Capítulo 40

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Capítulo quarenta: A Gente Sempre Volta
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Narrador personagem: Hillary Verena
~ Aracajú, segunda, 08:00

"Corra, corra, Verena!" – essas foram as últimas palavras que ouvi da minha irmã Larissa.

Por um segundo, acreditei que Larissa tentaria me proteger, que ela teria coragem de fazer a mãe dela abaixar a arma apontada para mim. Mas não. Pedir para eu fugir foi a forma mais fácil de se livrar do peso. E eu corri. Eu fugi, Larissa. Só que essa história não acabou. Descobrir quem matou meus avós foi só o começo de uma guerra que eu jamais imaginei enfrentar.

Se você me perguntasse como estou agora, acho que nem saberia o que responder. Pra ser honesta, a única coisa que me mantém aqui é Gabriel. Se não fosse por ele, talvez eu já tivesse desistido de tudo.

Soares: Toma, trouxe um chá pra você. – Ele estendeu a xícara na minha direção, seu olhar firme e acolhedor ao mesmo tempo.

Desde que voltei pra Aracajú, Soares tem sido a pessoa em quem confio. Ele me acolheu em sua casa, mesmo sabendo o peso que eu carrego.

Soares: Tá melhor?

Verena: Queria dizer que sim... – Suspirei e, sem conseguir segurar, senti as lágrimas ameaçando escorrer. – A Ana Luiza... Ela foi outra. No morro, parece que família não significa nada, sabe? É todo mundo pensando só em si. Lá, se você toma partido, você morre. Lá em cima, a lealdade é uma questão de sobrevivência, nada mais.

Soares me observava em silêncio, mas seus olhos revelavam um misto de compreensão e tristeza. Ele sabia o que aquilo significava. Aquele lugar exigia mais do que eu podia dar.

Soares: Eu vou entrar na BOPE. – Ele disse de repente, e eu senti um arrepio subir pela espinha.

Verena: O quê? Soares... e sua família? Você vai largar eles aqui?

Soares: Thaís está na casa dos pais dela. É mais seguro do que ela estaria morando comigo. – Ele pausou, pensativo, como se escolhesse cuidadosamente as palavras. – Verena, se você quer justiça, você vai precisar escolher um lado. A Larissa, o GD, a Ana Luiza... todos eles têm um lado, mesmo que esse lado não seja o certo.

Soares: O Gabriel Duarte jamais mataria a própria mãe, e isso é, querendo ou não, uma escolha de lado. Ele se mantém em cima do muro, numa posição passiva. Ele te protegeu quando te viu em perigo, mas pensa bem... e se fosse você apontando a arma para a mãe dele? O que ele faria?

Aquelas palavras pesaram como chumbo em meu peito. Eu nunca tinha pensado nisso. Gabriel arriscaria tudo por mim... mas será que ele arriscaria o mesmo pela verdade?

Soares: Se você quer realmente vingança, se quer justiça, precisa entender que essa escolha é definitiva. Você pode tentar se aliar a essa mulher... ou ser contra ela. Mas lembre-se: qualquer contato com ela, e ela não hesitará em te matar.

Fiquei ali, em silêncio, encarando o chá nas minhas mãos, enquanto as palavras de Soares ecoavam na minha cabeça. Eu tinha uma escolha a fazer. E aquela escolha poderia ser o início do meu fim... ou o fim de toda essa dor.

Verena: E se eu escolher o lado errado? E se, no fim, essa luta só me deixar mais vazia do que já estou? – Minha voz saiu fraca, quase um sussurro. Eu sentia o peso das minhas decisões afundando cada vez mais dentro de mim, mas ainda não sabia como suportar.

Soares: Ninguém sabe o que é certo ou errado. Não nesse mundo que você vive agora. Aqui, o certo e o errado se misturam, e a gente precisa seguir o que acredita, mesmo que isso signifique perder partes de si pelo caminho. – Ele suspirou, os olhos cansados, como se carregasse o peso de mil escolhas difíceis nas costas. – Mas lembra de uma coisa... justiça é diferente de vingança.

Amor ou MoralOnde histórias criam vida. Descubra agora