Capítulo 27

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Capítulo vinte e sete: No Silêncio da Dor
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Narrador personagem: Hillary Verena
~ Aracaju, sábado, 09:00.

A escuridão da noite parecia se arrastar, como se o tempo tivesse decidido parar apenas para mim. Eu passei horas sentada naquela cadeira dura na delegacia, com a mente em turbilhão e o coração pesado. O delegado estava lá, pronto para ouvir minha história, mas eu ainda não conseguia articular uma única palavra. A única coisa que saía de mim eram lágrimas, um rio sem fim que escorria pelo meu rosto.

Verena: Por que, Deus? — sussurrei para o vazio, como se esperasse uma resposta que nunca chegaria.

O pensamento dos corpos dos meus avós no IML me assombrava. Eles eram a minha âncora, a luz em meio à tempestade da vida. Agora, essa luz estava apagada, e eu me sentia perdida em um mar de desespero.

Um policial se aproximou e sentou-se ao meu lado. Ele me ofereceu um copo d'água, e eu fiquei olhando para ele como se fosse um objeto estranho. A água era clara e pura, mas eu não conseguia me convencer a beber. Como poderia cuidar de mim mesma quando tudo ao meu redor desmoronava?

— Sinto muito — ele disse gentilmente. Suas palavras eram um eco distante da realidade dolorosa que eu estava vivendo. Eu continuei encarando o copo, permitindo que as lágrimas escorressem livremente. A dor era tão intensa que eu mal conseguia respirar.

Verena: Eu não sei o que vai ser de mim — finalmente consegui murmurar, minha voz mal passando de um sussurro.

Ele pareceu entender meu desespero. — Você tinha mais algum parente, fora seus avós?

Assenti lentamente, como se cada movimento fosse um esforço monumental.

Verena: Uma tia, uma prima e uma irmã; mas todas moram no Rio de Janeiro, longe demais para me oferecer qualquer conforto neste momento sombrio.

— Você precisa ser forte — ele disse com firmeza, apontando para a sala do delegado. — Vai precisar quando entrar naquela sala. Não vou te fazer perguntas porque esse não é o meu dever, mas o que você souber, diga pro delegado; vai ser melhor pra sua segurança. Se eles queriam te matar, eles vão voltar e só vão parar quando conseguirem.

Minhas mãos tremiam ao ouvir suas palavras. O medo do desconhecido me envolveu como uma névoa pesada, mas eu sabia que precisava concordar com ele. Fiz isso com um leve movimento de cabeça.

— Vou pegar alguma coisa pra você comer — ele disse antes de se levantar.

Verena: Não tô com fome — respondi automaticamente, mas sabia que isso não importava; minha condição era irrelevante diante da gravidade da situação.

— O delegado não vai te liberar até você dar seu depoimento — ele insistiu com um olhar sério. — Você vai precisar se alimentar.

As palavras dele ecoaram em minha mente enquanto ele se afastava. O estômago roncava em protesto contra a negação do alimento, mas a ideia de comer parecia absurda diante da tempestade emocional que eu enfrentava. Eu precisava encontrar forças em algum lugar dentro de mim; precisava ser a Verena forte que meus avós sempre acreditaram que eu era.

Com um suspiro profundo, olhei para o copo d'água novamente e finalmente ergui a mão para pegá-lo. A água seria apenas um pequeno passo, mas era algo; era vida em meio à morte que me cercava. E assim comecei a me preparar para enfrentar o inevitável: meu depoimento e as verdades dolorosas que precisavam ser reveladas.

Tentei respirar fundo, tentando controlar a ansiedade que pulsava dentro de mim. A cena da briga entre o rapaz e o policial ainda ecoava em minha mente, mas agora tudo parecia distante.

Verena: Larissa! - ela exclamou, sentindo uma onda de alívio ao ver ela correndo em minha direção. O meu coração se aquecia enquanto Larissa me envolvia em seus braços, como se quisesse me proteger de tudo que estava acontecendo ao redor. O choro dela cortava o ar, senti um nó na garganta.

Larissa: Meu amor... — disse Larissa, com lágrimas nos olhos. O aperto do abraço era reconfortante, mas também carregava uma carga pesada de preocupação. Quando Larissa se afastou, eu vi a Ana Luiza atrás dela, parecendo perdida em um mar de pensamentos turbulentos.

Me aproximei, meu coração disparando ao notar a expressão angustiada no rosto dela. Quando Ana Luiza me abraçou  com tanta força, era como se ela estivesse tentando transmitir toda a dor que sentia. Verena nunca tinha visto Ana Luiza daquele jeito; aquele desespero só aumentava sua própria inquietação.

— Bom dia — disse um homem sério que apareceu na porta, interrompendo o momento. A menção do delegado fez com que um frio percorresse suas costas. Eu assenti lentamente, ainda absorvendo o carinho das meninas.

Verena: Eu preciso dar o meu depoimento... — falei,, olhando para Larissa e Ana Luiza com uma mistura de gratidão e medo. O olhar encorajador delas era tudo o que eu precisava naquele momento.

Ana Luiza: A gente vai estar aqui te esperando — respondeu Ana Luiza, dando um beijo suave em minha testa, como se fosse um amuleto contra o medo.

Larissa: Fica calma... te amo! — sussurrou antes de dar mais um abraço apertado. Senti os batimentos do coração da Larissa contra meu peito e isso me deu um pouco mais de coragem.

Respirei fundo mais uma vez e entrei na sala do delegado. O ambiente era pesado e as paredes pareciam se fechar ao seu redor enquanto as perguntas começavam a surgir.

Amor ou MoralOnde histórias criam vida. Descubra agora