Capítulo 4

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Raphael narrando

Descemos e tinha um motorista me esperando, ela chamou um carro pelo aplicativo.
Fiz um sinal, de longe mesmo, para o meu motorista esperar.

- Obrigada por tudo. Não tenho palavras para te agradecer. - Ela falou.

- Não foi nada. Obrigado pela companhia. Tenho que ir agora, tenho compromisso logo cedo. - Era no quartel.

- Está bem. - Ela sorriu. - Obrigada.

- Seria muita cara de pau da minha parte pedir seu contato? - Criei coragem para perguntar. O carro por aplicativo dela chegou.

- Infelizmente meu celular descarregou, eu  ainda não gravei meu contato novo. - Ela corou ao falar. Parecia falar a verdade.

- Desculpe por isso. Estou a constrangendo. - Abri a porta do carro para ela entrar. - Boa viagem. - Sorri. - Te peço desculpas, mais uma vez.

- Ei, você pode me dar seu contato? - Ela enfiou a cabeça para o lado de fora do carro para falar.

- Só um minuto. - Aquilo fez meu coração disparar. Puxei um bloco de anotações da minha bolsa e uma caneta, anotei meu contato e nome, mais do que de pressa. Antes dela olhar no papel, foi logo perguntando.

- Qual é seu nome? Nem perguntamos os nossos nomes. - Ela sorriu para mim.

- Raphael. - Sorri.

- Igual ao anjo?  Sabia que você era um anjo, não existem pessoas assim hoje em dia.

- Obrigado. E o seu? Qual é o seu nome?

- Te envio por mensagem. - Ela sorriu e se endireitou no banco. - Se cuida.

- Você também. - Sorri.  Mais suspenses, nunca fiquei tão ansioso por algo.

O soldado tinha um ar de riso quando entrei no carro.
Ele dirigia e segurava para não sorrir.

- Está tudo bem senhor? - Ele enfim me perguntou.

- Está sim. Estou daqui pensando, o motivo que você está prendendo o riso. - Ele ficou sério de uma hora para a outra.

- Desculpe senhor.

- Não precisa se desculpar. Vou encostar um pouco aqui e tentar cochilar. - Sorri. Apesar de saber que não iria conseguir dormir, encostei a cabeça e fechei os olhos. Senti como se ela estivesse encostada no meu braço, isso me fez sorrir novamente.

Cheguei no quartel, desci do carro e entrei em casa.  Eu tinha uma hora e meia ainda.
Vesti minha roupa de corrida e calcei o tênis, corri em volta do quartel por meia hora.
Voltei, tomei banho e me arrumei.

Quase todos os dias tem formatura. Os meninos estão subindo de cargo. Sinto que estou fazendo militares melhores.

Após a formatura, fui cumprimentar os recém formados. Dentre eles tinham algumas mulheres.
Vanessa não parava de me encarar e sorrir, isso me deixou um pouco constrangido.
Pior que ela foi transferida para o lugar que eu lidero.
Não gosto de pessoas possessivas, ela tem todo o jeito de ser assim.
Fora que ficou se insinuando para mim o tempo todo.

Os dias foram se passando e Vanessa arrumava sempre uma situação para esbarrar em mim pelos corredores.
Quando todos nós saíamos, para o restaurante, ela sempre queria ficar sentada ao meu lado.
Todos se comportavam bem, só ela era assim.

Com o passar dos dias, fiquei frustrado. A moça do aeroporto não mandou mensagem e nem ligou. O pior de tudo é que nem sei o nome dela, se soubesse a encontraria com facilidade.
Mesmo assim, comecei a procurar por traços faciais. Tentei fazer um desenho de seu rosto, nunca quis tanto alguma coisa. Eli ouve meus membros todos os dias.

Estou servindo no Mato Grosso do Sul, em Campo Grande. Aqui é tudo muito bonito e cercado de vegetações.
O lugar é bem tranquilo, minha vida está bem calma e o trabalho fluindo.

Tenho sonhado com a Starbucks, apelido que dei para a moça do aeroporto, já que ela admirava tanto a lanchonete.
Deito pensando nela e levanto pensando nela. Me apaixonei a primeira vista e nem sei o nome da mulher que mexeu com tudo dentro de mim. Aqueles cabelos marrons dourados e aqueles pares de olhos azuis, me deixaram sem defesa.
Pelo jeito, vai levar anos para eu encontrá-la.
E se ela não ligou por não querer? Acho que ela só pediu meu contato por gentileza. Fiquei pensando... Já tinha um louco a assediando.
Sacudi a cabeça afastando os pensamentos.
Prefiro acreditar que ela perdeu o papel com o contato.

Já se passaram dois anos desde que cheguei aqui no Brasil. Já estou com trinta anos e solteiro, acho que foi de tanto zoar meu meio irmão De La Cruz, estou sendo punido.
Agora entendo o que é ser casado com o serviço.
Não tenho cabeça para mais nada, a não ser pensar na Starbucks.

Chegou uma notificação no quartel que precisariam nos remanejar para alguns quartéis. Como eu não tenho família por aqui mesmo, decidi ir para outro estado. Vou sentir muita saudade dos meninos, mas a maioria vão comigo.

Arrumamos as malas e fomos para o local de embarque. Deixei meus carros no quartel.
Tenente Eli foi comigo para o Rio de Janeiro. Alguns soldados foram promovidos e remanejados comigo, para minha indignação Vanessa também foi transferida para o mesmo local que eu.

Chegamos no Rio de Janeiro, o local parece ser mais agitado.
Arrumaram uma casa dentro do quartel para mim, mas planejo comprar uma. Gostei muito do lugar.

Os dias foram se passando, Vanessa está cada dia mais indiscreta. Eli vive me zoando.
Não gosto de pessoas que gostam de atenção para si, sou muito reservado.

Com seis meses no Rio de Janeiro sofri um pequeno acidente. Um soldado esqueceu a pistola engatilhada, quando foi pegar a arma ela disparou. Ia pegar em cheio em Eli, o local que acertaria ia ser letal, ele estava sentado o tiro ia pegar em sua testa.
Consegui pensar rápido e entrei na frente dele.
O tiro pegou na minha perna e se alojou no meu fêmur.

Fiz a cirurgia e tive que ficar de repouso. Vou ganhar uns dias de férias em casa.
Eu já tinha comprado uma casa, decidi ficar nela, livre de todo agitação do quartel.
Aproveitaria para procurar a Starbucks, vou estudar os rostos mais um pouco. Já se passaram dois anos que a encontrei naquele aeroporto.

Talvez ela já tenha até arrumado um compromisso  com alguém e eu aqui me apegando a única lembrança que tenho.
Na minha cabeça, tudo vai dar certo quando a reencontrar. Tomara que seja assim, tenho que me preparar para as frustrações também.

Raphael James Chevalier - Triologia Fake Love 3° Onde histórias criam vida. Descubra agora