Capítulo 5

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Perder era uma sensação nova

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Perder era uma sensação nova. Inexplicável. Ashton odiava. E a perda vinha com a verdade. Era estranha a maneira como seu corpo definhou depressa no seu quarto amarelo, e como os tons perderam o brilho que tanto amava. Não havia mais diversão ao assistir televisão, fazer xícaras bonitas ou brincar com seus ursos de pelúcia.

Sozinha naquele quarto pensou em como seria seus verdadeiros pais. Aqueles que a largaram sem querer pensar a respeito dos seus sentimentos. Ela já tinha ouvido falar de crianças adotadas, mas todas pareciam ser rebeldes e incompreendidas. Ash nunca se sentia daquela maneira. Talvez porque nunca soube da terrível verdade, então tudo podia mudar.

Não conseguiu ir para a escola naquela semana, porque sentia vergonha de um passado que mal lembrava. As crianças certamente a julgaria, ainda que não houvesse qualquer problema nela, no entanto, Joe havia dito que ela fora jogada fora.

Tentou encontrar musicas que refletissem sua dor. Ouviu letras que não chegavam perto da tristeza crescente. Ash sentia-se traída por seus próprios familiares.

Sua pequena e frágil mente não compreendia a dimensão da situação, então fazia parecer fácil ter uma conversa sobre. A verdade era que ela não suportaria, sendo dito em palavras doces ou ásperas, ainda sairia do recinto magoada.

Travis havia encontrado Ash. Dentro de um latão de lixo em algum lugar da cidade. O resto da história não fazia diferença, porque ela ganhou um nome e seu amor. Aquilo deveria ser o suficiente, mas ela continuava triste dentro do seu mundo feliz.

— Ash?

A voz de sua avó fez com que erguesse o olhar abatido até a sombra pequena que se movia com lentidão. Sua nonna não era mais a mesma. Em semanas ela foi se perdendo. Era difícil enxergar sua fraqueza quando a via todos os dias, porém suas idas e vindas irregulares deu a Ash uma visão mais ampla.

Um resfriado não duraria tanto, porque Ashton esteve de cama um dia, e uma injeção foi o suficiente para se sentir parcialmente melhor. O que sua nonna tinha era mais sombrio e persistente, provavelmente tão ruim quanto a catapora que Travis adquiriu depois de beijar uma escoteira.

— Ainda sou sua neta? – perguntou com a voz abalada, incapaz de sair do canto escuro em que lhe impôs.

— Você sempre será minha netinha linda.

Ashton Grainge não havia sido esperada na família Kelce, porém existia o desejo de terem uma menininha gentil e engraçada. Ela se encaixou perfeitamente entre os seus, porque ela foi destinada a aquele lar, assim como as nuvens foram feitas para o céu. Não tinha importância como ocorreu, as circunstâncias para a sua chegada ou quais eram os nomes das pessoas que a deixaram para trás.

No fim ela era uma Kelce, e assim seria até o fim de sua vida.

— As pessoas me odeiam, vovó. – fungou sentindo as mãos gentis por seu longo cabelo – Mas eu não fiz nada de errado.

— O desconhecido assusta, até mesmo nos assusta. Não os culpe por ter mentes tão minúsculas, Ash, você é maior que todos eles. Basta acreditar em si mesma.

— Joe me odeia.

— Ele não te odiará pra sempre, sequer conhece tal sentimento hediondo. Talvez um dia, ele te surpreenda.

Ashton abraçou a avó, sentindo-se revigorada por palavras tão sábias e amorosas.

Ela estava certa. A infelicidade não durava para sempre, e a verdade assustava mentes minúsculas, bastava apenas enfrentar as consequências tão bem quanto os irmãos, porque ela era uma Kelce.

O primeiro ano naquela cidade fora terrível.

Ela teve o aniversário menos divertido de todos. Não conseguiu ter amigos. Jason se foi para a faculdade. E no último dia do ano, sua avó não resistiu.

Ashton sentou-se no sofá da sala com seus nove anos de idade sem compreender onde errou. Um tsunami havia passado em sua família, e ela só conseguia pensar no carma. O que ela entendia sobre carma? Uma criança não deveria ter pensamentos tão terríveis sobre atitudes que estava além da sua compreensão.

Ela nunca foi uma menina má.

— Vovó não ficaria feliz com sua tristeza. – Travis sussurrou para a irmã, segurando as mãos frias e molhadas – Ela estará te esperando no céu, mas enquanto esse dia não chega, só precisará olhar para as estrelas.

— E ela me ouvirá? Isso não é uma mentira?

— Nós não mentimos, Ash, apenas camuflamos uma verdade que não faz diferença em nossa família. Você é a minha irmã, e isso basta.

— Eu espero que esteja certo.

— Quando foi que você me viu errar? – sorriu de ladino lhe empurrando com o ombro, vendo-a sorrir minimamente – Não posso lhe contar, mas vovó deixou para você o maior de seus presentes.

— Qual? – arregalou os olhos.

— A chance de realizar seus sonhos. Ela deixou uma boa quantia no banco para que você se formasse na faculdade que quisesse, até se for em outro país!

— Mas e vocês?

— Nós temos o futebol, e você terá um sonho maior que o nosso.

Ashton aceitou aquela proposta, por mais impossível que parecesse.

Ela teria um sonho maior que a NFL.

Maior que todos os grandes jogadores que entravam em campo.

Só precisava descobrir qual era.

Ashton recebeu mais que uma grande quantia, como também todos os itens do ateliê da avó. Seu pai construiu um lugar bonito para que ela pudesse criar lindas esculturas, ou apenas vasos tortos para sua mãe. As paredes foram pintadas de amarela por ela e Travis. A mudança lhe encheu de esperança, e por um instante se imaginou sendo alta igual a Jason e impressionando as pessoas com sua arte estranha.

Joe a esteve observando do quintal, com seus trajes de super-herói e olhos azuis faiscantes. Ele era bonito na felicidade e na ira. Não houve qualquer palavra gentil durante o funeral, sequer compareceu, diferente de seus pais. Ash considerou sua atitude imperdoável.

Ela ainda sonhava em ter grandes amigos, porém todos lhe viraram as costas no seu pior momento, por essa razão Ashton trancou-se no seu lugar seguro e fez valer a pena cada dólar dado por sua nonna. Ela sonharia tão alto quanto os irmãos, e realizaria seus sonhos. Faria questão de mostrar a Joe Burrow que o único perdedor era ele mesmo. 

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