Capítulo 1 - A menina que sobreviveu

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Hogwarts, 1982

– Tem certeza disso, Severo?

Já se passara um ano desde o incidente com o menino-que-sobreviveu. Um ano que você-sabe-quem sumira do mapa. Um ano que eu perdera Lily para a morte. Desde então, eu aceitara o cargo de professor de Poções em Hogwarts para viver sob as asas do velho Dumbledore. Isso melivrara de acabar em uma 'cela em Azkaban.

E se não fosse o filho de Lilian, um Potter, eu nem me defenderia. Iria para a prisão passar o resto de meus dias e pagar pela morte da única pessoa que amei. Mas usaria a liberdade para cuidar do garoto em memória dela, por ter tirado dela a oportunidade de proteger o próprio filho.

Para a minha satisfação, o garoto estava seguro. Morando com uns tios trouxas. Se bem que, se Petúnia continuasse aquele ser preconceituoso e metido, eu sentia até dó daquele Potter.

Mas os problemas do momento em nada tinham a ver com o menino.

Mesmo com o passar do tempo, alguns comensais que não foram capturados pelo ministério, se comunicavam. Alguns aficionados e descrentes da morte de Voldemort propunham inúmeras ideias aos outros para procurar o que teria restado do mesmo ou continuar com a tarefa que seu antigo mestre tinha lhes dado. Porém, essa noite, os burburinhos estavam ainda piores e não se tratava de um plano dos comensais e sim, dos lobisomens. Liderados por Greyback.

Alvo me encarava com o cenho franzido em preocupação.

– Greyback estava tentando recrutar comensais para atacar uma vila bruxa – expliquei. – É claro que ninguém aceitou. Não por ser arriscado ser flagrado e preso pelo ministério. Mas porque nem os comensais atacam outros bruxos de sangue puro e mestiços, quem dirá uma vilacheia deles...

Dumbledore, que até então estava sentado atrás de sua imponente mesa, se ergueu rapidamente e me alcançou. Os olhos azuis faiscaram na minha direção enquanto o homem segurava meus braços.

– Quando será o ataque, Severo?

– Ele pretendia agir após nos contatar. Então, pelos meus cálculos, devem chegar à vila muito em breve, se já não estiverem lá – murmurei.

– Vamos. Estamos perdendo tempo aqui.

Sem me dar tempo para compreender suas palavras, ele segurou mais firme nos meus braços e desaparatamos.

Meus pés mal tocaram o chão e eu já sentia um calor absurdo, o cheiro de fumaça e sangue, e ouvia alguns uivos distantes. O pequeno vilarejo estava em chamas. As casas de alvenaria simples estavam destruídas e o que restava delas parecia carvão em combustão. Nem a neve que caia do céu e contrastava com o fogo, era capaz de aplacá-lo.

Era tarde demais.

– Venha – Alvo me tirou do meu transe e me guiou para perto de uma das casas deterioradas. – Vamos procurar por sobreviventes. Enviarei um patrono para o ministério para avisar sobre o ataque e logo o ajudarei.

Assenti, mesmo com a certeza de que Greyback e seu bando não permitiriam sobreviventes. Eles não conheciam a palavra misericórdia.

Atravessei o que deveria ser a antiga sala de estar do casebre desviando das chamas remanescentes. Claro que apagava as maiores com feitiços, mas não era necessário por ali. Cheguei aos fundos com poucos passos e avistei alguns poucos brinquedos jogados pelo gramado. Eles formavam uma pequena fila em direção à floresta que margeava a vila.

Segui a trilha com passadas rápidas e adentrei a floresta. Logo a trilha parou e eu me concentrei para tentar ouvir qualquer coisa que denunciasse uma presença. Poucos segundos de espera e ouvi um farfalhar de folhas e um lamento baixo. Por estar acostumado com o breu, consegui caminhar sem problemas até a origem do som, que ficava mais alto com a aproximação.

Sangue Negro | SnamioneOnde histórias criam vida. Descubra agora