mim em seguida.

GD: Estamos prontos para descobrir a verdade - , respondi, tentando esconder a ansiedade na minha voz. O avô assentiu, uma expressão de orgulho misturada com preocupação no rosto.

Juntos, caminhamos para fora da clínica. O sol brilhava intensamente agora, como se quisesse nos encorajar diante da incerteza que ainda nos aguardava. Enquanto caminhávamos lado a lado, percebi que independente do que viesse a seguir, estávamos juntos nessa jornada — e isso já era um passo importante para enfrentar qualquer verdade que o futuro reservasse para nós.

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