Senti leves cócegas no pescoço e automaticamente levei a mão ao local para afastar o que quer que incomodasse meu sono. Meus dedos se misturaram a um monte de pelos que eu não conseguia afastar. Bufei e abri os olhos. Pisquei algumas vezes ao encontrar o emaranhado de fios castanhos e a dona deles afundada no meu colo. Aos poucos, os flashs do dia anterior iluminaram a minha mente e tudo fez sentido.
Pela claridade que entrava pelos vitrais das janelas, o amanhecer chegara há algumas horas. Isso significava que a garotinha dormira por um bom tempo e estaria descansada quando finalmente acordasse. E isso era o que me aterrorizava... Ela acordaria disposta, começaria a correr para todos os lados, mexeria no que não devia, choraria ao ser repreendida, berraria sem parar e eu teria que aguentar tudo porque aquele ser não desgrudava de mim.
Ela era tão... Irritante.
É, esse termo serviria. Eu não diria que ela era uma criança fofa, carinhosa e inteligente... Ela era irritante por ser tudo isso! Não que eu fosse admitir para alguém.
Pousei a mão sobre seus cabelos desgrenhados, tentando abaixá-los. E mais uma vez, eles continuavam rebeldes. Que raio de genes os pais tinham passado para aquela menina para deixar seus cabelos daquele jeito?
– Sempre achei que você teria vocação para pai, Severo.
A voz de Alvo ecoou pela Ala hospitalar. Repousei a mão, que antes afagava os cabelos da menina, em suas pequenas costas e então encarei o diretor. Ele tinha um sorriso no rosto. Como ele conseguia sorrir tanto?
– Eu não tenho vocação para pai – respondi seco.
– Não é o que me parece. – Indicou com a cabeça onde eu estava com a menina no colo.
Revirei os olhos. Aquilo era ridículo, aquele velho estava esclerosado.
Levantei com a garotinha nos braços e a coloquei no berço, cobrindo-a com a manta e o cobertor. Ela se remexeu, incomodada, mas continuou em seu sono tranquilo. Afastei-me do berço para pegar minha camisa e vesti-la, assim como o casaco.
Alvo sentou em uma cadeira, ao lado da que eu ocupava momentos antes, e esperou até que eu voltasse a sentar.
– O ministro me confirmou que ainda não sabem o verdadeiro motivo pelo ataque de Greyback ao vilarejo. É claro que todos acreditam que ele o fez por pura maldade e desejo de sangue. Eu, particularmente, não acredito nessa teoria. Acho que os lobisomens estavam procurando algo. Mas não saberia dizer o quê ou quem.
Concordei com um meneio de cabeça. Por mais que Greyback adorasse sangue bruxo, seus ataques eram mais voltados a trouxas e sobretudo crianças. Sem contar que ele preferia transformar suas vítimas ou brincar com a comida antes de se desfazer dela, e não, matar tão rapidamente.
Apesar da curiosidade em saber os motivos do lobo, eu estava mais interessado em outra questão. A garotinha adormecida a um metro de mim.
– Conseguiu descobrir algo sobre a menina?
– Bem, um morador da vila, que estava viajando a trabalho, a reconheceu
– comentou. – Segundo ele, ela morava com um casal de bruxos há um ano. – Franzi o cenho e ele percebeu que eu iria questioná-lo, então tornou a falar. – Sim, Severo. Eles não eram os pais biológicos dela. Mas já estamos perto de descobrir quem são.
– Como? – indaguei.
– O homem pode não saber sobre os pais biológicos dela. Mas sabe seu nome. E aparentemente, os pais adotivos mantiveram o nome de nascimento. A partir do nome e de uma vaga ideia de sua idade, o ministério só tem que comparar os registros de nascimento bruxo e encontrar os pais.
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Sangue Negro | Snamione
Fanfiction1982 Uma vila bruxa é invadida por lobisomens e apenas uma garotinha sobrevive. Dumbledore mantém a menina em Hogwarts até que a descoberta de seus pais biológicos leva o Ministro da Magia à exigir que ela seja criada por trouxas. 1996 Hermione Gran...