Na manhã seguinte, eu entrei no quarto apenas para trocar as vestes e usar o banheiro. Mas não pude deixar de olhar para a cama e ver Hermione adormecida. Seu rosto estava inchado e vermelho, enquanto seus braços agarravam meu travesseiro como se sua vida dependessedaquilo. Ela deveria ter caído no sono exausta de tanto chorar. Deixei que ela dormisse em paz e fui para as minhas aulas.
A última aula do dia era com o sexto ano, ou seja, a turma de Hermione. Quando abri a porta para que os alunos entrassem na sala, eu observei ela se arrastar para a cadeira ao lado de Longbottom. Seu rosto não continha nenhum resquício do choro noturno e eu supus que ela tivesse usado feitiços desilusórios. Ainda assim, ela estava triste e seus olhos caramelados, sem vida. Não era como se eu estivesse feliz também. Mas poderíamos – aliás, deveríamos – conversar depois.
Durante toda a aula, Hermione manteve os olhos fixos e perdidos no livro aberto à sua frente. Sequer tentou responder as questões propostas por mim. Estava presa em seu mundo particular. No entanto, ocasionalmente, eu a via lançar olhares curiosos para o chão aos pés de Longbottom.
Quando dei a matéria por encerrada, observei que o que chamara a atenção de Hermione era a mochila do garoto. De fato, parecia ter algo se mexendo dentro dela. Dei de ombros, deveria ser seu sapo. Mas antes que eu pudesse desviar os olhos, Longbottom abriu a mochila e olhou dentro dela. Seu grito ecoou pela sala e o menino se afastou alguns passos, assustado.
Aproximei-me do idiota e observei a mochila continuar a se mexer. Bufei irritado ao constatar do que se tratava.
– É só um bicho-papão – expliquei. – Afastem-se.
Hermione e o menino deram alguns passos para trás, mas seus olhares continuavam fixos. Eu abri a mochila com um aceno de varinha e o bicho-papão saiu dela. Correndo para o chão e ganhando forma.
Tal foi a minha surpresa ao ver a mim mesmo, deitado, estático e morto.
– Ridikkulus! – murmurei.
Sem resistência, o meu corpo sumiu, como se tivesse se desintegrado no ar. Voltei-me para Longbottom, que parecia estupefato com a cena que presenciara.
– Não sabia que temia a minha morte, Longbottom, mas lhe asseguro que demorara a acontecer – zombei. – Agora saia!
Não precisei dizer mais nenhuma palavra para que os cabeças-ocas que restavam, corressem para a porta e fugissem da sala. Como o Weasley ainda não deixara de ser um idiota, arrastou o Potter da sala sem nem esperar por Hermione. Logo, apenas eu e ela restávamos ali.
Hermione estava completamente estática, olhando para o chão frio onde a imagem do meu corpo morto estava há poucos instantes. Sua respiração estava entrecortada e eu vi seus olhos marejados, enquanto ela abraçava o próprio corpo.
– Era o seu bicho-papão, não é? – questionei me aproximando dela.
Ela assentiu e ergueu o rosto para me olhar. Era tanta dor em seus traços que eu me vi desnorteado. Sem hesitar, ela correu para mim e me abraçou com força na altura do peito. Deixei meus braços a envolverem e ela se dissolveu em lágrimas.
Eu nunca imaginaria que o maior medo de Hermione fosse me ver morto. Achava que seria seu medo de altura ou uma orelha na página de seus livros. Ou Greyback, ou Rodolfo, ou Rebastan... Talvez o próprio Voldemort. Mas a minha morte? Nunca passaria pela minha mente.
Mas quem eu queria enganar? Se o bicho-papão revelasse o meu pior pesadelo, certamente seria Hermione no meu lugar.
Ignorando todos os acontecimentos da noite anterior, a arrastei até a minha mesa, tomando o cuidado de mantê-la grudada a mim o tempo todo. Ocupei minha cadeira e a puxei para sentar lateralmente no meu colo. Ela não resistiu e se aconchegou no meu peito. Depositei um beijo casto em sua testa e acariciei seus cabelos. Mesmo assim, ela continuava a derramar suas lágrimas.
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Sangue Negro | Snamione
Fanfiction1982 Uma vila bruxa é invadida por lobisomens e apenas uma garotinha sobrevive. Dumbledore mantém a menina em Hogwarts até que a descoberta de seus pais biológicos leva o Ministro da Magia à exigir que ela seja criada por trouxas. 1996 Hermione Gran...