Capítulo 06

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Capítulo seis: Uma nova fase se inicia
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Narrador personagem: Hillary Verena
~ Aracajú , domingo, 20:00

Ao abrir a porta de casa, fui recebida pelo cheiro familiar do jantar que minha avó estava preparando. O aroma de arroz e feijão misturado com o tempero do frango assado invadia meus sentidos, trazendo uma sensação de conforto. Mas, assim que entrei, percebi que a atmosfera estava carregada de perguntas.

Minha avó, sempre tão atenta, se aproximou com um olhar curioso e preocupado. Ela tinha os cabelos brancos presos em um coque bagunçado, e seus óculos estavam escorregando pelo nariz.

Teresa: Onde você estava? — perguntou ela, com a voz cheia de expectativa. — Você demorou tanto!

Senti meu coração acelerar. A última coisa que eu queria era explicar a situação complicada em que me encontrava.

Verena: Ah, eu... eu tava conversando com meus colegas sobre a prova. — inventei, tentando soar convincente.

Ela pareceu aceitar a resposta, mas não sem uma leve expressão de desconfiança.

Teresa: Está tudo bem? Você parece um pouco... distraída.

Agradeci mentalmente por não insistir mais e rapidamente me desviei da conversa. Com um aceno de cabeça e um sorriso forçado, passei por ela e fui em direção ao meu quarto.

Assim que fechei a porta atrás de mim, o mundo lá fora parecia se dissipar. Era como se eu estivesse em uma bolha, longe das expectativas e das perguntas. O quarto era meu refúgio.

Tomei um banho rápido, deixando a água quente escorregar pelo meu corpo enquanto tentava limpar a confusão da minha mente. A água levava embora não só o cansaço do dia, mas também as dúvidas que me assombravam desde que Gabriel havia falado sobre o DNA.

Depois de me enxugar, vesti meu pijama da Barbie — um conjunto confortável e familiar que me fazia sentir como uma criança novamente. A camiseta tinha a imagem da Barbie sorridente com um vestido brilhante; era impossível não sorrir ao vê-la.

Deitei na cama e coloquei os fones de ouvido, escolhendo uma música calma para tentar relaxar. As notas suaves preenchiam o espaço ao meu redor, criando uma atmosfera tranquila enquanto eu olhava para o teto.

Mas mesmo com a música tocando suavemente, minha mente não conseguia descansar. As palavras de Gabriel ecoavam em meus pensamentos: "Amanhã vamos fazer o DNA." E se eu realmente fosse filha dele? O que isso significaria para mim? Para minha vida? Para minha avó?

Tentei imaginar como seria essa nova realidade: ter um pai biológico que eu mal conhecia. Uma parte de mim ansiava por essa conexão perdida; outra parte temia as complicações que isso poderia trazer.

Fechei os olhos e respirei fundo, tentando encontrar algum tipo de clareza em meio ao turbilhão emocional. A música continuava tocando suavemente enquanto eu me permitia sonhar acordada sobre possibilidades: risadas compartilhadas, histórias do passado que poderiam ser reveladas e um futuro incerto que começava a se desenhar à minha frente.

E assim permaneci ali, entre a realidade e os sonhos, esperando que o amanhã trouxesse respostas para todas as minhas perguntas.

O som da música envolvia meu corpo como um abraço acolhedor, mas a inquietação dentro de mim não se aquietava. Eu me virei de lado, olhando pela janela do meu quarto. A noite estava clara, com estrelas brilhando no céu escuro, como se elas estivessem observando a minha luta interna.

O relógio na parede marcava 21:30, e eu sabia que precisava descansar. Mas o que era o descanso quando sua mente estava cheia de incertezas? A ideia de ser filha de alguém que eu mal conhecia me deixava em um estado de expectativa e medo. O que eu diria a ele? Como reagiria? E se tudo isso mudasse a relação que eu tinha com minha avó?

Levantei-me da cama e fui até a estante, onde mantinha algumas lembranças de infância. Encontrei uma caixa pequena, cheia de cartas e desenhos que eu havia feito ao longo dos anos. Peguei uma carta amarelada e abri. Era uma mensagem que escrevi para mim mesma quando tinha cerca de dez anos, cheia de sonhos e promessas.

"Um dia, vou ser forte e corajosa. Vou descobrir quem sou e enfrentar qualquer desafio!"

Sorrir ao ler aquelas palavras ingênuas me trouxe um fio de esperança. Eu sempre sonhei em ser forte, mas agora o desafio estava bem diante de mim. Se eu realmente fosse filha do Gabriel, isso não era apenas sobre descobrir quem ele era; era sobre descobrir quem eu sou nesse novo contexto.

Voltei para a cama e coloquei a caixa ao meu lado. A música ainda tocava suavemente, criando um ambiente propício para reflexão. Comecei a pensar em tudo o que já passei: os momentos difíceis com amigos, as brigas bobas, as alegrias simples das tardes ensolaradas no parque. Essa nova revelação parecia um quebra-cabeça que ainda não conseguia montar.

Olhando pela janela novamente, vi a lua cheia brilhando intensamente. Era como se ela estivesse me chamando para uma conversa íntima. Com um impulso súbito, levantei-me e fui até a janela, abrindo-a para deixar o ar fresco entrar. A brisa suave acariciou meu rosto e trouxe consigo o cheiro doce das flores do jardim da vizinha.

"Você pode fazer isso", pensei comigo mesma. "Você pode enfrentar essa verdade."

Respirei fundo mais uma vez e fechei os olhos, deixando que as emoções fluíssem livremente. Senti uma mistura de medo e coragem pulsando dentro de mim, como se estivesse à beira de um precipício emocional.

Com os olhos fechados, imaginei o momento em que encontraria Gabriel novamente — suas palavras ainda ecoavam na minha mente: "A verdade pode doer, mas é libertadora." Seria essa a chave para entender quem eu realmente sou?

Decidi que precisava me preparar para essa conversa. Não importava o resultado; eu tinha que ser honesta comigo mesma e com ele. Abrindo os olhos lentamente, olhei para o céu estrelado mais uma vez e fiz uma promessa silenciosa: independentemente do que acontecesse amanhã, eu enfrentaria isso com coragem.

Voltei para a cama e peguei meu diário — sempre foi meu confidente mais fiel. Comecei a escrever sobre meus sentimentos confusos: as dúvidas, os medos e as esperanças que estavam brotando dentro de mim.

Enquanto escrevia, percebi que talvez essa jornada não fosse apenas sobre descobrir quem era meu pai biológico; era também sobre me encontrar novamente em meio a todas essas revelações. E assim fui escrevendo até sentir meus olhos pesarem.

Quando finalmente apaguei a luz do quarto e me aconcheguei sob as cobertas quentes, um novo sentimento tomou conta de mim: esperança. Amanhã seria um dia decisivo — mas independentemente do resultado, eu sabia que estava pronta para enfrentar qualquer coisa que viesse pela frente.

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