Melissa:
A manhã estava silenciosa, mas dentro de mim, o caos continuava. Enquanto colocava roupas na mala aberta, minhas mãos se moviam automaticamente, mas minha mente estava longe, presa à noite anterior. A festa na casa do Sainz tinha tudo para ser uma distração, mas virou um pesadelo. Em vez de me divertir, eu só conseguia pensar na foto que vi: Pique se beijando com outra mulher em Punta del Este. A imagem estava gravada na minha mente, e cada vez que piscava, ela reaparecia como um lembrete cruel.Suspirei, tentando me concentrar na tarefa diante de mim. Arrumar as malas, e me preparar para a viagem de volta ao Brasil. Mas cada peça de roupa que jogava na mala parecia tão insignificante perto do turbilhão de emoções que eu estava sentindo.
Então, ouvi uma batida suave na porta. Quando levantei o olhar, vi minha mãe, dona Farah, entrando com um sorriso tímido e um olhar distante, carregando algo nas mãos. Ela se aproximou, sentou-se ao meu lado no chão, e eu pude ver que o que ela carregava não era apenas qualquer peça de roupa.
— Melissa, eu estava mexendo nas coisas do seu pai e encontrei isso. Achei que deveria ser seu — ela disse, segurando com cuidado uma camiseta verde desbotada do Palmeiras, da temporada 17/18. Aquela camiseta tinha sido usada pelo meu pai, Edgar, no dia mais importante da minha vida: o dia em que eu assinei meu primeiro contrato profissional com o time feminino do Palmeiras.
Peguei a camiseta com as mãos trêmulas, sentindo o peso emocional daquele momento. A camiseta estava gasta, com o tecido macio de tanto uso, mas ainda assim era como se carregasse a presença do meu pai, como se ele estivesse ali, comigo. O cheiro dele parecia pairar no ar.
— Mãe... — murmurei, engolindo o nó na garganta enquanto segurava a peça de roupa.
Minha mãe se aproximou mais, colocando uma mão suave no meu ombro. Seus olhos estavam cheios de uma saudade silenciosa, mas também de orgulho.
— Você sabe, filha, que cada vez que eu vejo você jogar, eu vejo o seu pai. — Ela sorriu, aquele sorriso nostálgico que só ela conseguia dar. — Não é só no seu estilo de jogar, é em tudo. Na sua determinação, na sua coragem. Até na sua falta de paciência. Vocês dois sempre foram barraqueiros ao extremo. — ela riu suavemente — prontos para enfrentar quem quer que fosse, mas sempre educados, debochados quando necessário. Ele era exatamente assim.
Eu ri, mesmo com as lágrimas ameaçando cair. Sabia que era verdade. Não herdei só o talento dele para o futebol, herdei também a personalidade explosiva, a vontade de vencer e, claro, o temperamento forte.
— E sabe de uma coisa? Você também herdou a beleza dele. — Ela me olhou com um brilho travesso nos olhos. — Seu pai chamava atenção onde quer que fosse. Não tinha como passar despercebido, e você é igual. Isso me causava um pouquinho de ciúmes na época, e às vezes, ainda causa.
Eu a olhei surpresa, e não pude evitar um riso.
— Tá com ciúmes de mim agora, mãe? — brinquei, tentando quebrar a tensão no ar.
Ela riu junto comigo e balançou a cabeça.
— Talvez um pouquinho. Mas não é fácil competir com a beleza do seu pai... e agora você puxou a ele, tanto no jeito, quanto no visual. Você sempre atrai olhares, igual a ele. — Ela me deu um tapinha no braço, rindo.
Aquele momento de descontração era exatamente o que eu precisava. Mas logo, o tom da conversa mudou novamente. Minha mãe puxou algo mais do bolso do casaco, e a expressão dela ficou séria, mas suave.
— Tem mais uma coisa, Melissa. - ela disse, sua voz mais baixa. — Seu pai me pediu para te entregar isso no leito de morte dele. Ele sabia que esse dia chegaria, e queria que fosse no momento certo.
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Meu estresse preferido
FanfictionJogam no mesmo clube, personalidades igualzinhas, mas os santos não se batem por nada nesse mundo. Melissa e Piquerez, duas pessoas que não se dão bem de jeito nenhum. Motivos que fizeram nascer esse desentendimentos? Até hoje ninguém sabe, é um mis...