Mentiras - VegasPete

48 - Venice

O amor tem entre suas entrelinhas cuidados dos quais você não consegue entender, mas que te impulsiona.

Ele é um sentimento inovador que precisa ser regado constantemente, tal como um cultivo eterno.

E eu não me refiro apenas a sua forma romântica.

As vezes tudo aquilo que parece estar diante dos seus olhos não é visível para quem você direciona o se olhar.

Diante de tanta dor, como é possível doar amor?

Para quem não o conheceu, é realmente possível senti-lo ou reconhecê-lo?

Tais questionamentos têm rondado minha mente desde que a presença de Vegas marcou-se como intrusa em minha mente após sua chegada tão conturbada, como vocês bem sabem.

Entre a bagunça das suas próprias ações desajeitadas sua inocência soa-me tal como música, daquelas poéticas que te deixam vários questionamentos.

Eu nunca vivi o amor como descrito pelas pessoas ou em livros românticos. Na verdade, talvez eu o desconheça em muitos de seus aspectos e até chegue a temê-lo.

Eu sei que vivi uma falsa paixão onde fui o único a se iludir. Estou ciente de que tal ficção não surgiu apenas do que estava diante daquele contexto, mas de toda a zona de conforto do qual eu achei que estava entrando pela primeira vez na vida.

Mais uma mentira.

Quando mamãe morreu eu achei que poderia me libertar da prisão que adentrei graças ao medo dela descobrir sobre minha sexualidade e diante do primeiro "amor" me permiti conhecer Tawan.

Não posso por completo, chamar o que tivemos de mentira, afinal eu cheguei a sentir algo, mas também não posso ousar chamar de paixão. 

Eu estava frágil, de luto e sentindo "liberdade", mas tudo resultou em minha própria prisão, que irônico, não acham? 

Devo ressaltar que minha vida toda é rodeada de ironias, agora por exemplo, fiz de tudo para afastar o Vegas e sinto receio apenas por cogitar sua partida.

De volta ao verme, não sinto nada em relação a ele, no máximo desprezo e claro, desejo de vingança. Mas os traumas deixados por seus atos cruéis ainda estão vívidos nitidamente em meu cotidiano.

Confesso que foi doloroso rejeitar o algodão doce do Vegas, difícil com aqueles olhos esperançosos encarando os meus, mas é inevitável. Acaba sendo mais forte do que eu, meu corpo paralisa e o medo vem a tona.

Eu já estive bem mais sensível quanto a isso, mas agora... Olhando para Vegas deitado sobre meu peito já não dói com tanta intensidade quanto antes. Claro, não significa que não haja mais tamanha dor.

Desde que Vegas chegou ele acaba sendo meu retorno dentro do caos denominado minha vida.

Encarando seu rosto que descansa de forma serena, eu lembro de todas as vezes em que fui puxado para ele.

É estranho como foi "fácil" ser atraído por seu caos.

Vegas é um belo caos.

Muito bonito.

Ele é realmente lindo.

Dentre suas entrelinhas eu vejo o quanto é atrapalhado e gentil, a forma bonita como suas belas emoções dançam com sua bagagem pesada.

Seus sentimentos puros poderiam vir da sua inocência? 

Ou seria da sua falta de memória?

Se você souber da verdade, vai mudar?