Visita inesperada

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Dois dias depois...
Melissa:
Dois dias se passaram desde a conversa no grupo. Mas, apesar do apoio dos meus amigos, o que Lívia falou sobre a Clara ainda ecoava na minha mente. Não saía da minha cabeça a ideia de que essa desgraçada teve a audácia de arrastar a Mancha Verde e o time feminino do Palmeiras na lama. Era um insulto que eu não podia deixar passar.

Aquela manhã em Londres estava fria e úmida, como quase todas desde que cheguei. Dois meses longe de casa, sem muitas pessoas por perto além dos troféus conquistados. O Chelsea tinha me contratado como uma promessa para dar gás ao time, mas a recepção das meninas nunca foi das melhores. Entre olhares atravessados e cochichos, a capitã Millie Bright liderava a tropa que parecia não me suportar. E honestamente? Eu também não fazia questão de ser a queridinha delas.

Levantei da cama antes do despertador tocar. O treino da manhã seria puxado, mas eu sabia que o pior viria depois. Com mais um treino à tarde, as horas se arrastariam, e a única coisa que eu podia fazer entre eles era gastar minha raiva e frustração na academia. Me vesti rápido, calça legging, top, e um casaco pesado para me proteger do frio cortante.

O primeiro treino passou sem grandes novidades, e como já era de costume, nenhuma das meninas fez questão de trocar uma palavra comigo. Estavam ocupadas demais em seus próprios círculos para lembrar que eu existia. Depois do apito final, fui direto para a academia.

Levantar peso era meu jeito de esfriar a cabeça. A barra fria nas mãos, o som dos halteres batendo no chão, a dor gostosa do músculo queimando... tudo isso era melhor que qualquer conversa fiada. Eu estava sozinha ali há mais de uma hora, fazendo séries e mais séries, quando ouvi o som da porta se abrindo.

Levantei a cabeça e vi Millie entrando em silêncio, seguida por todo o resto das meninas. Por um momento, achei que era algum tipo de armadilha. Um bando de jogadoras que nunca me deram um pingo de atenção agora surgia ali, juntas e com a capitã à frente.

Meus instintos gritaram alerta, mas eu não ia demonstrar fraqueza. Puxei o peso para o último movimento, coloquei a barra de volta no suporte e me virei com um sorriso sarcástico.

— Bom, bom, o que eu fiz para merecer essa honrosa visita? — falei, limpando o suor da testa. — Vieram me fazer companhia ou é para me pegar na porrada?

Millie cruzou os braços, seria, mas não parecia irritada.

— Não, nada disso. Não estamos aqui para brigar, Melissa.

— Ah, ótimo. — Abri um sorriso largo, debochado. — Porque, olha, eu nem tinha pensado isso.

Ela revirou os olhos, mas não parecia à vontade.

— A gente veio conversar com você, só isso.

— Conversar? — Eu ri. — Agora fiquei curiosa. O que tem pra me dizer?

Millie suspirou e deu um passo à frente, ainda com aquele ar meio rígido.

— Olha, Melissa... nesses quase dois meses que você está aqui, você mostrou que merece o respeito de todas nós.

A surpresa bateu tão forte que eu quase ri de novo, mas me contive.

— Espera... você está pedindo desculpas? — perguntei, tentando segurar o riso.

Ela assentiu, séria.

— Sim. Em nome do time todo. A gente foi dura com você no começo, mas reconhecemos que você tem sido incrível. E... eu quero pedir desculpas por isso.

Eu pisquei, confusa. Era estranho ver Millie daquele jeito, quase humilde. Olhei em volta e vi as outras meninas balançando a cabeça, como se concordassem com cada palavra da capitã.

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