Capítulo 37

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Capítulo trinta e sete: Segredos a Pairar.
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Narrador personagem: Hillary Verena
~ Complexo do Alemão, sexta-feira, 19:00

A laje da casa abandonada era o ponto onde a realidade do morro parecia mais tangível. Ali, o caos lá embaixo parecia distante, mas ao mesmo tempo, presente em cada movimento de quem subia e descia as vielas. Breno e eu sempre acabávamos aqui, em cadeiras de praia surradas, onde ele podia fumar tranquilamente enquanto supervisionava suas vendas. Eu, como de costume, ficava em silêncio, observando a paisagem, o morro se estendendo como uma pintura viva de desigualdade e sobrevivência.

A fumaça do cigarro de Breno flutuava no ar quando uma voz cortou o ambiente.

GD: Breno. — A voz era inconfundível, cheia de autoridade. Olhamos para trás, e lá estava Gabriel, o GD, surgindo da sombra de uma parede desgastada.

Ele caminhou até nós com passos lentos, mas firmes, como se cada movimento fosse calculado. Seus olhos fixaram-se no meu antes de se dirigirem a Breno.

GD: O Nikeboy quer falar contigo — anunciou, sem preâmbulos.

Breno soltou uma última baforada e jogou o cigarro no chão, esmagando-o com o pé.

Breno: Jaé. Vamos, Verena — disse, já pronto para me puxar junto.

Mas GD balançou a cabeça, interrompendo qualquer possibilidade.

GD: Você vai. Verena fica.

Breno hesitou por um momento, os olhos indo de GD para mim. Eu assenti, indicando que estava tudo bem, mesmo que um nó se formasse no meu estômago. Ele deu de ombros, claramente incomodado, mas seguiu em frente, desaparecendo pela porta.

Agora, estávamos apenas eu e GD. A laje parecia ainda mais fria e vazia sem Breno por perto. GD se aproximou da pequena parede que cercava o local, e por um segundo, imaginei o quão fácil seria empurrá-lo dali. Ele se escorou na mureta com um sorriso no canto da boca, um sorriso que não chegava aos olhos.

Verena: Pra quem dizia que não queria que eu me aproximasse, tá querendo muita conversa comigo — eu disse, minha voz carregada de desconfiança.

GD me olhou, seus olhos escuros, calculistas, e por um momento o silêncio foi a única resposta.

GD: Eu quero que você me conte agora tudo que sabe sobre o assassinato. O que você viu... — disse ele, sua voz séria, sem espaço para brincadeiras.

Eu o encarei, medindo cada palavra antes de responder.

Verena: Por que tanto interesse? Tá com medo de eu ter te visto? — provoquei, sabendo que estava jogando com fogo.

GD: Não brinca com coisa séria, Verena — ele respondeu, seu tom mais frio do que antes.

Eu cruzei os braços, buscando coragem para fazer a pergunta que estava me corroendo por dentro.

Verena: Quem é a mulher que está na sua casa?

GD estreitou os olhos, avaliando minhas intenções.

GD: Breno também te falou isso? — perguntou, mas seu tom já indicava que ele sabia a resposta.

Verena: Ouvir boatos — respondi, mantendo a expressão neutra.

GD soltou um suspiro de frustração.

GD: Não precisa ficar com ciúmes.

Revirei os olhos, irritada com a suposição.

Verena: Não tenho. Ela é velha demais pro seu gosto — retruquei, lembrando do que Breno havia mencionado.

Ele riu, um som seco, mas logo voltou ao que realmente o interessava.

GD: Eu preciso saber o que você sabe, pra te proteger.

Aquelas palavras me fizeram rir, mas era um riso sem humor, cheio de incredulidade.

Verena: De quem? Dela? Quem é ela? — disparei, minha paciência se esgotando.

GD fechou os punhos, e sua frustração ficou evidente.

GD: PARA DE FAZER PERGUNTAS! — ele gritou, a raiva transbordando de uma maneira que raramente mostrava.

Eu cruzei os braços, desafiadora.

Verena: Larissa sabe disso tudo? Ela sabe sobre essa mulher?

GD desviou o olhar, e por um segundo, pude ver algo quebrar em sua fachada de controle.

GD: Eu nem deveria estar aqui... — murmurou, como se estivesse falando mais para si do que para mim.

Verena: Então por que está? — minha voz saiu mais suave do que eu esperava, como se uma parte de mim realmente quisesse entender o que estava acontecendo por trás daquelas ameaças e segredos.

GD me olhou, sua expressão endurecida novamente, como se estivesse lutando contra alguma emoção que ele se recusava a deixar transparecer.

GD: PORQUE EU QUERO TE PROTEGER, CARALHO! — ele gritou, a intensidade da sua voz ecoando pela laje.

Fiquei em silêncio, surpresa com a explosão. Ele raramente deixava suas emoções à mostra desse jeito. Por um momento, fiquei ali, apenas o encarando, sem saber exatamente o que pensar. O que estava acontecendo? O que ele estava tentando esconder?

GD respirou fundo, tentando se recompor.

GD: A mulher é minha mãe — disse ele, finalmente, embora o tom de sua voz fosse menos convincente do que o habitual. — Ela acha que sabe quem matou seus avós.

Eu observei atentamente a mudança sutil em sua expressão, o pequeno vacilo em suas palavras. Ele estava mentindo. Era óbvio. Não sobre tudo, mas sobre algo importante.

Verena: Então manda ela mesma vir fazer essas perguntas — respondi, minha voz carregada de desafio.

Ele riu, um riso seco e amargo.

GD: Você mal pode se proteger.

Verena: E você pode? — retruquei, cada vez mais irritada com o jeito dele. — Me poupe! Eu sei me virar sozinha.

GD balançou a cabeça, seus olhos fixos nos meus, carregados de uma mistura de frustração e algo que eu não conseguia identificar.

GD: Você nem sabe quem quer te matar, como sabe se virar sozinha?

As palavras dele me atingiram com força, mas eu não deixaria que ele visse isso. Ao invés disso, me aproximei, mantendo minha postura firme.

GD: Você me pediu pra eu me afastar de você. Agora sou eu que estou... nem pedindo, estou mandando. Sai de perto de mim!

GD apertou os lábios, claramente irritado com a minha atitude.

GD: Se eu souber que você tá tramando algo sem eu saber, eu mesmo te mato.

A ameaça pairou no ar entre nós, pesada e real. Mas eu já estava além do ponto de sentir medo.

Verena: Então mata — respondi, minha voz cheia de desprezo. — O que eu estou perdendo estando viva?

Ele me encarou por um longo momento, como se estivesse avaliando se valia a pena agir sobre aquela ameaça ali, naquele instante. Mas então, ele deu um passo para trás, o rosto endurecendo mais uma vez.

GD: Fique longe de problemas, Verena. Eu não vou te avisar de novo.

E com isso, ele saiu da laje, deixando-me sozinha com a brisa fria e o peso das suas palavras. Eu sabia que estava brincando com fogo, mas algo dentro de mim me dizia que já era tarde demais para voltar atrás.

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